terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

O Nordeste que eu prefiro

(I)
Vou falar sem dizer mote
Meu pacato cidadão
As virtudes deste dote
Da palavra inspiração
Pra mostrar e ter certeza
Não vem só da natureza
As misérias do sertão
(II)
Quando a chuva molha a terra
Não fica tão diferente
O povo na mesma estrada
Vai sem terra sem semente
Se a seca mata o gado
Latifúndio é mais malvado
Mata o futuro da gente
(III)
Pernambuco e Paraíba
Alagoas Ceará
Rio Grande lá no Norte
Com Sergipe no lugar
Maranhão também Bahia
Piauí na poesia
Cante lá que eu canto cá
(IV)
A indústria dessa seca
Um fantasma tão real
Esmolas de carros pipa
Povo arriba no geral
Quem não muda pro sudeste
Vai aqui servir à peste
Ser vaquinha do curral
(V)
Veja só que maravilha
Litoral que tem turismo
Tem gringo tarando gente
Eu falo sem moralismo
Turismo da putaria
Sem falar pedofilia
Que escondem com cinismo
(VI)
Em Natal em Fortaleza
Em Recife e Salvador
Maceió de lindas praias
De um sol abrasador
Gringo escroto da morrinha
Vem atrás de menininha
Sem vergonha sem pudor
(VII)
Até quando pessoal
Viveremos neste rumo
Se não tem agricultura
Muita gente planta “fumo”
Que a polícia queima e some
Mas depois de novo os “home”
Planta irriga com insumo
(VII)
São mazelas que eu falo
Mas não sou um pessimista
Nem tão pouco alienado
Nem um falso moralista
O Nordeste do presente
Que eu penso diferente
De que disso é avalista
(IX)
Onde está seu Padim Ciço
Com anjinhos lá no céu
Onde foi-se o compromisso
Só discursos no papel
Quer trabalho terra escola
Cidadão não quer esmola
Nem feitor nem coronel
(X)
Se eu prego no deserto
Falando pra minha gente
Se o verso é bom botado
Muitos acham insolente
Se o povo não se muda
Vai viver pedindo ajuda
Submisso e dependente
(XI)
Um nordeste mais irmão
Separar joio do trigo
Pode ter transposição
Que se faz sem ter perigo
São Francisco a integração
Mata a sede e irrigação
Eles falam eu não ligo
(XII)
Um Nordeste diferente
Falo num verso rimado
Sem curral de fazer voto
De eleger cabra safado
O Nordeste que eu prefiro
É o Nordeste de Delmiro
Que sonhou Celso Furtado


Baseado numa estrofe do Poeta e Engenheiro Fernando Arthur

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