segunda-feira, 28 de julho de 2008




Este singelo cordel é uma brincadeira com o título do livro de poesia LEGADO DA ALMA do meu amigo Nivaldo Lemos, durante uma breve conversa pelo MSN com o também poeta Rogério Generoso, eu disse que ia lançar um livro chamado LEGADO DA ALMA SEBOSA, depois vi que LIGADO NA ALMA SEBOSA era uma glosa pra versar sobre o medo de assalto em ônibus que me fez optar pelo táxi depois de certa hora em nosso Recife. É uma brincadeira com muito fundo de verdade.

ALLAN SALES
I
Um dia em Água Fria
Tinha um mala me olhando
A minha bolsa filmando
Perto da casa de tia
Eu ali naquela via
Lamaçuda e tortuosa
Uma rua escabrosa
Nem alma viva na rua
Eu ali na noite crua
LIGADO NA ALMA SEBOSA
II
O cabra foi me seguindo
Lá bem perto do Arruda
Uma rapariga muda
Tava ali se exibindo
Avistei primo Laurindo
Com sua mulé gostosa
O nome dela era Rosa
Ficamos sim proseando
E eu ali matutando
LIGADO NA ALMA SEBOSA
III
Eu subi num busão cheio
O cabra subiu também
Na frente dum armazém
Subi um cana no meio
Eu parei o meu receio
Que sorte mais venturosa
Com meganha levei prosa
Mas não entreguei o mala
Com medo de levar bala
LIGADO NA ALMA SEBOSA
IV
Mas lá na Encruzilhada
O cana grande desceu
Aí um medo que deu
A minha vida ferrada
E tome mais uma parada
Suadeira pegajosa
Uma mocinha formosa
Que nessa hora subiu
O medo não se exauriu
LIGADO NA ALMA SEBOSA
V
Na João Barros desceram
Metade dos passageiros
Subiram dois maloqueiros
Que muito medo meteram
Assim que todos tremeram
Cobradora cabulosa
Era velha e adiposa
Motorista no cagaço
Com um frio no espinhaço
LIGADO NA ALMA SEBOSA
VI
No 13 de Maio tinha
Da PM a viatura
A noite era escura
Mas com PM vizinha
Essa trinca da morrinha
Segurou a polvorosa
Cidade tão perigosa
Eu ali apavorado
Meu destino então chegado
LIGADO NA ALMA SEBOSA
VII
Dantas Barreto enfim
Esperando com aflição
Demorando meu busão
Chegou bem junto de mim
E me falando assim
Uma fala cavernosa
Era essa alma tinhosa
Pedindo uma informação
Queria o Alto Jordão
LIGADO NA ALMA SEBOSA
VIII
Fui pegar o Brigadeiro
Ali bem perto parava
O mesmo cabra chegava
Eu aí caguei inteiro
Lá se foi o meu dinheiro
Pensei nessa rebordosa
Mas a sorte caprichosa
Uma torcida chegou
Depois que o jogo acabou
LIGADO NA ALMA SEBOSA
IX
Não fiquei aliviado
Era cabra de montão
Torcida braba do cão
Seu time foi goleado
Cobrador preocupado
Torcida tão furiosa
Não no busão da Pedrosa
Que em Água Fria peguei
Foi aí eu me assustei
LIGADO NA ALMA SEBOSA
X
Vi então Nivaldo Lemos
Subir ali no Bradesco
Com uma camisa da UNESCO
Nivaldo e eu nos vemos
Noutra parada descemos
Pra tomar uma gasosa
Que coisa maravilhosa
Tinha grana esse sacana
Pagou um táxi bacana
LIGADO NA ALMA SEBOSA



Esta singela peleja ocorreu na manhã de 23 de julho de 2008 pelo MSN, Allan Sales e Felipe Junior estréiam sua primeira peleja virtual em clima jocoso e amistoso entre os poetas do folheto de cordel que desenvolvem extensa atividade de recitais em eventos literários.

Dom Hélder diga quem foi? (FELIPE)
Um cristão bem verdadeiro (ALLAN)
Quem foi "Antôim" Conselheiro?
Não quis a canga de boi
Você tem um TIM ou Oi?
A OI é pau no culhão
O que preferes então?
Um CLARO desbloqueado
Isso é mourão perguntado
Isso é responder mourão

Que foi Dom Pedro Primeiro?(ALLAN)
Imperador do Brasil (FELIPE)
Que é esse Clodovil?
Deputado pirangueiro
Santos Dumont pioneiro?
Precursor da aviação
Que foi o rei do baião?
Pai do forró e xaxado
Isso é mourão perguntado
Isso é responder mourão

Caro Allan, quem foi Filó?
Um cabra que tem valor
Diga: ele foi locutor?
Não sei, mas teve gogó
Ele foi primo de Jó?
Só perguntando ao irmão
E ele mora no sertão?
Está no céu meu prezado
Isso é mourão perguntado
Isso é responder mourão.

Quem foi Lourival Batista?
Repentista de primeira
Pelejou com Zé Limeira?
Não está na minha lista
Dom Hélder foi comunista?
Um comunista? Foi não
Maluf , esse é ladrão?
Corno, ladrão e viado
Isso é mourão perguntado
Isso é responder mourão.

Tu sentes falta do Crato?
Nem um pouco companheiro
Mas por que, grande parceiro?
Recife me deu bom trato
Jerry ou Tom que é o gato?
Tom o gato é viadão
Porque essa conclusão?
Tudo americanalhado
Isso é mourão perguntado
Isso é responder mourão.

Vais casar com a morena?
Em junho do ano que vem
Eu vou pra festa também?
Com certeza tens a cena
Faremos a cantilena?
Mas só na recepção
Lua de mel no sertão?
Talvez, mas vai ser pensado
Isso é mourão perguntado
Isso é responder mourão.

Quem é dom José Cardozo?
Uma bicha e abusada
Será que tem namorada?
Um negão bem musculoso
Tu achas ele orgulhoso?
Orgulho de que? Bundão
És judeu ou és cristão?
Um ateu juramentado
Isso é mourão perguntado
Isso é responder mourão.

Que achas do presidente?
Bom! Nele voto de novo
João Paulo baba seu ovo?
Baba um pouco só de frente
Jarbas bebe aguardente?
Pertinho de Henry, vai não
Vai com Raul?Ou na mão?
Com Henryzinho é sagrado
Isso é mourão perguntado
Isso é responder mourão.

Tu vais com seu João da Costa?
Do lado costa e de frente
Quem vai ser o presidente?
Só Alah sabe a resposta
Tu preferes merda ou bosta?
Um tolete bem grandão
Pra colocar onde, irmão?
Lá na mesa do senado
Isso é mourão perguntado
Isso é responder mourão.

Gostou de assim pelejar?
Rapaz, foi fenomenal
Vamos botar no jornal?
O povo vai adorar
Se o povo nos processar?
A gente paga a pensão
Pra escapar da prisão?
Não, só quem foi lesado
Isso é mourão perguntado
Isso é responder mourão

sexta-feira, 4 de julho de 2008

O PREGADOR QUE FUMAVA..

Estamos no TIP, perto das 8 da manhã, eu e o poeta Adiel Luna rumo a Bom Nome, de onde nos deslocaremos para Belmonte aonde nos apresentaremos no dia seguinte, uma sexta-feira na praça pública, em companhia do grande Chico Pedrosa e do repentista José Oliveira, será nossa versão em quarteto de CANTORIA DECLAMATÓRIA.

Embarcamos com a primeira parada prevista em Caruaru, aonde sobem outras pessoas a bordo do ônibus, cujo destino final é em Marabá-PA e que segue varando o sertão de Pernambuco. Ao retomarmos a viagem, notamos que um jovem rapaz se despede emocionado de sua mãe:- adeus mãinha , fica com Deus…. foram essas suas emocionadas palavras entre suas sinceras lágrimas que não escondeu de todos que perto testemunharam esse seu momento de vida.

Eu seguia numa animada e gaiata conversa com meu bem humorado de sempre parceiro Adiel. Pondo as conversa em dia, ele me contando seus causos e me falando dos seus projetos e inquietações, muita galhofa da parte dele e da minha, comentando sobre os dotes físicos de uma potranca que também embarcara em Caruaru, sentada duas poltronas atrás das nossas. Quando passamos por Cruzeiro do Nordeste, eu comentei acerca de uma estátua do Padre Cícero e da minha ausência de fé na santidade do padre do Juazeiro.

O rapaz que se despedira da mãe de forma emocionada, carregava em suas mãos uma surrada bíblia protestante, entra na conversa condenando a idolatria católica, abre sua bíblia numa página que ele conhecia o que esta continha e passa a recitar versículos do velho testamento condenando os bezerros de ouro,etc. Nossa, o rapaz de olhar esperto, fala derrapando no vernáculo denotando carência de escolaridade, mas de uma desenvoltura danada quando o assunto são as sagradas escrituras. Falava com muito gosto e entusiasmo e demonstrava conhecer bem o livro.

Eu pergunto pra ele qual a sua congregação, no caso a Assembléia de Deus, à qual ele se converteu nos tempos em que morou com um tio em Maceió, antes de vir morar por dois anos com sua mãe em Caruaru. Ele fora o responsável da conversão da mãe, de católica fervorosa em evangélica, mas ele mesmo se dizia um “crente desviado”, denominação que eles dão aos irmãos de fé que se afastam dos desígnios da igreja.

Eu pergunto o que ele acha de Edir Macedo e sua voracidade pelo dízimo do rebanho, falo pra provocar o rapaz, Adiel do lado se divertindo de monte. Ele conta que uma vez entrou por curiosidade num templo da igreja do Macedo em Caruaru, segundo ele, o pastor dizia: - se sua fé é grande, ponha cinqüenta reais, se não for tão grande ponha vinte reais, e assim por diante, graduando o valor da fé das pessoas em função daquilo que elas põem no envelope. Ele mesmo se dizia indignado com essa voracidade materialista desses pregadores, muito embora concordando com necessidade da doação pra manter as obras de Deus .

Dito isso, nosso jovem companheiro de viagem começa com uma saraivada de citações na bíblia falando acerca da doutrina do dízimo. Puxa vida, o cabra conhecia bem o livro, tinha muitas coisas sublinhadas com caneta fluorescente, de modo que falava com grande entusiasmo, denotando uma sinceridade comovente naquilo que falava.

Adiel, sempre sacana pergunta por que ele não se tornara pastor, ele responde que até pensou, mas não “criou coragem” de encarar o seminário, provavelmente usando a palavra coragem como eufemismo para não falar de inaptidão causada por sua escolaridade insuficiente para tal fim. Em seguida, ele fala que vai ao Pará morar com o pai que cria gado de leite naquelas terras.

Fala de seus dois irmãos mais novos e passa a contar suas vivências rurais na casa paterna, fala com muito entusiasmo de sua relação com os cavalos e de sua paixão pelas cavalgadas. Porém diz que o pai pega pesado e que não dá moleza pra ninguém, chama pai de “ingorante” demais. Diz isso e mostra uma cicatriz pavorosa na altura de um dos seus tornozelos, era seqüela de uma pisa de cipó de couro que levara do pai por causa de uma travessura sua.

Eu pergunto o que ele andou aprontando, ele fica envergonhado, eu insisto, ele nada. Eu então especulo: - teu pai te pegou namorando com alguma cabrita? Ele ruboriza, Adiel racha de rir, o rapaz, me diz que sou escroto demais, novidade, mas nega.

Termina contando, foi com o irmão levar umas vacas pra um vizinho, no meio do caminho acharam uma plantação de melancia e comeram algumas, as demais pinicaram de faca. Em casa, foi contar ao pai, o pai arretou-se deu-lhe uma surra de cipó de couro, a ferida do tornozelo deu leschmaniose e virou ferida braba, essa o papai tratou fazendo em cima dolorosas compressas de sal.

Seguimos na estrada, ele com sua bíblia volta a pregar, e Adiel propõe que ele ao chegar ao Pará funde uma igreja, um trabalho bem mais leve do que lidar com o gado. Adiel diz assim: tu funda uma igreja, em vez de pedir grana tu diz.. se sua fé é grande ponha um boi, se for menor, ponha um bode e assim por diante.

Diante de uma fala tão sacana desta do poeta, nosso pregador desiste da catequese e passa a conversar as abobrinhas mais amenas. Em Custódia paramos para almoçar, e aí entendemos o que ele quis dizer o que era ser desviado, era o rapaz um fumante inveterado, fato que pudemos comprovar pela quantidade e variedade de cigarros que ele levava na bagagem, segundo Adiel sua bolsa era um verdadeiro fiteiro.

Uma parada em Serra Talhada, meia hora depois descemos em Bom Nome aonde nosso anfitrião Cícero Moraes nos espera. Nos despedimos de nosso divertido parceiro de viagem indo ao encontro da casa paterna no Pará, mais uma monte de histórias de vida de um brasileiro do povo nordestino nas suas idas e vindas em buscar de um espaço de estar no mundo, quem sabe um dia eu faço um cordel sobre o pregador que fumava.