terça-feira, 22 de novembro de 2011

Estrofe para Lucélia Leal




Na manhã não tão distante
De onírica visão
A rainha de uma raça
Despertando a emoção
Eu ali me abestalhando
E de longe admirando
Flor nativa do sertão

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Também morre a humanidade/Quando fere a natureza



O homem é um animal
Que pensa ser diferente
Bicho é bicho, gente é gente
Ele é um ser racional
O seu mundo industrial
Ele acha uma beleza
Mas o homem tem tristeza
E não aceita a verdade
Também morre a humanidade
Quando fere a natureza

Polui o rio e mata
Destrói o ecossistema
O progresso é o seu lema
Pois quer viver na mamata
Seu progresso desacata
Só acumula a riqueza
E põe bilhões na pobreza
Produz a desigualdade
Também morre a humanidade
Quando fere a natureza

Prosseguem neste caminho
Pondo bicho em extinção
Nesta nefasta ação
Virou um bicho daninho
Tornou-se um ser mesquinho
Acumula com avareza
Pra destruir tem destreza
Não repõe nem a metade
Também morre a humanidade
Quando fere a natureza

O Brasil foi Pindorama
Paraíso original
O Brasil colonial
Destruindo o panorama
A natureza viu drama
E do branco virou presa
E o índio com surpresa
Ao ver tanta crueldade
Também morre a humanidade
Quando fere a natureza

Índios, milhões no Brasil
Trezentos mil hoje em dia
De tanta mata que havia
Muita coisa já sumiu
Em todo canto erigiu
De concreto a fortaleza
E pra por o pão na mesa
Usam veneno à vontade
Também morre a humanidade
Quando fere a natureza

Amazônia dá seu grito
Grita também pantanal
A destruição geral
Deixa o mundo aflito
Muito protesto foi dito
Mas reagem com dureza
Com quem saiu em defesa
Da bio diversidade
Também morre a humanidade
Quando fere a natureza

Caminhamos para onde?
Com tanta destruição
O deus dólar é a razão?
Que a tudo isso responde?
O responsável se esconde
Dá desculpas com torpeza
Não existe vida ilesa
A tanta voracidade
Também morre a humanidade
Quando fere a natureza

Respeitando toda a vida
Salvaremos toda a Terra
Corrigindo o que se erra
Com a voragem desmedida
Se a lição for aprendida
Demonstramos esperteza
E veremos com clareza
Que não há dualidade
Também morre a humanidade
Quando fere a natureza

sábado, 23 de abril de 2011

Mote baseado em postagem do facebook da amiga Laura



.
I
Somos nós seres completos
Tudo nosso está em nós
E de dentro nossa voz
Nossos sonhos são repletos
E na busca dos afetos
Tem princípio meio e fim
Algo bom algo ruim
Só se mostra na vivência
Não há falta na ausência
A ausência é estar em mim
II
E na busca incessante
Nossa vida em cada dia
Um viver pela alforria
Ser intenso em cada instante
E assim ir adiante
Rumo ao sonho num confim
Ouço a voz de um querubim
Quando busco minha essência
Não há falta na ausência
A ausência é estar em mim
III
Laura disse e foi sincera
Quando expôs seu pensamento
Pois a deusa no momento
Exorciza a triste fera
Solidão esta pantera
Faz em nós seu camarim
Quer nos ser um mandarim
Mas não é pra consciência
Não há falta na ausência
A ausência é estar em mim
IV
Pois sentir falta de alguém
Projeção do nosso afeto
Que se encontra em outro teto
E não mais do querer bem
Nossa mente vai além
E supera tudo enfim
Pois carinho é um coxim
Que sem ele é só carência
Não há falta na ausência
A ausência é estar em mim
V
Somos seres do universo
Somos filhos das estrelas
As carências são pra tê-las
E espantar pensar perverso
Um consolo é nosso verso
Como um som de Tom Jobim
Pois em nós um passarim
Canta com toda potência
Não há falta na ausência
A ausência é estar em mim
VI
Laura loura louramente
Lauramente doce e bela
Louramente sem querela
Laura aura reluzente
Pois mulher inteligente
Mas que linda diz assim
Entre o não e entre o sim
O que diz com veemência
Não há falta na ausência
A ausência é estar em mim
VII
E assim glosando o mote
Que a moça assim postou
Numa tela ela mandou
E aqui peguei num bote
Pois o verso sendo dote
Vem da rima um outrossim
Verso doce qual pudim
Mostra além de uma aparência
Não há falta na ausência
A ausência é estar em mim
VIII
Encerrando a poesia
Pois no fim findando a rima
Rima em “im” nos aproxima
Faz pensar na melodia
Todo verso que se cria
Em Recife ou em Berlin
Só não deve ser chinfrim
Verseja só com decência
Não há falta na ausência
A ausência é estar em mim
IX
O dilema da vontade
A lutar contra a razão
Mente contra o coração
Sonho com realidade
É assim dualidade
Como Abel ante Caim
Como caos de um festim
Nossa alma em turbulência
Não há falta na ausência
A ausência é estar em mim
X
Sentimento que domina
Chega vem roubando a cena
Mas será que vale à pena
Entregar-se a esta sina
Pois a vida sempre ensina
Que paixão de cor carmim
Vem, detona o estopim
Pra nublar nossa vidência
Não há falta na ausência
A ausência é estar em mim
XI
Ser um ser de alma completa
Deve ser nosso destino
Ideal que aqui defino
Que nem sempre a vida enceta
Solidão vem, nos afeta
Dá na gente um farnezim
Uns vão bebem rum ou gim
Ao perder a paciência
Não há falta na ausência
A ausência é estar em mim
XII
É fugir ou enfrentar
Entregar-se ou ir em frente
Perceber ou ser demente
Ir ao fosso ou superar
Desistir ou batalhar
Ser gigante ou ser mirim
Ser demônio ou serafim
Alcançar ou ver falência
Não há falta na ausência
A ausência é estar em mim

quarta-feira, 20 de abril de 2011

CORDEL ENCANTADO: Reflexões novelísticas de um cordelista.

O nome da novela deve se referir ao fato do cordel em parte ser uma narrativa fantasiosa de lendas e histórias como aquela que é mostrada na novela. O sotaque vá lá que seja,dá até pra aceitar, afinal não teria sentido o carioquês e o paulistês dominantes tão bem sonorizados nas demais novelas da vênus platinada.

Interessante mesmo são os tipos físicos de muitos atores, que em nada remetem ao caráter caboclo,mulato e mestiço de um modo geral do povo nordestino, pelo menos os pobres assim o são. Aquele ator que faz o pai adotivo da mocinha, e mais alguns outros, são característicos do ponto de vista da etnia do povo de nossa região.
O resto é branquelo mesmo, coisa existe entre nós com toda certeza, mas não naquela proporção.

Talvez em alguma das micro regiões em que existem contingentes significativos de brancos, onde não houve fenômeno de posse de escravos africanos, assim como pouca miscigenação com indígenas.

Mas como Brogodó é uma fantasia global, a GLOBO tudo pode e sempre fez as coisas em seu padrão estético de valorizar com paradigma de beleza o elemento caucasiano, padrão do qual nunca se afastou, nem dá sinais de se afastar.

No mais os mesmos tipos de sempre: o coronel poderoso dono de tudo, o cangaceiro estereotipado, o beato porra louca que alude ao Antônio Conselheiro.
Talvez Zé Limeira, se fosse vivo(ou alguém pudesse psicografar ele)daria um bom assessor pra dar mais ideias geniais para o autor da novela.

Junta personagens de uma corte europeia de um país fictício, um rei em busca de uma herdeira extraviada em pleno sertão nordestino com seus personagens típicos e estereotipados. Em que circunstâncias uma nobre europeia viria com a mãe aparecer em pleno sertão do nordeste em pleno século XIX ou começo do século XX, onde supostamente dá a entender ser o tempo em que se passa a novela?

Sei lá o que esse povo do PROJAC andou fumando ou cheirando.

Pois é o reino de Seráfia do Norte , o país europeu em questão. O rei vem ao Nordeste em busca de sua filha perdida no nossos sertão. Agora entendi porque Seráfia é o nome do país. Na verdade é uma corruptela de uma frase dita pelo rei ao ver Açucena ,dirá para ela assustado: Será fia?

“Será fia” do rei de Seráfia a nordestina com cara de imigrante italiana da serra gaúcha?

Um verdadeiro samba do afro-descendente portador de doença psíquica.De acordo com a boa norma politicamente correta preconizada pelo sábio Papa Berto I , o pândego.


ALLAN SALES

terça-feira, 8 de março de 2011

Mote de Cancão

Eu também já vivi no mesmo inferno
De sentir rejeitado um sentimento
Ser trocado pra ver todo tormento
Padecer como que num fogo eterno
Era esse o modelo do meu terno
Que vesti pra sofrer penar então
Qual Layane no mote de Canção
Eu senti da tristeza o azedume
Dorme junto aos teus pés o meu ciúme
Enjeitado e faminto como um cão.


Pra sentir o desejo sem viver
Como que vai tornar um ser platônico
E viver neste modo histriônico
De amor sem carinho padecer
O melhor nesse caso é esquecer
E viver doutro modo a emoção
Pois ficar melancólico é em vão
A sentir-se abaixo de um estrume
Dorme junto aos teus pés o meu ciúme
Enjeitado e faminto como um cão.



Ser assim a penar na tirania
De um afeto cruel que não tem rumo
É perder todo ser e todo prumo
E viver só cruel melancolia
Abrigar-se na sua poesia
Consolar padecer numa canção
Se não tem deste louco coração
O menor faiscar de qualquer lume
Dorme junto aos teus pés o meu ciúme
Enjeitado e faminto como um cão.

Padim Ciço não foi santo/Nem herói foi Lampião



Dedico este singelo folheto de cordel ao historiador Frederico Pernambucano de Melo que em recente matéria em nossa imprensa deu importantes subsídios para que fosse escrita esta peça de poesia.
(Allan Sales)

(I)
Triste do povo sofrido
Triste do povo iletrado
Triste do povo explorado
Triste do povo iludido
Triste do povo vencido
Que constrói sua prisão
A verdade vem então
Causa furor e espanto
Padim Ciço não foi santo
Nem herói foi Lampião
(II)
Coronel que usou batina
O outro foi bandoleiro
Eram galos do terreiro
Eram aves de rapina
Pobre gente nordestina
Aceitando empulhação
Cultua mito malsão
Ilusão que tem encanto
Padim Ciço não foi santo
Nem herói foi Lampião
(III)
Servindo à mesma lida
Cada um na sua sina
A história nos ensina
A verdade esclarecida
Ilusão que é vencida
Qual miragem pra visão
O falso mito então
Engana em todo canto
Padim Ciço não foi santo
Nem herói foi Lampião
(IV)
O padre dele coiteiro
Com ele mancomunado
Foi assim patenteado
Pra lutar com o Cavaleiro
Mas este povo cordeiro
Carece de ter visão
Só conhece uma versão
Na verdade põe um manto
Padim Ciço não foi santo
Nem herói foi Lampião
(V)
Herói pra mim Frei Caneca
Herói pra mim Conselheiro
Herói Zumbi Grão Guerreiro
Delmiro Gouveia não peca
Juazeiro é uma meca
Romaria e procissão
O povo humilde de cristão
Gente de todo recanto
Padim Ciço não foi santo
Nem herói foi Lampião
(VI)
Povo sincero acredita
Não tem culpa é inocente
Mas a elite é indecente
Perpetua tal desdita
A verdade está escrita
Mostrando outra visão
Futuros tempos dirão
Mostrando a nós outro tanto
Padim Ciço não foi santo
Nem herói foi Lampião
(VII)
A fé do povo é sincera
Pois leva a vida sofrida
Vê em Deus uma saída
Quando a miséria impera
Hoje em dia noutra era
Vive mesma situação
Fé cega sem ter razão
É lenitivo pro pranto
Padim Ciço não foi santo
Nem herói foi Lampião
(VIII)
Beatos e cangaceiros
Produtos do desespero
São o mesmo exaspero
Nestes sertões brasileiros
São jagunços carniceiros
De “parabellum” na mão
Defensores da opressão
Em quem pia dão sumiço
Não foi santo o Padim Ciço
Nem herói foi Lampião
(IX)
Nordeste terra da gente
Que amamos com certeza
Queremos nossa grandeza
Um futuro mais decente
Olhar o mundo de frente
Evoluir a Nação
Procurar ver a razão
Deste atraso sem espanto
Padim Ciço não foi santo
Nem herói foi Lampião
(X)
Cheguei ao fim da poesia
Enviei minha mensagem
Evoquei nesta imagem
Da verdade mais sadia
Seguindo por outra via
Buscando sempre a razão
Ter a verdade na mão
E fazer dela acalanto
PADIM CIÇO NÃO FOI SANTO
NEM HERÓI FOI LAMPIÃO






Recife 2012. Delírio bíblico poético metafórico de Allan Sales




Crucificam João do povo
Os que ficam tão boçais
Judas manda e sem carisma
Não vai ser um Barrabás
Onde vai tal mundo herege?
Satanás vem e se elege
Quem nos salva é Ana Arraes?


ALLAN SALES

segunda-feira, 7 de março de 2011

Sina de Trovador




Existem coisas na vida
Que causam pavor na gente
Tem um ofício penoso
Maltrata muito vivente
É trabalhar de pernoite
Ser um tocador da noite
Como é duro esse batente

Nego tomando aguardente
A dor de corno é danada
Fica chapado demais
Papudinho é cara inchada
Seu pedido é um transtorno
Roedeira e dor de corno
Cuidado com a chifrada

Outro leva a namorada
Feito pombinho o casal
Querem ouvir Roberto Carlos
Etc. coisa e tal
O outro vem lhe sacode
Que ouvir som de pagode
De pedido um festival

Pedem som regional
Pra tocar “um forrozinho”
A canção que está na moda
Nunca Zeca Pagodinho
Aí onde o bicho pega
Nego que gosta de brega
Causa o maior burburinho

Tem um tipo já bebinho
Chegando fala ao ouvido
Fala com bafo de onça
Deixa você aturdido
A língua dele enrolada
Você não entende nada
Que o traste tenha pedido

O outro é oferecido
Vem pedindo pra cantar
E você na saia justa
E doido para aloprar
Esse “artista” frustrado
Deixa seu saco lotado
Pedindo pra canja dar

O dono do bar vem chegar
De olho grande no dinheiro
E quando o lance é “couvert”
Embolsa o seu bem matreiro
Paga cachê de merreca
É uma grande meleca
Trabalhar com esse fuleiro

Conversam feito vespeiro
É fumaça da cozinha
Um cara lhe olhando feio
Com ciúme da boyzinha
Quando ela lhe paquera
O babaca vira fera
Por causa dessa galinha

Tocar a noite todinha
Dia Branco e Canteiros
Chão de Giz e pedem bis
Esse bando de fuleiros
Andanças até cansar
Pedem Táxi Lunar
É um saco companheiros

Os clientes cachaceiros
Ficando inconvenientes
“Toca um sambinha” agora
Falam os impertinentes
O dono do bar lhe diz:
Toque essa porra infeliz
Para agradar meus clientes

As horas tão indolentes
Demorando pra passar
O equipamento de som
Bem ruim é de lascar
As bebidas reguladas
Só duas louras geladas
Liberam pra biritar

Se bebe a mais vai pagar
Detonar o seu cachê
É curto seu intervalo
E querem ferrar você
Depois disso tem jantar
É com os restos do bar
O que lhe dão pra comer

Como encontrar prazer?
Nesta tarefa ingrata
Pior do que rapariga
Bem fuleira bem barata
É duro ser tocador
Cansa demais sim senhor
Não é lorota ou bravata

Sabendo do que se trata
Seja verão ou inverno
Seja presente ou passado
Seja retrô ou moderno
Um chato sempre incomoda
Tocar na noite é foda
Opinião que eu externo

E quem parar no inferno
Pra encarar a lei do Cão
Lá Satanás curte brega
Vai lhe botar na função
Numa eternidade insone
Com você ao microfone
Com um banquinho e violão

A transgressão dos babacas.


A contra cultura dos anos 60 que deu no movimento hippie, assim como nas revoltas estudantis na França em 1968 marcou profundamente nosso mundo. A contestação do modo ocidental de vida, dos valores burgueses, levaram muitos a se rebelar, usar cabelos grandes, roupas espalhafatosas e uso de drogas para alargar os níveis de percepção da mente. Vemos isso até hoje, há uma tribo que ainda vive segundo essas normas de contestação e resistência (segundo muitos que pude conhecer). Há uma legião de gente no meio literário que adota essa cultura neo-hippie em nossos dias no sentido mais de usar os ícones da contestação, já que muitos trabalham ou dão um jeito de produzir para prover suas necessidades.

É uma postura diante das coisas prática da vida até certo ponto romântica, quixotesca e juvenil, já que quem optou por esse modo de encaminhamento é avesso à organização de movimentos políticos, execra os que são empreendedores chamando-os genericamente de capitalistas e, é claro de careta quem não celebra como eles seus rituais sociais. Sempre tive uma convivência até certo ponto pacífica com esse povo, por estar no meio das artes de música, teatro e posteriormente poesia, sempre os encontrei, interagi com alguns, sempre esbarrando em algum conflito quando algum deles entrou em rota de colisão por não concordar com alguns dos meus processos de trabalho e realizações culturais que venho empreendendo no Recife desde 2003.

Em 2004, criei no espaço Pasárgada, na Rua da União o evento UNIÃO COM BANDEIRA, juntando os poemas autorais dos diversos poetas que tinham livros lançados em nossa região metropolitana. O diretor do espaço cultural, o jornalista Valdi Coutinho, permitiu que eu instalasse na Casa de Manuel Bandeira meu projeto, que contava com a colaboração do jornalista Bráulio Brilhante e do hoje falecido poeta e professor de Língua Portuguesa Chico Espinhara. Não havia verba do órgão gestor da casa para remunerar nossa atividade, razão pela qual me foi permitido expor e comercializar meus folhetos de cordel e montar um boteco improvisado através do qual eu e meus parceiros poderíamos auferir algum ganho, coisa que no meu caso não havia como abrir mão desse processo.

Uma vez em Olinda, um desses alternativos, após eu me apresentar num recital no Centro Luiz Freire e anunciar meu evento subiu ao palco logo em seguida. Fez sua apresentação e no fim soltou uma pérola, algo mais ou menos assim: - gente eu tenho meu recital que existe há mais de 3 anos, sempre nas quintas-feiras, a partir da meia noite, todo dia numa local diferente onde a pessoa que abriga o recital organiza o mesmo e um coquetel com bebidas. Todos podem ir, não pagarão por nada, mesmo porque eu não me presto a realizar eventos com fins lucrativos. Desceu do palco com um riso se superior e debochando de quem se apresentou antes. Eu calmamente me dirigi até ele e candidamente disse: - faço com fins lucrativos porque, ao contrário de você não sou parasita, gigolô e meus dois filhos,ao contrário dos seus,eu sou provedor das despesas deles e não os deixo nas costas da mãe como você faz. Fui execrado publicamente, mas no plano privado dei o troco que esse imbecil merecia, sem nenhuma resposta desse folgado é claro.

Outro coleguinha dele, em pleno recital no Espaço Pasárgada, em companhia de um europeu e sua namorada brasileira afro-descendente, resolveu acender bem perto de onde o povo se apresentava um cigarro de maconha. Estavam fumando e eu me aproximei e pedi que o colega apagasse o baseado dele. Ele alterou-se e esbravejou comigo:- meu irmão, que repressão da porra é essa? Eu calmamente expliquei pra ele que o local em que estávamos era uma repartição pública e que seu diretor me pediu encarecidamente que não permitisse essa prática por lá. Pior de tudo, o cabra é professor de escola pública e não teve a menor sensibilidade de perceber que um flagra da segurança da casa geraria um fato policial que queimaria o filme de toda uma comunidade de artistas que naqueles tempos, através de nossa iniciativa, tinha um espaço de visibilidade, já que os jornais da cidade e a agenda cultural nos deram seu apoio. Essa é a transgressão dos babacas. Pouco tempo depois encerrei minha presença por lá por causas das reformas que o imóvel sofreria e segui por aí inventando, como até hoje faço formas de por na fita a minha produção cultural de outros artistas que se afinam com a proposta.

ALLAN SALES

Tracadilho dos Josés





Trocadilho odioso
Trocar “A” por “I” armei
Odair um rei do brega
Odiar fora da lei
Trocadilho troca pé
Amar Odair José
Odiar José Sarney

ALLAN SALES

Mote de Aderaldo Luciano




I
Como disse um bom poeta
Viu cordel sintetizando
E também profetizando
Numa verve de um esteta
Uma arte tão repleta
Que no tempo se anuncia
Nos anais da poesia
Vem soprar qual leve brisa
O cordel que sintetiza
Vem pra nós qual profecia
II
Aderaldo Luciano
Grande bardo de Areia
Sua verve aqui clareia
No seu verso soberano
O sagrado e o profano
O cordel vai nessa via
Como luz que prenuncia
O futuro que divisa
O cordel que sintetiza
Vem pra nós qual profecia

III
Pois nascido nordestino
Percorreu todo o Brasil
Transformou e evoluiu
Esse foi o seu destino
De ser verso peregrino
Foi em toda rodovia
Qual cantar de cotovia
Todo belo preconiza
O cordel que sintetiza
Vem pra nós qual profecia
IV
Dos rincões paraibanos
Veio ser com as sextilhas
E as belas redondilhas
Pra virar versos ciganos
O cordel não traçou planos
Vem e rompe todavia
Mas preserva na etnia
A identidade frisa
O cordel que sintetiza
Vem pra nós qual profecia

Só a rola que endurece/ Sem perder sua ternura



I
Já dizia Che Guevara
Que é preciso endurecer
E a ternura não perder
Enfrentar vida de cara
E assim meter a vara
De enfrentar a ditadura
Só encontra quem procura
E assim tudo acontece
Só a rola que endurece
Sem perder sua ternura
II
Com a idade ela decai
Mas precisa ter cuidado
Se ficar prejudicado
Quando a força se esvai
Num Viagra então se vai
Para evitar brochura
Se livrar dessa tortura
Pois assim ninguém merece
Só a rola que endurece
Sem perder sua ternura

III
Esse órgão tão querido
Da espécie masculina
Alegria feminina
E também do entendido
Duro tenso e estendido
Latejando de secura
Em alerta é rola dura
Mas depois sempre arrefece
Só a rola que endurece
Sem perder sua ternura
IV
A mulher amolegando
Ressuscita com um boquete
Dança em cima qual chacrete
Nela dura vai sentando
Pra gozar com ela entrando
Nesse jogo é uma loucura
É tesão da boa e pura
Sua xota que oferece
Só a rola que endurece
Sem perder sua ternura

ESPETÁCULO BICHO HOMEM




Bicho Homem.

Espetáculo poético, cênico e musical com textos em literatura de cordel e músicas de autoria de Allan Sales. Uma abordagem de temática ambiental, dando enfoque ao fato de que a humanidade é parte do contexto planetário e a ação da civilização humana sobre o planeta como vetor de desequilíbrio ambiental e todas as nefastas conseqüências que nossa ação desencadeia no meio ambiente, faz uma provocação ao público, conclamando-a a cada um fazer a sua parte, mudando seus hábitos de consumo.

Inicia com uma pequena exposição, em forma de palestra informal e recital de cerca de 20 minutos, na qual o público é levado a conhecer um pouco das origens históricas da literatura de cordel, com a demonstração feita de improviso de como os poetas populares constroem seus poemas seguindo os cânones estéticos pré-estabelecidos pela tradição cultural.

Allan Sales apresenta Bicho Homem ao lado do cordelista e músico Thiago Martins, das atrizes Raissa Fonseca e Uana Mahin, um espetáculo de quarenta minutos, recheado de músicas cantadas e temas musicais de violão e rabeca que remetem a uma atmosfera cultural de identidade nordestina sobre a qual é construída toda obra aqui apresentada.

domingo, 6 de março de 2011

Nove estrofes para Olinda


Escrevi esse singelo texto numa manhã após ser alvejado por água de chuva (jogada por um automóvel pilotado por um sacana), água comumente empoçada na Avenida Kennedy em Peixinhos-Olinda, aonde moro por esses dias. Fiz as duas primeiras estrofes que publiquei no Jornal da Besta Fubana de Sua Santidade Papa Berto Primeiro da ICAS. As demais vieram aos poucos e completam esse folheto.

Allan Sales

I
Olinda pobre cidade
Que despe da fantasia
Patrimônio é bem verdade
Mas falta cidadania
O poder em Sítio Histórico
A cortejar o folclórico
Esquece a periferia
II
Olinda que olindaria
Olindecendo Peixinhos
Olindecendo Ouro Preto
Olindecendo os vizinhos
Olindecendo Rio Doce
Olindecendo o que fosse
Olindecendo os caminhos
III
Olindecência são ninhos
Olindecência da idade
Oh! linda essência de um povo
Olindecência a verdade
Olindecência futura
Olindecência a cultura
Olindecência a cidade
IV
Olindecer sem metade
Olindecer feito ovo
Oindecer sem fronteira
Olindecer sempre novo
Olindecer com ladeira
Olindecer Pitombeira
Olindecer todo povo
V
Olinda verso que chovo
Olinda assim vem da chama
Olinda é eco e passado
Olinda vida que clama
Olinda tempo presente
Olinda povo que sente
Olinda livre proclama
VI
Olindamente que inflama
Olindamente a folia
Olindamente no passo
Olindamente a alegria
Olindamente é bailado
Olindamente é Bajado
Olindamente poesia
VII
Olindecente eu queria
Olindecente a visão
Olindecente a justiça
Olindecente o torrão
Olindamente a igualdade
Olindamente a irmandade
Olindamente esse chão
VIII
Olindecer qual canção
Olindecer foi imerso
Olindecer nesse canto
Olindecer Universo
Olindecer no papel
Olindecer no cordel
Olindecer neste verso
IX
Olinda! Bane o perverso
Olinda sai desse escuro
Olinda acorda Olinda
Olinda que eu procuro
Olinda de entrar nos trilhos
Olinda pra todos filhos
Olinda fé no futuro!

SONETO PARA BIANCA




Eu me ponho matutando em poesia
Me lembrando da mulher fulô baiana
Lembro dela todo dia da semana
E de perto ver a moça eu queria

A lembrança dela só dá alegria
O semblante de morena tropicana
Eu da terra donde brota doce cana
Vou nos versos em solene elegia

Mas a moça fica aí nesse aconchego
Na Bahia sabe um dia lá eu chego
Ver de perto e tornar-me mais feliz

Por enquanto esse verso me invade
Eu versejo suspirando de vontade
Ver de perto minha linda Flor de Liz

A leitura do mundo que precede Ler palavra escrita que se tem




I
Paulo Freire mostrou como se faz
Com valor uma boa educação
Libertar oprimido da opressão
Do patrão opressor e o capataz
Paulo Freire mentor de amor e paz
Viu bem longe seguiu e foi além
Professor solidário fez o bem
Seu trabalho bonito não se mede
A leitura do mundo que precede
Ler palavra escrita que se tem
II
O Brasil secular das opressões
Seculares mazelas sociais
O poder nunca fez os bens gerais
Nem também combateu as exclusões
Educar pra buscar as soluções
Só assim a verdade pura vem
Mas pra elite mudar não lhes convém
Pra podar muita gente assim procede
A leitura do mundo que precede
Ler palavra escrita que se tem
III
Nosso povo penou na escravidão
Mas depois não chegou cidadania
Libertou mas não deu a garantia
Deste povo galgar tal inclusão
Foi sem terra sem ter a formação
E assim sem saber virou refém
Da miséria cruel que só detém
O povão na miséria assim adrede
A leitura do mundo que precede
Ler palavra escrita que se tem
IV
O leitor deste mundo se transforma
Transformando também a sociedade
Educar pra mostrar e com verdade
Só assim nosso mundo se reforma
Educar para ter a nova norma
Ensinar neste mundo se intervém
E quem lê esse mundo lê também
Toda vida que tem e lhe concede
A leitura do mundo que precede
Ler palavra escrita que se tem
V
Ler o mundo entorno de um viver
E daí refletir sobre a mudança
Neste modo se faz e tudo alcança
O caminho se faz com o conhecer
A leitura portal que traz saber
Com certeza verdade sem porém
Ser motor e não só vagão de trem
Arrastado podado que só cede
A leitura do mundo que precede
Ler palavra escrita que se tem

VI
Paulo Freire leitor que viu futuro
Bem melhor pra essa pobre humanidade
Seu saber nos mostrou com claridade
Um luzeiro brilhando neste escuro
Optou não quedou cima do muro
Pro povão professor que diz amém
Opressor deste mundo não detém
Libertar é o desejo que se pede
A leitura do mundo que precede
Ler palavra escrita que se tem
VII
Educar superar contradição
Opressão secular que incomoda
O poder opressor que nos açoda
Não permite ser pleno e cidadão
Deste Freire pra nós toda lição
Pro povão ter feijão arroz acém
Estudar ter cultura e ver também
Saber ler pro saber ter mente a sede
A leitura do mundo que precede
Ler palavra escrita que se tem
VIII
Educar para vida diz pra gente
Condição pra opressão ser superada
Paulo Freire peitou toda parada
Com verdade maior e procedente
Pra fazer um Brasil bem mais decente
Para ele darei nota mais de cem
O povão não vai só comer xerém
Vai comer a cultura que antecede
A leitura do mundo que precede
Ler palavra escrita que se tem
IX
Paulo Freire foi mestre nos mostrou
Como faz educar de libertário
Muito além de saber de abecedário
Foi ligado na obra que abraçou
Nosso mestre maior nos ensinou
Poderosos trataram com desdém
O valor desta obra nos retém
Deixa em nós fica em nós não se despede
A leitura do mundo que precede
Ler palavra escrita que se tem

Galope à beira mar das águas





São só três por cento das águas do mundo
Que são água doce pra vida viver
Mas só um por cento que se pode ter
Eu falo no verso aqui não confundo
As águas da terra problema profundo
E que desperdiça não sabe é usar
Com águas do mundo a desperdiçar
Jogando ela fora e faz desperdício
Pois tratar da água se faz sacrifício
As águas dos rios, do solo e do mar

Não lave seu carro usando a mangueira
Nem tome seu banho assim demorado
A água recurso a ser preservado
Um monte de gente fazendo besteira
Escovam seus dentes não fecham torneira
Torneira que deixa na pia a pingar
Não sabe que é caro da água tratar
Quem faz desse jeito tem pouco juízo
Pro mundo da gente só traz prejuízo
As águas dos rios, do solo e do mar

E quem só polui as fontes também
Os mananciais de água que temos
Assim no futuro só nós penaremos
Quem cuida dos rios pro mundo faz bem
Não joga poluente no rio que tem
Nem corta as matas da margem o lugar
O rio preserva pois sabe cuidar
E pensa presente também o futuro
Cuidando das águas de modo seguro
As águas dos rios, do solo e do mar

A água circula quando evapora
E vira uma chuva caindo na terra
Escorre pro rio e assim não se encerra
O ciclo das águas não tem tempo e hora
Pois entra na terra e bem fundo mora
Ressurge na fonte pro rio brotar
O rio que corre no mar vai chegar
Assim novamente tudo recomeça
Pois a natureza com água é sem pressa
As águas dos rios, do solo e do mar

Lirismo da exclusão ou Condomínio da folia.




Separar da negrada da cidade
Foi assim que nasceu tal tradição
Lindo bloco lirismo da canção
Gente fina da nossa sociedade

O passado presente nos invade
Refletir como foi tal criação
Na verdade lirismo da exclusão
E negar se traduz em leviandade

O povão que criou frevos nas ruas
Foi bailar pra inventar as artes suas
Superar secular civil tragédia

Pra brilhar com seus lindos coloridos
Sem o ranço feudal dos bem nascidos
No boçal condomínio a classe média.

ALLAN SALES

A receita do amor




A receita pra dar certo
Com certeza tem carinho
O calor de um lindo ninho
Tem que estar sempre por perto
Ser atento e muito esperto
Ao amor também convém
Com doçura se obtém
O que o amor tem pra nos dar
A receita pra durar
Quando nós queremos bem

Não poupar em aconchego
Mas também não ser chiclete
Pode usar a internet
Todo tipo de chamego
Não sufoque neste apego
Nunca ir de zero a cem
Mas não esquecer porém
Dessa flor sempre regar
A receita pra durar
Quando nós queremos bem

Pimenta Rosa do Sertão




Se tu és pimenta rosa
Eu pensei que rosa fosse
Se és pimenta queima ardendo
Se és rosa aí danou-se
És tempero do afeto
Meu tempero predileto
Pois se arde mas é doce

Estrofe para uma deusa

Poesias são assim
Para nós e com certeza
Muitos mostram outros não
Mas poema tem beleza
E por isso Deus te fez
Um poema em linda tez
Que ele pôs na natureza



I
Somos seres racionais
Como diz a evolução
Charles Darwin com razão
Viu nos outros animais
As mudanças naturais
E seu Darwin nunca engana
Mas espécie mais sacana
Nossa espécie camarada
É uma coisa ilimitada
A estupidez humana
II
Desde os primeiros anos
Em que o homem fez a história
Comportou-se como escória
Fez massacres desumanos
Apoiou, criou tiranos
Mata, rouba,mente esgana
Sem limites sua gana
Violência desbragada
É uma coisa ilimitada
A estupidez humana
III
Inventou a escravidão
Para ele o natural
E na Grécia colossal
Tinha escravo e cidadão
Roma foi na mesma mão
Onde o Cezar assim se ufana
Pobre gente africana
Desde então é enjaulada
É uma coisa ilimitada
A estupidez humana
IV
Ser humano degradado
Construiu teocracias
Fez com elas tiranias
Com um deus guiando estado
A inquisição cruzado
Fez perseguição insana
Com aval da sé romana
A perseguição gestada
É uma coisa ilimitada
A estupidez humana

sábado, 5 de março de 2011

LIMITÂNCIA

Quem só leu social por profecia
Nem também conheceu por ler ciência
Vem falar com pseudo sapiência
E mostrar salvação por esta via

Implantar ditadura a tirania
Mas possui no falar incoerência
Por pregar sem fazer tal violência
Pois não vai fuzilar a burguesia

Esse vai condenar o diferente
Quem pensar e agir noutra vertente
Limitar o pensar tão imbuído

Juvenil utopia que professa
Tiranete enrustido não confessa
Um babaca fantoche do partido

ALLAN SALES

Lobo Homem



.
I
Radicais tem demais em todo canto
Tem cristão muçulmano tem budista
Tem judeu muito fundamentalista
A causar o terror e muito espanto
Dominar oprimir e outro tanto
Opressor diz que tem toda razão
E pra isso usa até religião
Espalhar sua fala em ressonância
Lobo-homem caça outro por ganância
Pouco importa seu deus e a tradição
II
Nos impérios seus atos mais tiranos
Pra tomar tantos bens modos cruéis
Dominar exibir os seus lauréis
Assim foram muitos gregos e romanos
Europeus e também americanos
Por aqui a fazer a exploração
As riquezas do mundo em pouca mão
O poder deles tem tal arrogância
Lobo-homem caça outro por ganância
Pouco importa seu deus e a tradição

III
Lobo homem cruel é um predador
Assassino senil do semelhante
Usurpar seu irmão é um arrogante
Assim é no poder um ditador
Seu poder imoral de um opressor
Promovendo no mundo a exclusão
Pra matar muitos mais de inanição
A moral não é sua substância
Lobo-homem caça outro por ganância
Pouco importa seu deus e a tradição
IV
Opressor que não tem moralidade
A roubar o futuro das nações
Promover com tal mil exclusões
Pesadelo cruel pra humanidade
Lobo homem que tem ferocidade
A negar liberdade em muito chão
Guerrear para a paz dizendo não
A mentir e negar em toda instância
Lobo-homem caça outro por ganância
Pouco importa seu deus e a tradição

V
Ô mundão desigual tão violento
Poucos tem por aqui um bem estar
Maioria do mundo a suplicar
Pela paz pela vida e o alimento
Opressor empregando o armamento
Sua voz pelas balas de um canhão
Seu poder lastreado em repressão
Seu falar de mentir com petulância
Lobo-homem caça outro por ganância
Pouco importa seu deus e a tradição
VI
Predador doutro homem que é igual
Mas assim seu poder vem e oprime
Cercear o pensar que assim suprime
Pra mandar de uma forma bestial
Militar por detrás o seu chacal
Pra manter tão cruel dominação
E pilhar os recursos da nação
E causar a exclusão tal discrepância
Lobo-homem caça outro por ganância
Pouco importa seu deus e a tradição

VII
Jeová ,Deus, Alá ,Buda qual nome
Vão usar toda crença pra oprimir
O direito de tantos suprimir
Espalhar a miséria e muita fome
Consciência maior nunca nos some
Nem nos turva pensar e ter visão
Os tiranos do mundo tem feição
Da cruel desumana dominância
Lobo-homem caça outro por ganância
Pouco importa seu deus e a tradição
VIII
Fanatismo que usam pra levar
Povaréu pelo escuro das mentiras
Espalhar pelo mundo tantas iras
Aparato que tem com militar
Reprimir cercear para explorar
Imprimir por aí a lei do cão
Seu penar substrato da opressão
Que não tem na verdade relevância
Lobo-homem caça outro por ganância
Pouco importa seu deus e a tradição

IX
Opressores do mundo são iguais
São vampiros cruéis da raça humana
Tem a fé na força mais tirana
Seu respaldo seus cães seus generais
Vão querer ouros pedras capitais
Pra manter seu poder de dar vazão
Aos instintos senis da danação
São razão da humana mendicância
Lobo-homem caça outro por ganância
Pouco importa seu deus e a tradição
X
São venais e prepostos dos impérios
Ditadores que são vis assassinos
Estes são seus poderes mais suínos
Os problemas que criam são bem sérios
Vão encher de famintos cemitérios
Seu poder se traduz em exploração
O fascismo dos tais é sem noção
Querem povo sempre na ignorância
Lobo-homem caça outro por ganância
Pouco importa seu deus e a tradição

Peleja Virtual

UM BELO DUETO: HELENO ALEXANDRE (SAPÉ-PB) & ALLAN SALES (RECIFE-PE)

Allan
Pra cantar desafio de primeira
É preciso estar bem preparado
Ter um verso na mente bem botado
E assim pontear e sem besteira
A viola que chega bem brejeira
Você dá no poema a pulsação
E assim vai mostrar sua canção
Como canta tão belo um sabiá
Quando canta um poema você dá
Uma aula de interpretação

Heleno
Você quando dedilha o instrumento
Pra cantar um poema de amor
Sinto a melodia ter sabor
Como a massa do o pão possui fermento
Você toca, tocando o sentimento
Sua voz alimenta o coração
E pra quem sofre problema de paixão
É o remédio mais eficaz que há
Quando canta um poema você dá
Uma aula de interpretação

Allan
Um poema que vem na voz de Heleno
Vem assim com a força bem ligeiro
Alexandre é bom ,bom violeiro
Pra fazer seu som galope sempre pleno
Pra cultura da gente faz aceno
E deixar versejar em profusão
Pois quem faz bom poema com razão
Canta aí canta lá eu canto cá
Quando canta um poema você dá
Uma aula de interpretação

Heleno
Mais de trinta colegas me disseram
Que você é uma grande referência
E na cultura que seja uma potência
Dez cidades no mínimo o consideram
Suas aulas me música me fizeram
Eu ser bom ao fazer composição
Felizmente aprendi sua lição
E estou apto pra arte desde já
Quando canta um poema você dá
Uma aula de interpretação

Allan
Zé Limeira baixou em mim um dia
E eu fui lá cantar num cabaré
Com Heleno poeta do Sapé
Que doidão sempre errava o que dizia
Pois Heleno doente de azia
Me pediu pra beber um alcatrão
Eu neguei dei-lhe duas com limão
Tira gosto foi peba com cajá
Quando canta um poema você dá
Uma aula de interpretação

Heleno
Pena que o governo não investe
Nessa sua real sabedoria
Professor entre os bons você seria
E quem achar que é mentira faça o teste
Sua música tem sido no Nordeste
O orgulho maior da região
Com destaque em Sergipe e Maranhão
E seu Estado de origem o Ceará
Quando canta um poema você dá
Uma aula de interpretação

Allan
Um governo que caga na cabeça
De quem é como nobre meu poeta
Um governo que não cumpre a meta
E talvez esse povo não mereça
O futuro poeta que aconteça
Traga assim novo rumo pra nação
Onde nós no poema e na canção
Pra fazer como faz um carcará
Quando canta um poema você dá
Uma aula de interpretação

Heleno
Muitas aulas pra mim você tem dado
Até Deus elogia o seu serviço
Sou poeta, mas foi por conta disso
Que Hoje em dia eu me sinto diplomado
Com certeza será capacitado
Qualquer um que passar por sua mão
Terá carta de recomendação
E sendo empresa, emissão de alvará
Quando canta um poema você dá
Uma aula de interpretação

Torto afeto

Um gostar que possui assimetria
A deixar muita alma em desalinho
A sonhar mendigar até carinho
Onde a luz não existe em cada dia

E ficar na maior melancolia
Só ver pedras por todo esse caminho
Sem a taça do sonho deste vinho
Que embriaga sutil nos contagia

Este amor nos renega e é tirano
E só traz o sofrer em todo plano
Tira o chão e até o nosso teto

Um amor que não vai tornar-se pleno
Só faz mal e da alma é um veneno
Pra quem é um refém de torto afeto

ALLAN SALES

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Amigos da Vila do IPSEP.

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Nos anos 70 era a Vila do IPSEP o local para onde eu me dirigia para meus lazeres e vida social que tive dos meus 14 anos até por volta dos 25 anos quando arribei de casa pro mundo. Lá eu tinha meus colegas de peladas de futebol, os parceiros das memoráveis pelejas de xadrez, porém, com o advento de minhas inserções no mundo do violão, por volta de 1978, é que ampliei bastante meus contatos com gente engraçada e divertida deste ambiente. Dos parceiros de xadrez, havia o Ronaldo, um cara muito estudioso, fez escola técnica e passou num dos vestibulares mais concorridos da época: o de engenharia elétrica da UFPE. Tinha mais dois irmãos Romero e Ricardo, ambos também afeitos ao gosto pelos os estudos, Ricardo, o mais velho, estudou química na UFPE, foi morar em Petrolina para trabalhar e por lá mesmo noivou e encomendou seu casamento, para desgosto da sua mãe que não gostava da futura nora. Mas isso não vem ao caso.

Havia um cara engraçadíssimo que morava na Vila Mauriceia: o Gilson, um mulato magro e enorme, escrotíssimo, tomador de cachaça e também tocador razoável de violão, gostava das músicas da dupla Toquinho e Vinícius, coisa que foi o nosso ponto de intersecção, sendo mote da nossa empatia e amizade. Gilson era comerciário, estudara em escola pública deficitária e tentara sem sucesso vestibular para medicina várias vezes. Ele era trabalhador e gostava demais da farra, passamos muitas noites em claro pelos botecos do bairro tocando e cantando, assim como promovendo toda sorte de molecagens e até algumas arruaças.

Uma vez ele me chamou pra me mostrar uma música sua que compusera em parceria com mais dois colegas, um brega engraçadíssimo chamado CHIFRADA EM TRAVESSEIRO, um troço escroto demais e com uma veia de humor escatológico impagável. Eu de pronto incorporei ao meu repertório, doravante, nas centenas de serenatas que fiz pra meus amigos inúteis de classe média babaca e consumista eu cantava essa pérola. Virou um “hit” já que muitos amigos que tocavam violão também a incorporaram, sendo até gravada e feito parte de shows de algumas bandas de garagem de mauricinhos que existiam como verdadeira epidemia no Recife dos anos 80.

Tanto Gilson, como Ronaldo e Ricardo eram conhecidos entre si e eventualmente se encontravam para fazer farra. Tínhamos muitos amigos em comum na vila, todo mundo se conhecia, jogava bola junto e enchia a cara quando aparecia oportunidade, sempre ao som dos nossos violões que eram presença obrigatória nestas ocasiões. Numa segunda-feira, eu acordara por volta das 11h da manhã e começava a me preparar pra ir para a universidade, minha avó tinha o hábito de ouvir rádio na maior altura, passava naquela hora as broncas policiais da cidade.

Ouvi no rádio uma notícia que um veículo Opala laranja, evitando colisão com uma moto batera com outro, perdera o controle e caíra no canal do mangue na Antônio Falcão, vindo a falecer todos os quatro ocupantes do veículo. Ao dizer os nomes dos falecidos, eu me liguei num nome bem familiar: Gilson José da Silva, que era o nome do nosso pândego amigo, não consegui ouvir os demais nomes. Um sobrenome tão comum, assim como o nome do colega, julguei ser um homônimo, coisa perfeitamente possível, mas bateu aquele sexto sentido em mim. Resolvi dar uma passada na vila para saber se era ele, antes de chegar em sua rua, passa por mim o seu irmão mais velho com os olhos vermelhos de tanto chorar, era ele mesmo. O irmão disse-me assim: - vai ser no Parque das Flores às 15h o enterro dos meninos. Eu perguntei quem eram os outros, ele me disse: Ronaldo e Ricardo e Luizinho o primo deles, que eu não conhecia. Eu gelei na hora, acabara de perder de uma só vez três chapas meus, pessoas finíssimas e pra cima , na flor da juventude, Ronaldo já formado e indo trabalhar numa grande empresa, Ricardo prestes a se casar, viera ao Recife tratar dos detalhes da cerimônia de casamento.

Foi triste demais ver aquele funeral coletivo, Gilson completamente deformado, segundo testemunhas, ainda tentara sair do Opala, mas ficou preso debatendo suas pernas pra fora da janela, o carro ficar virado de rodas pra cima e os amigos não tiveram a menor chance. Eles fizeram uma farra praieira e voltavam pra casa para que o Ricardo levasse sua mãe no seu carro para festa de fim de ano da escola de sua irmãzinha caçula. Uma linda colega nossa, que morava na mesma rua dos dois irmãos, estava no funeral e disse que escapou de morrer naquele dia porque recusou a carona pra casa por querer pegar mais um pouco de sol. Tempos depois, fiquei amigo do Romero, irmão mais novo do Ronaldo e Ricardo, que era menino demais nesses tempos para andar conosco, aprendera a tocar violão e baixo e tornou-se uma das melhores companhias que tive durante os dois anos em que saí de casa e morei na Vila da SUDENE.


ALLAN SALES

Pão e Circo

Eduardo Campos, reeleito com o maior percentual de votos do Brasil, governa um estado que tem um crescimento econômico maior do que a média do resto do país. Tem uma base parlamentar favorável,apoio de prefeitos da RMR, aliado da presidenta, a oposição sem força para se interpor entre ele e seus projetos, céu de brigadeiro total.

No campo da cultura teve problemas na FUNDARPE fruto de investigações do TCE, tomou providências, pondo na pasta um nome respeitável e consenso na classe artística para por ordem na casa. Agora vem o carnaval, ele e seus aliados municipais promovem uma série de atrações musicais nada recomendáveis em termos de bom gosto estético, algumas delas, porém festejadas pela mídia fabricante de sucessos de marketing musical, além das atrações nacionais, pagas em valores nunca pagos para as atrações locais.

É claro que eles não estão pensando em agradar à classe média urbana mais culta, que não aprecia esse tipo de atração, classe média bairrista que chega até a chamar de estrangeiros os artistas contratados nesta leva em nome do genérico multiculturalismo criado pelos gestores da cultura. O eleitorado deles são as classe “D”(a turma das bolsas sociais” e a classe “C” (que migrou da classe D e hoje forma a nova classe média consumidora), é pra esses que esse carnaval transgênico deverá ser feito e na certa vai agradar em cheio ao gosto massificado desse povo.

Fizeram esta escolha, os detratores falam em superfaturamento, caixa dois, essas coisas, sempre falarão coisas assim, nada de novo no front. A classe média indignada é dividida, uma parte é e sempre foi demo-tucana não causará baixas eleitorais, a outra parte que simpatizante e eleitora dos cabras, creio que não migrará em peso por causa do carnaval para o lado do povo de Jarbas-Maciel.

Pão e circo meus caros amigos artistas que por hora vão protestando indignados com esse novo feito dos poderosos de plantão. O poder no Brasil, não importa a cor ideológica, sempre tratou artes e artistas de forma ultilitarista, nisso os conservadores e os populistas são iguais, os revolucionários ainda não vi nenhum deles no poder. Quando estavam na baixa nos anos mais duros, eram as atrações culturais que agregavam valor aos comitês e campanhas. Agora perderam a utilidade, já que eles tem poder em todos os níveis, quase hegemônico, não precisam do DNA das raízes para justificar e dignificar as coisas.

A lógica do marketing fala mais alto, cacifes são postos em jogo, já vi esse filme em pequena escala quando um deles, delirando e embriagado pela vitória, teve a brilhante idéia de contratar para as festas de fim de ano Sandy e Junior. O argumento era que as pessoas mais pobres não tinham como assistir a dupla teen no Chevrolet Hall, deve ser a mesma lógica, já que não dá pras classes C e D viajarem pra brincar em Salvador, eles trazem os baianos pra divertir essa gente e ganhar seu suado dinheirinho de nossos impostos.

Mas 2012 está bem perto, tenho certeza que muitos artistas preteridos que hoje protestam irados demais, na certa cortejarão os representantes deles viáveis eleitoralmente para fazer jingles a preços módicos, virar cabos eleitorais, etc. e assim, poder estar perto dos que se sentam à mesa do banquete do poder em busca das suas migalhas, na esperança de um futuro afago da nova casa grande. Esse filme eu já vi antes também.

ALLAN SALES

domingo, 23 de janeiro de 2011

Ecos da contemporaneidade neo-mítica segundo Allan Sales.

Aqui no Nordeste o povo cultua como mitos um padre escroto e um bandido: Padim Ciço e Lampião.Acredita na santidade de um e no heroísmo do outro.

Eu fiz uma música nova hoje.
Propondo o resto país cantar uma música sobre outros padres escrotos e bandidos famosos.

Fiz três duplas de padre com bandido. Quem sabe assim o resto do país não adere à nossa moda esquisita de louvar figuras bizarras no lugar de gente como: Frei Caneca, Zumbi dos Palmares, Antônio Conselheiro, Delmiro Gouveia,Dom Hélder, General Abreu, que fizeram coisas bem mais interessantes que o padre mundano do Juazeiro e o ladrão e assassino arrochado de Serra Talhada.

I-
São dois cabras da peste que eu quero falar
O Padre Marcelo Rossi e Fernandinho Beira Mar

Fernandinho Beira Mar
Fez um monte de besteiras
Foi fazer uma parada
Com as FARC guerilheiras
A volante na Colômbia
Prendeu ele de bobeira

O Padre Marcelo Rossi
Que é gente muito fina
Um rapaz tão delicado
Dizem que é uma menina
Papa Bento acha esquisito
Essa Xuxa de batina

II-
São dois cabras da peste que na gente metem medo
Um deles é o Marcola o outro Padre Quevedo


Esse tal Padre Quevedo
Gosta de entortar colher
Fala mal de xangozeiro
Diz que é de Lúcifer
Detonando os macumbeiros
Também Chico Xavier

O Marcola de São Paulo
É famoso na TV
Hoje mora em Catanduvas
Por causa do PCC
Mas dentro da cadeia
Manda botar pra fuder

III-
São dois cabras da peste eu falo e não minto
Um deles Paulo Maluf e outro é o Padre Pinto

O Maluf é um ladrão
Na cadeia não se enrola
Padre Pinto é dançarino
Desmunheca e cantarola
Se Maluf é um salafrário
Padre Pinto é um boiola.

ALLAN SALES