terça-feira, 27 de maio de 2008

O bom forró tem Lirismo Dipensa essa putaria



I
Concordo com meu amigo
Sobre as coisas do forró
Por isso dou no gogó
Ponho lixo no jazigo
Ouvir isso não consigo
Forró com pornografia
No bom gosto a sodomia
Em nome do modernismo
O bom forró tem lirismo
Dispensa essa putaria
II
Esse show da putanhagem
Exibindo letra torta
Onde a qualidade é morta
No reino da fuleiragem
Apelar pra sacanagem
De vulgar apologia
Onde pobre é melodia
Carece de romantismo
O bom forró tem lirismo
Dispensa essa putaria
III
Falar da raparigagem
Das brigas de cabaré
Depreciar a mulher
Na mídia só vassalagem
É tosca sua mensagem
Que toca de noite e dia
Dá até uma agonia
Quem apóia tem cinismo
O bom forró tem lirismo
Dispensa essa putaria
IV
Ouço o Trio Nordestino
Com Petrúcio e Maciel
Acioly o menestrel
Israel um paladino
Azulão forró tão fino
Arlindo na mesma via
Irah linda cotovia
À luz do regionalismo
O bom forró tem lirismo
Dispensa essa putaria

V
Xico Bizerra o poeta
Arlindo Moita um danado
Joquinha tão inspirado
Dominguinhos nessa meta
Camarão o grande esteta
Mas tal lixo contagia
Gonzaga reprovaria
Não é falso moralismo
O bom forró tem lirismo
Dispensa essa putaria
VI
Marcolino no passado
Outros vates no presente
O Jackson foi reluzente
E hoje um lixo safado
Anselmo foi exaltado
Detonou a vil orgia
Que invade a periferia
Parece mau caratismo
O bom forró tem lirismo
Dispensa essa putaria
VII
E tome avacalhação
Vulgaridades demais
Compositor incapaz
De fazer boa canção
Barrar essa invasão
Tosca radiofonia
Parece patifaria
Torto comercialismo
O bom forró tem lirismo
Dispensa essa putaria
VIII
Anselmo Alves na luta
Falou e teve coragem
Mau gosto que tem voragem
Empurram coisa fajuta
O bom forró que se escuta
Possui a boa energia
De Seu Luiz nobre cria
Com todo virtuosismo
O bom forró tem lirismo
Dispensa essa putaria
IX
Bom forró Gonzagueado
Tem valor é cultural
Mas forró comercial
Chamado de estilizado
Escroto e avacalhado
Distante da poesia
Parece ter serventia
De avacalha o erotismo
O bom forró tem lirismo
Dispensa essa putaria
X
A figura feminina
Ali é vulgarizada
Exibida e arreganhada
Numa forma bem suína
A cultura nordestina
Execra essa latumia
O bom forró tem magia
Não tem porco chauvinismo
O bom forró tem lirismo
Dispensa essa putaria
XI
Carmélia que foi rainha
E Seu Lua foi o rei
E até onde eu sei
Muitos seguem nesta linha
Cilene é uma danadinha
Com Santana nesta guia
Camarão com harmonia
Afirmando não sofismo
O bom forró tem lirismo
Dispensa essa putaria
XII
Seu juiz homem de bem
Um guardião da decência
Proteja essa adolescência
Só nossa lei os detém
Avacalhar não convém
Pra juventude uma fria
Pois o guri e a guria
Deseducam com machismo
O bom forró tem lirismo
Dispensa essa putaria
XIII
Quero forró verdadeiro
Aquele que tem sanfona
Não esse forró da zona
Tão ideal pro puteiro
Quero um forró bem brejeiro
Com sanfona e companhia
Com um verso de alforria
Esse é nosso idealismo
O bom forró tem lirismo
Dispensa essa putaria
XIV
Somente dando um despacho
Um ebó na encruzilhada
Faz sumir essa cambada
E todo esse esculacho
O que brota desse tacho
É mesmo anomalia
Muitos ouvem mas quem chia?
Será medo ou conformismo?
O bom forró tem lirismo
Dispensa essa putaria
XV
Forró moderno se fala
Repete no mesmo tema
Como é pobre de poema
Nosso bom senso abala
Consente aqui quem cala
Ante essa coisa sombria
Contratam com alegria
Pras farras do populismo
O bom forró tem lirismo
Dispensa essa putaria
XVI
Quero forró de raízes
Que se chama pé de serra
Que tem a cara da terra
Nos variados matizes
Sem desancar meretrizes
Sem descambar pra porfia
Com tal vulgar modismo
O bom forró tem lirismo
Dispensa essa putaria.

CANTORIA DECLAMATÓRIA EM BELMONTE E SERRA TALHADA EM MAIO DE 2008.




Nas batalhas que venho tendo desde 1985, quando resolvi entrar nas estradas dos palcos da vida, consigo dividir as pessoas em três grupos distintos: as pessoas predadoras, as pessoas indiferentes e as pessoas que fazem a diferença. Cícero Moraes da cidade de São José do Belmonte é uma dessas criaturas que fazem a diferença. Filho de um sargento reformado de nossa PM e de uma professora, estudou no Recife sendo formado em farmácia pela UFPE, voltou ao torrão natal sertanejo onde trabalha na prefeitura de sua cidade e numa farmácia de manipulação em Serra Talhada. Nosso amigo é um entusiasta da cultura nordestina de raízes, circula no meio do forró de pé de serra, da cantoria de repentistas, das vaquejadas, sendo ele mesmo um poeta fazedor de versos e muitas glosas com muita desenvoltura.

Aqui no Recife nos conhecemos nas pelejas poéticas e musicais do Mercado da Madalena, assim como nas apresentações da UNICORDEL em que ele sempre aparecia para prestigiar e subir no palco para declamar com grande desenvoltura a peças de poesia dos nossos vates sertanejos. Um dia desses de 2007, pelo MSN, ele me fala da sua vontade de promover em sua cidade e em Serra Talhada algo similar às coisas que eu vinha fazendo no Recife. No caso tratava-se de CANTORIA DECLAMATÓRIA, um recital poético musical com repente, literatura de cordel e poesia matuta que eu Adiel Luna, Chico Pedrosa e mais outros poetas e músicos havíamos empreendido por duas vezes na Casa da Cultura, órgão da FUNDARPE. Ele me falava de sua preocupação com o avanço avassalador das coisas da mídia massificadora em sua região, além disso, muita indiferença, principalmente por parte das pessoas mais jovens, com relação às expressões de raízes de nossa cultura.

Cícero me falava de sua pouca familiaridade em produzir eventos desta natureza, eu o encorajei a buscar as pessoas da cidade que eram entusiastas de nossas expressões culturais e levasse até elas nosso projeto que formatei junto com ele, levando em conta a realidade local. Mandei pra ele o projeto com tudo que faz parte de documento desta natureza, com ele adicionando as particularidades da realidade do sertão. Ele procurou políticos, empresários, artistas em Belmonte e Serra Talhada e mostrou a todos sua proposta. As coisas foram tomando corpo de modo que durante os festejos da Cavalgada da Pedra do Reino ele conseguiu finalmente encaixar nosso recital na programação dos festejos, assim como agendou em Serra Talhada uma apresentação num teatro pertencente à Casa da Cultura desta cidade. Deu uma trabalheira enorme com avanços e recuos, tirando leite das pedras para ele engendrar os meios necessários para levar a mim, Adiel Luna e Chico Pedrosa. Palco, um repentista para cantar em dupla com Adiel, passagens, hotel, alimentação e cachês. Muitos foram generosos e puseram recursos de boa monta, outros nem tanto, mas, no somatório, batemos o martelo e agendamos duas apresentações: uma em 23 e maio às 20 horas no palco da festa da cavalgada, outra no teatro em Serra Talhada no dia 24.

Viajamos eu Adiel um dia antes, chegando na quinta dia 22 para realizar nosso roteiro de comum acordo, assim como entrosar Adiel com o repentista José Oliveira, um excelente poeta repentista da cidade que entrou em enorme sintonia conosco e agregou um enorme valor à nossa proposta. Idéia bem simples, três blocos em que repente, poesia matuta, música e cordel se revezavam nessa ordem, isso em três rodadas, numa apresentação de duas horas no palco que ficou na principal praça da cidade.

Fomos recebidos em Belmonte e Serra com muita hospitalidade com as pessoas de ambas cidades sempre gentis e atenciosas. Os meios necessários para uma boa realização estiveram à disposição da gente, assim como nos foi possível convidar vários talentos locais para pisar no palco conosco. O jovem sanfoneiro Jackson que tocou comigo peças do cancioneiro nordestino, o poeta cordelista Kerlle de Magalhães em Belmonte. Em Serra Valter Marcolino , o locutor Márcio, o poeta Renan Menezes de São José do Egito, o declamador Jadson e Kerlle que chegou no palco, além do próprio Cícero Moraes que declamou em Belmonte.
Foram três dias de vivências sertanejas nas quais plantamos sementes de parcerias e cumplicidades com os amigos que fizemos nas duas cidades para as quais retornamos em breve já que fomos convidados para ser atração numa festa cultural em Serra Talhada em julho. Salve Cícero Moraes que se revelou um eficiente empreendedor cultural.