quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Texto de repórter policial no calvário.




Estamos aqui na Judeia, num lugar conhecido com Calvário, onde um rapaz de 33 anos, chamado Jesus de Nazaré foi morto ao lado de mais dois elementos que segundo as pessoas praticavam furtos aqui na região.

Segundo populares, ele bebia e jantava com seus 12 amigos, quando um grupo de encapuzados, usando fardas do exército romano o levaram à força para seu chefe Pôncio Pilatos. Esse chefão, aliado de um grupo de extermínio chamado sacerdotes do templo, condenou o rapaz que foi bastante torturado e depois crucificado com requintes de crueldade.

Pelo que pudemos apurar, ele falava demais, dizia ser um tal de Messias filho do todo poderoso, meses antes, junto com um grupo de mais de 30 mil sem terra, apareceu com um carregamento de pães e peixes cuja origem disse ele que era milagre, que distribuiu com a multidão de famintos, também acusado de exercer ilegalmente a medicina curando alguns cegos e aleijados,dando prejuízo pras funerárias com sua mania de ressuscitar os mortos.

A sua companheira, dona Madalena , muito emocionada não quis falar conosco, assim com sua mãe dona Maria, uma santa mulher que passou mal sendo socorrida pelo SAMU. Aqui impera a lei do silêncio, tentei falar com um de seus amigos, o senhor Pedro que é pescador, mas seu Pedro, negou-se por três vezes falar que o conhecia.

ALLAN SALES

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Poema musicado de Allan Sales

É só libido
(Allan Sales)

Tu és a Eva que eu achei sem paraíso
Não foi preciso nem serpente e a danação
O meu castigo foi viver no teu perigo
Ser condenado ao fogo ardente da paixão

Se foi serpente que soprou desejo ardente
Que de repente começou sem ter final
Teu remelexo foi feitiço em minha mente
Me despertando num desejo de animal

Fui condenado à prisão desse desejo
E num lampejo eu me vi tão doido assim
Impregnado feito odor de percevejo
Tanto desejo que jogou todo pra mim

Não quer usar não me agite nesse ensejo
Quando te vejo quero ter na minha mão
Teu corpo ardente tu és Eva e és serpente
Que endoida a gente como endoidou Adão

Não é pecado nem é fruto proibido
É só libido como Freud assim falou
Mas Doutor Freud um judeu muito sabido
Ficou perdido ao pensar que te explicou

Tanta conversa pra fazer canção bonita
Que foi escrita como a gente assim bem quer
Tanto desejo de repente põe na fita
Palavra dita pra ganhar essa mulher

Conversa mole de poeta é esquisita
Mas é bendita pois poeta bota fé
Se faz de doida de difícil essa cabrita
Ela me agita mas não me faz de Zé Mané.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

O preso que aprendeu informática na prisão



I
Ele nasceu bem ferrado
O seu pai lá na cadeia
Ele no bucho da mãe
Na miséria muito feia
Ele desde pequenino
Azarado no destino
Desde então se aperreia
II
A vida dele foi peia
Foi menino na pobreza
Favelado como tantos
E com pouco pão na mesa
Foi crescendo na miséria
Virou alma deletéria
Revoltado com brabeza
III
Levado na correnteza
Virou pequeno ladrão
Dando bote em coletivo
Bem chapado bem doidão
Avião de traficante
Aprendiz de meliante
Armado de três oitão
IV
De menor já bandidão
Foi bater num juizado
Internado pela lei
Onde teve o aprendizado
Aprendeu ser perigoso
E solto foi criminoso
Muito safo e escolado
V
Era preso e libertado
Um iô iô na fundação
Sempre foi reincidente
Meliante e folgazão
Chegou a maioridade
Acabou-se a impunidade
Foi parar na detenção
VI
Pintou na televisão
Broncas de policial
De um tal de Cardinot*
Que mostrou o marginal
Estava com um trabuco
Parecia estar maluco
Etc. coisa e tal
VII
A pergunta natural
O que estava a fazer
Com aquele pau de fogo
Ele se pôs a dizer:
- Meu irmão vê se se toca
Comprei na “feira do troca”
Mas foi pra me defender
VIII
O repórter quis saber
Por que estava o folgado
Com grana e os celulares
E um monte de baseado
Ele disse:- eu queimo fumo
Isso é para meu consumo
Pois eu sou “aviciado”
IX
Disse:- doido tá ligado?
Eu vou para uma prisão
Mas depois quando sair
Viro o cavalo do cão
Vou descolar um “revolve”
Vou detonar os X-9 **
Tá ligado meu irmão?
X
Na cadeia o garotão
Aprendeu com assaltantes
No crime bem instruído
Por ladrões por traficantes
Cumprindo terço da pena
E de novo volta à cena
Para andar com meliantes
XI
Mas afoito do que antes
Juntou-se para assaltar
Foi virar ladrão de banco
Pra mais alto faturar
Não roubar mais mixaria
Resolveu naquele dia
Um grande banco roubar
XII
E depois de planejar
Com bando de grande porte
Resolver dar a botada
Na hora do carro forte
Dominaram vigilantes
Com berros ameaçantes
Mas ele não levou sorte
XIII
Fugiu num carro esporte
Com má sorte desgraçada
A polícia apareceu
Teve a sentença julgada
Foi cumprir sua sentença
Pois o crime não compensa
Dançou esse camarada
IV
Na cadeia enfadada
E sem nada pra fazer
Teve a oportunidade
Onde aprendeu a ler
Estudando e aprendendo
Mais sabido sempre lendo
Formou-se por merecer
XV
Informática foi ter
Num curso bem avançado
Por isso se interessou
Ficou especializado
O diretor do presídio
Um tal de Doutor Ovídio
Ficou entusiasmado
XVI
Ver um preso condenado
Aprender tal profissão
Um craque em computador
Com especialização
Escreveu para o juiz
Apressar a diretriz
Fazer sua progressão
XVII
E assim Mané João
A condicional ganhou
Foi comprar equipamentos
Com a grana que juntou
Ele preso e trabalhando
Uma grana foi juntando
Com isso se organizou
XVIII
Pra favela não voltou
Alugou um apartamento
Comprou logo um “lepitopi”
Que virou seu instrumento
Foi juntando um patrimônio
Fez até seu matrimônio
Na capela de um convento
IX
Virou pai de um rebento
Um menino bem formoso
Hoje é bem conhecido
Na TV ficou famoso
Ganhou fama mundial
Até Jornal Nacional
Está no noticioso
XX
Se não é mais perigoso
Sem pau de fogo na mão
Já não bate mais carteira
Nem em banco faz ação
Virou “hacker” essa mundiça
Manda grana pra Suíça
O mouse é seu três oitão


GLOSSÁRIO:
* Cardinot= Josley Cardinot, repórter policial do Recife.
** X-9= delator na linguagem usual dos bandidos.

Esse singelo cordel eu tive a ideia de fazer durante uma reunião da ONG ANDARARTE depois de uma sugestão de ação social proposta pela poetisa Cida Pedrosa em 12/06/09.

ALLAN SALES

sexta-feira, 8 de maio de 2009

ROMANCE DA BICHA CUBANA



TAL FOLHETO FOI FEITO EM CIMA DE UMA BRINCADEIRA QUE FIZ AO TELEFONE COM O MEU AMIGO ESCRITOR LUIZ BERTO COM O TÍTULO DE SUA OBRA MAIS FESTEJADA:"O ROMANCE DA BESTA FUBANA". DAÍ NASCEU ESTA SINGELA E JOCOSA HISTORINHA QUE VIROU FOLHETO DE CORDEL.

Ele foi um guerrilheiro
Lutou na revolução
Arretou-se com Fidel
Por causa de promoção
Arribando pra Miami
Esse foi o seu ditame
Viveu a transformação
(2)
Em Miami foi então
Trabalhar num estaleiro
Foi aí que conheceu
Um crioulo marinheiro
Que passou a assediá-lo
Pelejou foi enraba-lo
Na sala do timoneiro
(3)
Revelou-se por inteiro
Vocação pra ser baitola
Um negão americano
Que passou ele na rola
De Vitor virou Vitória
Essa é a sua estória
Torta que só a cebola
(4)
Mas não era bicha tola
Foi pra uma boate gay
Depois pôs um silicone
O que mais até não sei
Foi morar numa bocada
Numa barra bem pesada
Cheia de fora da lei
(5)
Cidadão no “Iú esse ei”
Era o baitola cubano
Bonequinha enfeitada
Tanto brilho e muito pano
Tinha ódio por Fidel
Quis assim ter o papel
Derrubar o seu tirano
(6)
Pois Vitória tinha um plano
De invadir a sua Cuba
Disfarçado de mulé
Tinha contas em Aruba
Matutou fazer guerrilha
Com as outras bibas da ilha
Quem sabe Fidel derruba
(7)
Tomou parte de suruba
Pra juntar muito dinheiro
Trabalhou pra traficante
Segurança de em puteiro
Não chegou a ser um astro
Tão famoso como o Castro
Que era o galo do terreiro
(8)
Leve lépido e fagueiro
E usando um modelito
Ao vestir de “drag queen”
Só faltava ter priquito
Passaporte deu-lhe a CIA
Disfarçado quem diria
Era um troço esquisito
(9)
Mas assim é que foi dito
Finalmente em Havana
Planejando um atentado
Contra seu Fidel bacana
Com a grana clandestina
E com fúria assassina
Na vingança mais tirana
(10)
Alugou uma cabana
Onde tudo planejava
Pra Fidel botar veneno
Ele via que não dava
Teve idéia no seu quengo
Pois Fidel bem mulherengo
A charada então matava
(11)
Um lugar que freqüentava
Fidel Castro comandante
Tratou de ir lá dançar
O seu plano num rompante
Ver Fidel e seduzi-lo
Para alcova atraí-lo
E mata-lo nesse instante
(12)
Com seu peito bem arfante
Na boate empregou-se
O seu show de dançarina
E pra tanto esforçou-se
Finalmente veio o dia
Que Fidel aparecia
Viu a “dona” e encantou-se
(13)
Comandante excitou-se
Quando viu formosa “dama”
E ficou de facho aceso
Quase que seu rum derrama
Decidiu dar uma bimbada
Nela tão mal arrumada
Arrastar ela pra cama
(14)
A vontade que se inflama
Foi com ela pra noitada
E na hora dois a sós
Viu de costas debruçada
Ao olhar pra seu traseiro
Lembrou-se de um companheiro
De guerrilha de jornada
(15)
Disse: Vitor camarada!
Essa bunda eu já conheço
Ô seu traidor safado
Isso assim eu não mereço
Vou mandar pro “paredón”
Pra tu ver o que é bom
Aqui faço e aconteço
(16)
Mas Vitória no começo
Desta louca falação
Com Fidel fitou nos olhos
Que arderam de paixão
Grande amor de um passado
Deram um beijo bem colado
Na maior atracação
(17)
Acabou-se a confusão
O amor venceu no fim
Desistiu de assassinar
E fazer um gesto ruim
E Fidel abafa o caso
Pois estava no atraso
Traçou ela num quartim
(18)
Eu termino história assim
Uma estória da goitana
Pois Fidel fudeu Vitória
Todos dias da semana
Saravá seu Luiz Berto
Veja que causo esperto
Dessa tal Bicha Cubana

quinta-feira, 7 de maio de 2009

O CABRA E AS CÓRNEAS DO TRAVECO



I
Ele era bom da vista
Mas ficou com catarata
Foi cegando foi cegando
Até que a visão empata
Ficou cego foi avante
À espera do transplante
Esperou sem ter bravata
II
A estória aqui relata
Eu lhes conto toda aqui
Arranjou um doador
Que morreu lá no Bongi
Faleceu atropelado
Era um rapaz turbinado
Um bonito travesti
III
As córneas da tal Lily
Era o nome boneca
Mandaram pra o Hospital
Geral lá da Muribeca
Chamaram o coitadinho
O danado do ceguinho
Que assim ganhou na loteca
IV
Um cirurgião careca
Que fez tal operação
Pôs as córneas da “menina”
Nos olhos do cidadão
Depois dessa cirurgia
Ex-cego com alegria
Da vista ficando são
V
Teve recuperação
Os olhos com curativo
Até aquilo sarar
Ansioso e apreensivo
Pois voltar a enxergar
Era como ele sonhar
Voltar a ser produtivo
VI
Ele era muito vivo
Esperou até tirar
O curativo dos olhos
Depois daquilo curar
Curativo é retirado
Ele então aliviado
Por voltar a enxergar
VII
Abrir o olho e olhar
Ver o mundo novamente
Mas teve um probleminha
Na córnea sobrevivente
Era córnea de bichinha
Em vida tão saidinha
Pecadora e insolente
VIII
Veja a coisa minha gente
Esse cabra assustado
Com as córneas da Lily
Ficou ele tão mudado
Era o maior esculacho
Quando pasava um macho
Ele olhava de lado
IX
Com o pescoço virado
Não parava de olhar
Ele antes tão machão
Não podia controlar
Era uma praga da córnea
De quem viveu na esbórnia
Só pra macho ele espiar
X
Não podia controlar
Aquele impulso da vista
Era um cabra muito macho
Com córnea de transformista
Era o maior vexame
Foi ele fazer exame
Com um psicanalista
XI
Era um bom analista
Arretado e freudiano
Ouviu todo seu relato
Com um respeito humano
Pôs ele na terapia
Mas isso não resolvia
Ele sofreu desengano
XII
Quase ferveu seu tutano
Sem achar a solução
Procurou um pai de santo
Que no meio da sessão
Baixou nele a “poderosa”
Com uma voz cavernosa
Pediu uma obrigação
XIII
Pra tu voltar ser machão
Tem que fazer ô boneco
Ficar na encruzilhada
Ir pra lá com um traveco
Cantar canção de Madona
Beijar na boca a bichona
E dar pra ela o “caneco”
XIV
Ele virou cacareco
Era macho até demais
Mas se livrar da quizumba
Resolveu correr atrás
Foi lá na Dantas Barreto
Chamou um traveco preto
E chavecou foi demais
XV
Chamou a “moça” o rapaz
Foram pra encruzilhada
Fez do jeito que mandou
Com sua calça arriada
Beijou a biba tão louca
Beijo de língua na boca
E depois a enrabada
XVI
A tremedeira danada
Ele então desmaiou
Um negão tão bem dotado
Quase ele se arrombou
Ficou num transe danado
Bom tempo desacordado
Até que então despertou
XVII
A quizumba ele curou
Pra macho não olhou mais
Mas sentiu diferente
E virou outro rapaz
Ficou do negão lembrando
Continuou se tratando
E diferente hoje faz
XVIII
Pôs silicones e tais
Hoje vive “batalhando”
Lily era zombeteira
Sacaneou lhe ferrando
Quem era bicha na vista
Virou total transformista
Pois acabou foi gostando

A história de Bastião o apostador



I
Bastião um cabra esperto
Era um grande apostador
Apostava em tudo mesmo
Era sempre um ganhador
Na cidade onde morava
Com todo mundo apostava
Nunca foi um perdedor
II
Malandro, um estupor
Vivia da trambicagem
Apostava em corrida
Em chuva em estiagem
Besta de quem se metia
Era mesmo numa fria
Embarcar nesta viagem
III
Era rei da malandragem
Enrolão no carteado
Sempre carta numa manga
E só jogava apostado
Muita gente se lascava
Quem com ele se juntava
Ficava liso e pebado
IV
E só andava bombado
Cheio e cordão de ouro
No cabelo brilhantina
Esperteza seu tesouro
Apostavam e perdiam
Com muita raiva diziam
Que arrancariam seu couro
V
Foi pipoco e muito estouro
Na cidade em que morava
Seu bozó bem viciado
Pois com ele que jogava
Pra lesar todos otários
Encaçapar seus salários
Nisso ele se fartava
VI
Sua fama aumentava
Mas muita raiva também
Todo mundo se ferrava
Bastião se dava bem
Alisou Mané padeiro
Severino funileiro
E Dedé do armazém
VII
E de vintém em vintém
Aumentando a farra sua
Aposta em briga de galo
Até em briga de rua
Faz tanta da sacanagem
Um monte de molecagem
Era o rei da falcatrua
VIII
Mostrava uma carne crua
Apostava de comer
Mergulhava num açude
Apostava pra valer
Mas levava um canudo
Enganando o tabacudo
Sabia como esconder
IX
Mas coisa foi ferver
Veio um novo delegado
Que soube da sua fama
E chamou pra um carteado
Aí o cabra lascou-se
O delegado arretou-se
Pois perdeu todo ordenado
X
Desta vez foi azarado
Terminou dando bobeira
Pois caiu um ás da manga
Na jogada derradeira
O delegado na hora
Prendeu Bastião na tora
Chamou o Cabo Teixeira
XI
Prenda aí esse porqueira
Arrebente esse safado
Bote ele no xadrez
Quero ver ele ferrado
Mas Tião com tanta grana
Arranjou logo um bacana
E sabido advogado
XII
Quando enfim foi libertado
Ninguém mais lhe deu cartaz
Foi morar noutra cidade
Mas a fama foi atrás
Na cidade bem vizinha
Essa peste essa morrinha
XIII
Um tal de Doutor Ferraz
Delegado bem valente
Levou ele nos costumes
Pois tapeou muita gente
Ele ali sem se assustar
Não tinham como provar
Que ele era um delinqüente
XIV
O delegado na frente
Disse pro Sebastião
Você pode enganar
Esse monte de cagão
Mais a mim tu não engana
Seu malandro seu sacana
Eu lhe meto na prisão
XV
Foi aí que Bastião
Falou pra autoridade
Eu aposto com o senhor
Com toda tranqüilidade
Que hemorróida o senhor tem
Aposto todo vintém
Se perder deixo a cidade
XVI
A voz da leviandade
Pro delegado falou
Pois topando essa aposta
Doutor Ferraz que ganhou
Ganhou grana do sabido
E ficou bem enxerido
Pois Bastião se ferrou
XVII
Bastião que se mandou
E Ferraz feliz da vida
Pois venceu o trambiqueiro
De grande folha corrida
Mas tocou seu telefone
Era o delegado Toni
Numa conversa comprida
XVIII
Pois Toni não deu guarida
Expulsou o rufião
Da cidade ali do lado
Onde teve a confusão
Passou pito em gente burra
Que come capim e zurra
Pra perder cada tostão
XIX
Perguntou pra ele então
Me responda por favor
Fiz aposta com o cabra
Está aqui esse estupor
Disse que fez uma aposta
Com teu fazedor de bosta
É verdade? Ou é caô?
XX
Tu tá doido meu senhor
Claro que uma aposta eu fiz
Ganhei grana numa boa
Alisei esse infeliz
Dez mil e quinhentos conto
Eu levei foi desse tonto
Vixe como estou feliz
XXI
Ô Ferraz então me diz
Perguntou Toni assustado
Ele examinou teu boga?
Botou dedo no danado?
E Ferraz disse que sim
- Olhou no meu boga assim
Foi por ele examinado
XXII
Toni gritou aloprado
Grande cabra besta és tu
Eu perdi minha fazenda
Com a boiada de zebu
Mais um milhão e duzentos
Apostei que esse nojento
Não bolinava em teu cu
XXIII
E foi o maior rebu
Toni desmoralizado
E Ferraz puto da vida
Teve seu cu bolinado
Tião hoje é alegria
É dono de loteria
Grande criador de gado
XXIV
O cordel por encerrado
Do poeta e trovador
Se tem besta tem sabido
Enganado e enganador
Neste mundo complicado
Que tem tanto abestalhado
Que mexe com apostador.

MALAQUIAS E A BONITONA



I
A sorte da formosura
Anda em tortas rodovias
Um cabra se nasce feio
Nem fazendo cirurgias
Feiúra de corpo e cara
Pouca gente se compara
A um tal Zé Malaquias
II
Filho de seu Zacarias
E Nena do Limoeiro
Desde os tempos de menino
Traquinando no terreiro
Tinha dois “oi” de coruja
Uma boca troncha e suja
Era vesgo por inteiro
III
O tempo passou ligeiro
E o Zé virou rapaz
Magro cheio de espinhas
Feio feito um satanás
Gago e malamanhado
E com todo predicado
Que a feiúra é capaz
IV
Mais de vinte ele faz
Sem arrumar namorada
Com dezoito foi na zona
Pra dar uma furunfada
O pai dele que pagou
Uma quenga que topou
Com ele dar uma bimbada
V
Mas essa quenga assustada
Encarou Zé Malaquias
Que fungava feito porco
Por cima dessas estrias
E deixou de ser donzelo
O mocorongo amarelo
Fartou-se nas putarias
VI
Nas festanças nas folias
Pra dançar ninguém topava
Ele jururu num canto
A festa toda ficava
O jeito era beber cana
Tomar uma carraspana
Já que com ninguém dançava
VII
Só quenga que encarava
Cabra feio e esquisito
Para arrumar trabalho
Ele também foi aflito
Trabalhou como carteiro
Pra no fim virar coveiro
Parecia estar escrito
VIII
Usava um terno bonito
Pra passear na cidade
Mas a roupa não faz monge
Essa é a dura verdade
Cabra de feições sombrias
Pra namorar as gurias
Só fosse uma caridade
IX
Pra Zé infelicidade
Ser portador da feiúra
Foi morar no cemitério
Mas não foi em sepultura
Ali mesmo seu trabalho
Foi morar quebrando galho
Que coisa mais obscura
X
E numa noite escura
Foi no bar do Simeão
Jogou lá muita sinuca
Tomou várias com limão
Depois apostou porrinha
Bebeu mais caipirinha
E conhaque de alcatrão
XI
Voltou pra casa então
Na morada de pé junto
Pra junto da vizinhança
De um monte de presunto
Lá ninguém se importaria
Da estampa que trazia
Só mesmo sendo defunto
XII
Continuando o assunto
Uma mulher avistou
Bem perto de sua casa
E perto dela passou
E para sua surpresa
A rainha da beleza
Com esse cabra falou
XIII
Ele não acreditou
Naquilo que acontecia
Foi puxando mais conversa
Um clima entre dois surgia
E nessa noite de lua
Ela parada na sua
O cabra se derretia
XIV
Conversa solta corrida
O clima foi esquentando
E num beijo bem colado
Esses dois se atracando
O caso ficando sério
Lá mesmo no cemitério
Que acabaram trepando
XV
Nem os mortos respeitando
Numa catacumba deram
A primeira e a segunda
Na terceira refizeram
E no fim os dois cansados
Os seus corpos bem suados
Nem ligaram o que fizeram
XVI
Palavras doces disseram
Mas o Zé bem curioso
Como uma mulher tão linda
Deu pra ele tão feioso
Mas isso não importava
Ele se refestelava
Trepou ali bem gostoso
XVII
E assim Zé assombroso
Perguntou para a parceira
Se ela não tinha medo
De cemitério a faceira
Afinal ela encarou
Na catacumba transou
Toda lépida e fagueira
XVIII
Ela disse:- que besteira
Foi coisa tão criativa
Nós trepamos sem temor
Esse lugar me cativa
O ambiente é funéreo
Mas medo de cemitério
Eu tinha quando era viva
XIX
Uma coruja na oitiva
Um vôo rasante deu
Cem morcegos revoaram
Um vento uivante correu
Relampeou trovoada
A mulher mal assombrada
Sumiu desapareceu
XX
Quando o dia amanheceu
Zé ali meditabundo
Mas nunca falou pra alguém
Seu segredo mais profundo
Pois quando tem lua cheia
Zé feliz esfola a peia
Com a mulher de outro mundo.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

HISTÓRIA DE PESCADOR


I
Pouca coisa neste mundo
Que causa tanto furor
É história mentirosa
De um cabra falador
Mas nada mesmo se iguala
À baba mole da fala
De história de pescador
II
Manuel e Agenor
Gostavam de pescaria
Pegaram sua canoa
Quando o dia ainda nascia
Se pescavam ou não pescavam
Muitas lorotas rolavam
Que essa dupla dizia
III
Esses dois com alegria
Pro riacho foram então
Levaram muitas minhocas
Anzol linhas de montão
E pra não perder a graça
Um bocado de cachaça
Pra aumentar a diversão
IV
Era pura sem limão
Que bebiam o dia inteiro
Jogar linha com minhoca
Pra pegar peixe ligeiro
Mas não pegaram foi nada
Que pescaria azarada
De pescador bem fuleiro
V
Agenor mais cachaceiro
Depois duma talagada
Derrubou todas minhocas
No rio numa lapada
E assim como fariam
Sem iscas não pescariam
Estava a festa acabada
VI
Com a cara desolada
Agenor então remou
Pegando sua canoa
E para a margem levou
Ele lá viu uma jibóia
Teve uma idéia bem jóia
E pro amigo falou
VII
A cobra ele mostrou
Que um cururu engolia
Disse assim pra seu colega
Que assustado lhe ouvia
Como coisa de caduco
Uma idéia de maluco
Que Agenor lhe dizia
VIII
Ô Manuel, vem ,avia
Nós arranca o cururu
Da boca dessa jibóia
Retalha esse buruçu
Os retalho nós petisca
Faz com eles boa isca
E pesca até um pacu
Manuel bem jururu
Aceitou esta loucura
Segurou na cobra grande
Que ficou ali bem dura
Arrancaram logo o sapo
Na cobra deram sopapo
Dodice muita tronchura
X
A jibóia na fissura
Ficou sem a refeição
Agenor teve outra idéia
Ao ver tal desolação
A jibóia bem tristonha
Ali com fome medonha
Pois não comeu o sapão
XI
Disse pro Mané então
Pega a cobra novamente
Abra a boca da danada
Avia homem indolente
Vou da-lhe uma talagada
Pra ela ficar bem mamada
Com cachaça e bem contente
XII
E meteram na serpente
Uma lapada tirana
A talagada das grandes
A cobra que achou bacana
Sem o sapo sua caça
A jibóia na manguaça
Encheu o bucho de cana
XIII
Eita dupla mais sacana
Ficaram ali pescando
Pegaram muitas tilápias
Piabas foram juntando
E na beira do riacho
Pescando nesse esculacho
A cana solta rolando
XIV
Mas uma coisa enrolando
Agenor então sentiu
Arrochando sua perna
Gritou: puta que pariu
Era a jibóia enrolada
Na sua perna arrochada
Amarelou o imbecil
XV
Manuel então sorriu
Vendo o amigo mijado
Pensando ser a vingança
Por seu ato tresloucado
Mandou ele se acalmar
E para baixo ele olhar
Para ver o resultado
XVI
Agenor abestalhado
No cagaço marcou touca
Viu a cena e relaxou
Eita historinha mais louca
A jibóia com paixão
Com um olhar bem pidão
Com outro sapo na boca
XVII
Essa aventura cabôca
Que parece mentirosa
Agenor com Manuel
Na presepada tinhosa
Foi medo foi paranóia
De pescador com jibóia
Doida pela rebordosa
XVIII
Essa história é jocosa
Foi assim que aconteceu
Li piadas do Pasquim
Uma idéia que me deu
Pra inventar nestas lavras
No cordel pesquei palavras
Mas quem mentiu não fui eu.