segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

O PRIMEIRO GOLE



Cordel baseado numa história que aconteceu entre os anos de 2005 e 2006. Um grande amigo que conheci nos anos 70 nas minhas andanças na Vila do IPSEP é o protagonista do assunto que é narrado no folheto

Allan Sales

I
Vou contar um história
Que aconteceu comigo
Eu parara de beber
Livrei-me desse perigo
Com dois anos sem bebida
Diferença em minha vida
Reencontrei um amigo
II
Agora tudo lhes digo
Eu com ele conversei
Relembrei dos velhos tempos
Quando o amigo eu achei
Contei da sobriedade
Pra ele uma novidade
Assim eu me apresentei
III
Igualmente me espantei
Quando ele me falou
Que fazia o mesmo tempo
Que a cana ele largou
A vida de bebedeira
E toda essa desgraceira
Que sua vida ferrou
IV
Da mulher ele largou
Vivia então sozinho
Tão longe de sua filha
Por quem nutria carinho
Agora sem biritar
Reconstruir-se e andar
Palmilhar noutro caminho
V
Ouvi seu causo todinho
Tive identificação
Nós trocamos telefones
Pra futura situação
De encontrar novamente
Aquele cabra decente
Na verdade um amigão
VI
Marcamos assim então
Um dia jogar xadrez
Ele no jogo um craque
A sua fama assim fez
E assim nos despedimos
E nosso rumo seguimos
Nosso encontro se desfez
VII
Num dia eu era freguês
Num boteco da cidade
Bebendo uma mineral
Pra sede a saciedade
Quando alguém me abraça
Era ele o boa praça
Celebrando a amizade
VIII
Veja que temeridade
Estava um farrapo humano
Com catinga de cachaça
Já fazia quase um ano
Eu ali bem assustado
Ao vê-lo naquele estado
Vivendo naquele plano
IX
Perguntei para meu mano
Como foi que aconteceu
Ele sentou numa mesa
Contou-me o que sucedeu
Depois de ter-me encontrado
Ficou ele enamorado
E uma moça acolheu
X
Seu sentimento cresceu
Namoraram com razão
Foi conhecer a família
De sua nova paixão
E ali bem acolhido
Nessa paixão envolvido
Foi grande a empolgação
XI
No ano novo então
Com o povo dela estava
Ele junto dessa noiva
Seu coração exultava
Farta mesa com comida
Mas também muita bebida
Naquela casa se achava
XII
Ele então relaxava
Quando o ano floresceu
Estouram o champanhe
E todo mundo bebeu
A noiva não viu problema
Deu-lhe a taça sem dilema
E o champanhe ofereceu
XIII
Ele assim se esqueceu
Das lições do tratamento
Evitar primeiro gole
O início do tormento
Ali entusiasmado
Sentiu-se assim relaxado
Bebeu naquele momento
XIV
E assim sem ter intento
Sua compulsão agiu
Sua noiva ali vendo
Transformação que surgiu
Daquele cabra decente
Um bebum intransigente
Dele então eclodiu
XV
Na noite que se seguiu
Ele entornou um pileque
Ela ali assustada
E não pôde dar um breque
Viu o seu lado sombrio
De cachaceiro sem brio
Bem folgado e bem moleque
XVI
De cana bebeu um leque
Bebeu cervejas que via
Tomou até um conhaque
E tudo que aparecia
A moça desencantou-se
O cabra descontrolou-se
E pra seu vício volvia
XVII
O romance perecia
Ela dele se apartou
Mais motivo e desespero
Na sua vida chegou
Mais e mais um cachaceiro
Ele entregou-se inteiro
A um vício que o dominou
XVIII
Assim ele me contou
Entornando uma cachaça
Enchendo o saco da gente
Assim sua mente embaça
Ele de volta ao vício
Largando do sacrifício
De abandonar a manguaça
XIX
Me comoveu tal desgraça
Ao ver o meu companheiro
Naquele estado postado
Nos costumes de um caneiro
Propus então ajudar
Ele não quis escutar
Preferiu o tal salseiro
XX
Assim o gole primeiro
O tirou da consciência
Uma lição que aprendi
Com vida e a Ciência
Um amigo que soçobrou
Seu caso me reforçou
Pra seguir na abstinência.

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