terça-feira, 17 de abril de 2012

Abaixo as torcidas organizadas



Cidadão se estarrecendo
Vendo tanta excrescência
Gente tosca pelas ruas
Espalhando tal demência
O que antes foi torcida
Transformada enfurecida
Organiza a violência

Todo caos pela cidade
Depredando coletivos
A polícia em corretivos
Não detém a insanidade
Toda incivilidade
De moral tanta carência
Brucutus sem consciência
Multidão ensandecida
Transformada enfurecida
Organiza a violência

São assaltos arrastões
Coletivos depredados
Os do bem sempre assustados
Maloqueiras multidões
Entre eles tem ladrões
Combater e com urgência
Acabou-se a paciência
Clama a paz pra nossa vida
Transformada enfurecida
Organiza a violência

São um bando de animais
Fracassados perdedores
E suínos seus pendores
Os seus modos bestiais
Os apelos sociais
Pra barrar tal indecência
Sem moleza e leniência
Com tal gente poluída
Transformada enfurecida
Organiza a violência

São bandidos desgraçados
A posar de torcedores
Este circo de horrores
Em que somos arrastados
Os lazeres maculados
Com tamanha incongruência
Um modelo vê falência
Desta turba enlouquecida
Transformada enfurecida
Organiza a violência

São um bando de frustrados
Como um lixo social
Com o seu pendor fecal
Onde tem os celerados
Porcos tão deseducados
Turba lhes dá anuência
Se tem pouca inteligência
Tal gentalha embrutecida
Transformada enfurecida
Organiza a violência

Vamos dar um basta agora
Nesta coisa absurda
A justiça não é surda
Sabe que chegou a hora
Combater e sem demora
Deve ter tal incumbência
O seu cheiro tem essência
De privada entupida
Transformada enfurecida
Organiza a violência

Rubros negros tricolores
Alvirrubros e toda cor
Cidadão e torcedor
Vê tal crise de valores
Governantes meus senhores
Combater com competência
Sufocar tal decadência
Dos costumes espargida
Transformada enfurecida
Organiza a violência

Vou contar outra vitória
E gritar cazá cazá
Ver timbu dizer de cá
Dar um basta nesta escória
Superar triste memória
Acalmar tal turbulência
Restauremos a decência
Que agora está perdida
Organize-se a torcida
Nunca mais a violência

domingo, 15 de abril de 2012

Meu amigo Coronel PM Adalberto Lins Sales.

Dos meus doze aos meus dezoito anos eu fui aluno do CPM, Colégio da Polícia Militar de Pernambuco. Este foi fundado em 1967 com o intuito de ser preparatório e encaminhar jovens para o oficialato da nossa PM. Tinha a mesma formatação do Colégio Militar do Recife, do Exército Brasileiro e demais congêneres espalhado Brasil afora.

Por pressão de minha mãe, que me queria milico de todo jeito, a matriarca, quando eu tinha onze anos de idade perguntou se eu queria estudar em qual dos dois colégios militares que existiam no Recife, sem opção de estudar como todo jovem normal em algo menos neurótico do que as duas únicas opções que ela me colocou. Terminei prestando exame no CPM, onde eu estudara a quinta série de admissão ao ginasial, justamente num curso preparatório mantido por um major aposentado da PM e que funcionava dentro das instalações do colégio.

Até o terceiro ginasial eu fui de comportamento exemplar, sempre tive boas notas, estando sempre entre os primeiros de minha turma. A partir da quarta série, eu comecei a aprontar demais disciplinarmente e assim forçar minha expulsão já que perdera completamente a vontade de um dia ser militar. Novamente, a matriarca pegou pesado, tive que encarar o restante dos sete anos de colégio de milico. Foi nessa fase conturbada em que o jovem Tenente Sales, chegou para trabalhar no colégio, justamente na sessão de instrução, responsável pelas punições disciplinares dos alunos perturbadores da ordem.

Eu apesar das notas altas, das minhas promoções a aluno tenente e a aluno capitão, passara a esculhambar demais no colégio. Ridicularizar professores, sair na porrada com vários colegas, desacatar sargentos monitores sem falar no meu vocabulário de rapazola desbocado, inclusive em sala de aula quando alguém me torrava o saco. Foi uma punição atrás da outra, meu conceito disciplinar baixando, levei umas broncas feias em casa por causa do excesso de molecagem. Foi aí que o Sales entrou em cena.

O então capitão Sales me chamou pra conversar, com minha ficha na frente, segundo da minha turma, só passava por média. Ele me perguntou uma coisa bem simples:- fora perturbar o juízo dos outros, o que você mais gosta e sabe fazer? Eu respondi:- jogar xadrez. Ele prontamente me encaminhou para a incipiente equipe de xadrez do colégio, onde dois irmãos cearenses e mais um outro rapaz do Recife dominavam a cena. Fui colocado para treinar com eles, quando um dos titulares da equipe foi expulso do colégio por ter chamado um sargento de filho da puta e saído na porrada com ele, eu me candidatei a ocupar sua vaga.

Ganhei o torneio de acesso à vaga deixada pelo colega aloprado dei uma parada com as molecagens por uns tempos. Em 1976, quando jogávamos o campeonato estudantil do estado, eu levei uma punição de três dias de suspensão. Uma semana antes dos jogos estudantis, durante a formatura antes das aulas, eu levara um radinho de pilha pro colégio. Durante a formatura eu liguei o rádio, que tocava um forró bem animado, e eu meu colega de equipe de xadrez Aércio dançamos um xaxado. Flagrados pelo nosso monitor, levamos uma parte, e numa segunda feira, soubemos que fomos suspensos das aulas em plenos jogos estudantis.

Minha mãe ficou louca quando soube, eu chegara no limite atingir o comportamento mau, e daí para ser expulso, bastava só uma simples repreensão. Ela foi ao colégio reclamar com Sales, como é que um menino defendendo o nome do colégio em competição era punido daquele jeito? Ela disse que por ela, eu não jogaria mais pelo colégio. Sales, que é psicólogo também, abriu calmamente sua gaveta, e mostrou pra minha mãe pelo menos 10 partes dos sargentos com meu nome. E disse pra ela: - olhe, essa do xaxado é alteração mais leve que ele deu esse mês. Os sargentos vivem aqui reclamado porque ele não é punido. Justamente pelo fato da equipe de xadrez estar indo bem, eu encaminhei essa, mas o coronel mandou punir com três dias seu filho.

E foi assim que ao final de mais duas semanas, ao ganhar o vice-campeonato de xadrez e no ano seguinte o campeonato estudantil, primeira conquista de ouro do CPM, que meu grande amigo Sales me livrou de ser expulso por indisciplina do colégio.

Minha promoção a major aluno foi vetada pelo subcomandante nesse mesmo ano, pois um dia, depois de perder uma partida de tênis de mesa, eu dei um berro pavoroso no pátio colégio,um sonoro puta que pariu, em seguida dei pique e dei um chute numa parede azulejos do recinto de jogos, quebrei pelo menos uma três azulejos com essa pesada. O major, mandou-me conversar com o novo chefe da disciplina que era linha dura e me detestava. Mais uns três dias em casa pra acalmar meu juízo. Dessa vez não fui expulso porque meus feitos na equipe de xadrez me renderam uma série de elogios no boletim disciplinar, coisa que anulava as punições disciplinares que acumulara naqueles tempos.

Os dois últimos anos eu parei com essa coisa toda, tinha que estudar pro vestibular e isso me tirava energia demais pra perder meu tempo com essa rebeldia sem futuro.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Mote de Raphael Moura

Quem trai é gente sem alma
Que faz sofrer outro alguém
Quem trai não é ser do bem
Quem trai faz sim perder calma
Quem trai traz risco na palma
Quem trai é ser enrustido
Quem trai e deixa dorido
Pratica a leviandade
QUEM TRAI NAO SENTE A METADE
DA DOR DE QUEM FOI TRAÍDO

Quem trai não tem sentimento
Nem pensa em ter futuro
Quem trai é um ser tão duro
Que do sofrer faz fomento
Quem trai é ser lazarento
Que vive nesse moído
Quem trai faz sem alarido
Pois trai assim a verdade
QUEM TRAI NAO SENTE A METADE
DA DOR DE QUEM FOI TRAÍDO

Dalila traiu Sansão
E Judas traiu Jesus
JC morreu na cruz
E Eva garfou adão
Salomé traiu João
Tiradentes conduzido
No cadafalso seguido
Por sonhar com liberdade
QUEM TRAI NAO SENTE A METADE
DA DOR DE QUEM FOI TRAÍDO


Os políticos também
Praticando a traição
Bandear de posição
Muita gente se dá bem
Vai trair ganhar vintém
O povão votou iludido
A história do partido
Troca por comodidade
QUEM TRAI NAO SENTE A METADE
DA DOR DE QUEM FOI TRAÍDO


Gente que traiu Arraes
Gente que traiu Brizola
Gente que ficou na cola
Dos babões dos generais
Gente que por vis metais
Foi dar uma de sabido
Hoje em dia esquecido
Perante a sociedade
QUEM TRAI NAO SENTE A METADE
DA DOR DE QUEM FOI TRAÍDO

Um João ficou de costa
Pro João da peãozada
Hoje dança parada
Vai na mídia e faz proposta
No poder fazendo bosta
Rejeitado e cuspido
Se na urna está fudido
Pede a Dilma caridade
QUEM TRAI NAO SENTE A METADE
DA DOR DE QUEM FOI TRAÍDO

Levar gaia ou ser garfado
Neste rol das traições
Traem todos rufiões
Trai quem é cabra safado
Trai prefeito e deputado
Trai juiz de toga ungido
Trai mulher e com gemido
Ricardão fode à vontade
QUEM TRAI NAO SENTE A METADE
DA DOR DE QUEM FOI TRAÍDO

Até nossa rola trai
Quando nós envelhecemos
Mole não mais fuderemos
Com Viagra até que vai
Pois rola quando cai
Vira é pau amolecido
Com Viagra é renascido
Como que na mocidade
QUEM TRAI NAO SENTE A METADE
DA DOR DE QUEM FOI TRAÍDO

ROTINA DE TOCADOR DE BOTECO.



Tocar na noite é como ser um garçom que serve música. As pessoas vão na expectativa de ouvir aquilo com o que se identificam, isso varia com idade, origem social , grau de instrução , etc. É muito difícil agradar e /ou atender a todos os pedidos musicais que as pessoas geralmente fazem, muitas vezes sem perceber qual o perfil de quem está se apresentando. É como se pedissem pra comer um sushi estando em cantina italiana.

Felizmente, nos locais nos quais eu me apresento hoje, no Bar do Dedé (sábados,18h, na Vila do IPSEP desde janeiro de 2012) e Mercado da Boa Vista(11:30h,nos domingos desde 2008), os dois públicos são muito educados e compreendem sem grandes polêmicas quando não é possível atender a um desses pedidos. Mas, tem vezes que acontece algo fora desse padrão, tem pessoas que fazem abordagens agressivas e deseducadas quando não compreendem nossa impossibilidade de atender suas demandas , a gente tenta ser diplomata, mas tem hora que tampa da panela de pressão entra em colapso e gente é obrigado a dar uma regulada nesse tipo de gente sem noção.

Pois é, uma vez eu tocava num boteco na Imbiribeira , fazia um repertório de MPB, coisas de nosso Gonzaga ,Alceu Valença, Fagner, Geraldo Azevedo, Chico Buarque, Tom Jobim, Noel Rosa , Pixinguinha etc. Uma dupla de rapazes jovens e bem musculosos, esse tipo que anda em academia malhando, andam com camisetas cavadas,exibindo a marra pro povo. Chegaram pra beber lá e um deles da mesa me pedia para eu cantar uma música de Fábio Junior.Como esse compositor não está listado em meu repertório, eu, educadamente, disse ao jovem que não conhecia peças musicais do mesmo.

Antes de ir embora, um deles veio até meu palco, com toda grosseria peculiar de gente imbecil me disse: - esse seu repertório é uma merda, por que você não aprende as músicas de Fábio Junior? Eu calmamente respondi:- meu amigo, a música que esse cabra faz é pra agradar menininhas retardadas e baitolas. Fechou o tempo, ele só não brigou porque o bar ficava cerca de 150 metros de uma base comunitária da PM.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

mote achado no facebook

Quem tira nossa energia
Quem enche bem nosso saco
Quem derruba nosso taco
Quem nunca tem serventia
Quem vive na vilania
Quem nos rouba nossa paz
Quem nosso céu o desfaz
Quem nossa vida atenta
Quem nada nos acrescenta
Nenhuma falta nos faz

Gente assim é uma desgraça
Veio ao mundo a perturbar
Nada faz para mudar
Adora ser da trapaça
Gente ruim vem e passa
Hiena ruim contumaz
Nossa derrota o compraz
Lorota besta que inventa
Quem nada nos acrescenta
Nenhuma falta nos faz

Quem nada novo propõe
Quem sempre dá mau pitaco
Quem possui juízo fraco
Quem lado negro supõe
Quem tira e não repõe
Quem é fujão contumaz
Quem faz o mal e refaz
Quem tem a alma nojenta
Quem nada nos acrescenta
Nenhuma falta nos faz

Só chega é na vantagem
Querendo aba de tudo
Carecedor de estudo
Um comedor de lavagem
Este ás da rapinagem
Um lobo sutil voraz
É raposa ladravaz
Duma ganância opulenta
Quem nada nos acrescenta
Nenhuma falta nos faz

Nenhuma falta fazendo
Nenhuma coisa nos dá
Nenhuma coisa fará
Nenhuma coisa acrescendo
Nenhuma coisa nascendo
Nenhuma coisa vivaz
Nenhuma coisa assaz
Nenhuma coisa que inventa
Quem nada nos acrescenta
Nenhuma falta nos faz

Vampirescos mortos vivos
A sugar os que produzem
Ao erro que nos induzem
Como seus falares furtivos
Pra isso são criativos
De menino até rapaz
Pra ferrar tem muito gás
Vem sutil lhe apoquenta
Quem nada nos acrescenta
Nenhuma falta nos faz

Vampirescos mortos vivos
A sugar os que produzem
Ao erro que nos induzem
Como seus falares furtivos
Pra isso são criativos
De menino até rapaz
Pra ferrar tem muito gás
Vem sutil lhe apoquenta
Quem nada nos acrescenta
Nenhuma falta nos faz

Gente escrota oportunista
Que fala mas sem ação
Que confunde a intenção
Nas taras de um vigarista
As artes de ilusionista
No ofício do incapaz
Que nada bom e veraz
Pra gente nos apresenta
Quem nada nos acrescenta
Nenhuma falta nos faz

Quem nunca traz solução
Quem nunca nos elogia
Quem nunca nos contagia
Quem nunca nos dá a mão
Quem nunca bota um tostão
Quem nunca que é capaz
Quem nunca moça ou rapaz
Quem nunca nada sustenta
Quem nada nos acrescenta
Nenhuma falta nos faz

Quem sempre maledicente
Quem sempre longe da vista
Quem sempre roda na pista
Quem sempre o indolente
Quem sempre inventa e mente
Quem sempre fala mordaz
Quem sempre é leva e traz
Quem sempre a lenha senta
Quem nada nos acrescenta
Nenhuma falta nos faz

sábado, 7 de abril de 2012

EU E A ESQUERDA.

Fui educado em escola militar (Colégio da Polícia Militar) nos anos 70 dos meus 12 aos 18 anos, sujeito ao caldo de cultura típico de orientação de direita ultra reacionária, com uma intensa propaganda anticomunista por parte da maior parte dos professores militares. Entre os professores civis, tinha um que era político de Olinda, membro do partido aliado da ditadura a ARENA. Na eleição de 1978, eu e alguns colegas já éramos eleitores, Jarbas Vasconcelos naqueles tempos fazia parte do campo da esquerda enfrentava dois candidatos do outro lado, eu e alguns colegas éramos seus eleitores, não me perguntem por que isso, que eu mesmo não sabia porque votava nele. Entre as pessoas que eu mais prezava, alguns eram irmãos mais velhos do meu melhor amigo, junto deles andavam pessoas que eram opositoras do regime militar, gente do movimento estudantil, um deles ultra esquerdista que até atentado sofrera dentro das instalações da UNICAP. Panfletários e arrochados demais viviam nos doutrinando acerca dos malefícios do regime dos generais, ouvi tanta ladainha dessa gente que terminei sendo catequizado, mas sem me envolver com militância.

Era proibido no colégio fazer proselitismo político por orientação do nosso comandante, um coronel PM liberal, que não via com bons olhos esse tipo de coisa. No colégio, lembro de um dia em que esse professorzinho de História do Brasil, um fascista, veio nos orientar a votar na ARENA pois o MDB era um partido de bandidos e cabras safados. Um colega nosso da cidade de Bezerros, cujo pai era político, justamente do PMDB, levantou aloprado dizendo: cabra safado e bandido é você, meu pai é um homem de bem seu filho da puta. Dizendo isso e partindo pra cima do cabra que cagou fino, chegou o direitista até chamar o sargento monitor para a sala, sendo o colega levado para justificar sua indisciplina diante do oficial que cuidava dessa parte. Em condições normais, o colega pegaria uma punição disciplinar, mas, em vista de que o professor também cometera um erro ainda mais grave, ficou o dito pelo não dito.

Minha admiração pela União Soviética vinha do fato de ser eu jogador de xadrez, os campeões mundiais da era áurea do xadrez eram soviéticos, era que se consolidou em 1948 com a vitória do meu ídolo Mikhail Botvinik, seguido de Vassily Smislov, Tigran Petrossian, Mikhail Thal, Boris Spasky. Meus livros de xadrez, a maior parte em espanhol, tinham muitas citações às virtudes do regime de “socialismo real” vivenciado pela “pátria do socialismo”. Por influência dos meus amigos vermelhos lá da Vila do IPSEP, comecei a ler O Pasquim, assim como os jornais clandestinos da imprensa nanica da esquerda.

Em 1979, fui convocado para servir o Exército Brasileiro, justamente no CPOR do Recife, muito a contragosto, mas, já que estava lá, dei um jeito de cumprir as obrigações de cidadão sem grandes turbulências, tanto que conclui meu serviço militar sem nenhuma punição disciplinar e classificado com segundo lugar da minha turma de aspirantes a oficial R2 da Arma de Engenharia. Foi um suplício, além da total falta de vocação para a vida da caserna, ter que agüentar por um ano e mais quarenta e cinco dias de estágio num batalhão em Natal a cantilena fascista dos meus instrutores e comandantes. Uns mais, outros menos, mas era um choque cultural enorme, ter tido dos meus 17 aos 19 anos uma vivência livresca que me fez pensar à esquerda e ser um opositor da ditadura militar, ter ouvir aquela doutrinação toda e ver colegas entrarem na onda dos milicos era cruel demais.

Em 1980, na UFPE cursando Matemática, caí intensamente nas leituras de Eduardo Galeano(As veias abertas da América Latina), Leo Hubberman (A história da riqueza do homem), O PASQUIM, os jornais dos partidos de esquerda (Tribuna Operária do PC do B) e uma publicação socialista Cadernos do Terceiro Mundo. Li também A Ilha (de Fernando Morais) assim como o Manifesto do Partido Comunista (Karl Marx). Lia isso às escondidas em casa, já que meu avô com quem eu morava, era um milico linha dura que serviu às ditaduras de Vargas e à ditadura de 64, pelo menos como seu entusiasta e simpatizante.

Em 1982, fui trabalhar como músico e diretor musical com um dramaturgo chamado Joacir de Castro, velho militante do Partido Comunista Brasileiro. Fora ele um dos militantes do extinto MCP (Movimento de Cultura Popular) que fora perseguido de desmontado pela ditadura militar. Era comunista aguerrido e sua dramaturgia era engajada, muitas vezes chegando a ser panfletária. Pelas suas mãos e dos professores do Centro de Educação da UFPE completei com as leituras da obra de Paulo Freire e Darcy Ribeiro minha adesão ao campo ideológico da esquerda.

Em 1985, morando fora de casa e trabalhando com um povo ligado ao PCB num grupo de teatro na Vila o IPSEP terminei virando militante do “partidão” durante cerca de um ano e meio, chegando a ser eleito secretário político da base da Vila do IPSEP. Amigos meus ligados os PC do B que viviam me chamando pro lado deles reagiram indignados com minha adesão a um partido revisionista de quem se declaravam inimigos, aliás como artista era cortejado e paparicado naqueles tempos pelas forças de esquerda. Esse ano de 1985 era ano de eleição e eu mergulhei fundo na campanha para prefeito de Roberto Freire que teve uma pífia votação de 3% dos votos, militei durante uma campanha eleitoral, não tive acesso ao processo de formação ideológica de quadros, na base do oba-oba da campanha.

Terminei dando razão aos colegas do PC do B, abandonando a militância no PCB, mas não aderi mais a nenhum partido de esquerda organizada. Não me adaptei às formas de relacionamento baseadas no “centralismo democrático”, a hierarquia partidária, o dízimo e a mesmice do pensar e do palavrório dos camaradas. Ser militante não era mesmo do meu feitio de ser e estar no mundo, mesmo assim permaneci fiel aos postulados de esquerda, passei a votar nos candidatos do PC do B a partir desses anos que se seguiram a 1986. Admirava sua coragem na luta armada na Guerrilha do Araguaia, além do fato do partido ser uma força monolítica, ao contrário do PT que desde a origem sempre foi uma miríade de tendências ideológicas, muitas vezes conflitantes e rivais entre si.

Vivi sete anos com uma militante da tendência stalinista que lutou no Araguaia, isso me fez conhecer de perto a militância e a cúpula comunista no Recife e Olinda, participar como voluntário em atos do partido, animando comitês eleitorais e festas para arrecadar fundos pras campanhas a deputado e vereador que se seguiram ao ano de 1990. Até 2000, permaneci simpatizante dos comunistas, testemunhei o desencanto com fim do sonho comunista com a queda do Muro de Berlim, assim como a verdadeira feição do último bastião comunista que lhes servia de paradigma: a Albânia, uma fraude social como tudo que ocorria no leste europeu, coisa que eles sempre negavam.

Em 2002 companheiros do PT ligados aos órgãos de cultura no Recife passaram a me convocar para trabalhos culturais. Fui num crescente sendo prestigiado para inúmeros projetos em música e cordel e nunca fui cooptado nem cobrado por eles para tomar parte em atividades eleitorais do partido. Os comunistas em 2004, somente na época de eleição, se lembraram da minha existência mandando suas correspondências convidando para inaugurar comitês, etc. Na lógica deles, a solidariedade deles é apenas com sua militância, as demais pessoas só existem nessas ocasiões, pelo menos em relação ao meu caso é assim, não falo pelas demais pessoas. Teve um deles que chegou a me perguntar desde quando eu me tornara “traidor do povo”, ao ver minha pessoa com um adesivo eleitoral do deputado Fernando Ferro. Eu disse : - desde quando Fernando Ferro que é aliado do seu partido em Brasília é uma traidor do povo? Um deputado dos mais combativos, inclusive na CPI do Narcotráfico? Nada me respondeu.

Em outra ocasião, em 2004, uma militante, candidata comunista a vereadora em Olinda me chamou pra tocar de graça no comitê dela. Eu disse que no mesmo dia e hora, uma sexta-feira,eu tocava num boteco e que se ela bancasse o cachê do bar eu animaria o comitê dela. Ela me perguntou desde quando eu me tornara mercenário. Eu estava em Olinda indo buscar meus filhos que moram com a mãe, que nesta hora se aproximavam de mim trazidos pela genitora deles. Eu apontei pros três que subiam a ladeira e disse: - Virei mercenário desde quando trepei duas vezes sem camisinha com aquela mulher ali e nasceram aqueles dois meninos.Esta moça ficou dialeticamente calada. Um terceiro deles me ameaçou recentemente com um paredão quando ri dos lamentos dele como o ocaso de Fidel Castro e que Cuba era o último sonho da Humanidade, eu ri mais ainda, pois o coitado é um alcoólatra decadente e não agüenta nem segurar um fuzil pra tomar o poder na luta armada e depois fuzilar a quem chamam de inimigos do povo no meio dos quais eu estou incluído agora. De pé ó vítimas da fome........ Trabalhar para a direita nunca fiz e nem pretendo fazer na vida, porém, trabalhar de graça para a esquerda como no tempo das vacas magras (deles é claro) nem pensar.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

CRISE IBÉRICA.



Estrofe do meu filho Eduardo Sales

E a Grécia gloriosa
Mãe de muitos pensadores
Se afunda na pobreza
Faz de idosos devedores
Renegando seu passado
Atira pra qualquer lado
Um real circo de horrores

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Feita a partir desta minha:

Portugal que foi potência
Caravela com canhão
Saqueou coisas no mundo
Promoveu a escravidão
O poder que fez com arma
Hoje vem pagar seu carma
Pobre com pires na mão

Alemanha muito rica
Reticente em ajudar
Teus escudos já não valem
Só reais de além mar
Índia livre com Mahatma
Tu só tens virgem de Fátima
Só Jesus pra te salvar

Espanhóis por outro lado
Não nos tratam muito bem
Achacando brasileiros
Que ali vão sem vintém
Como os lusos na proposta
Vão nadar na mesma bosta
Vão no cu tomar também Allan Sales
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OS PODERES E OS ARTISTAS

Se agora pede apoio
Quem fugiu por quatro anos
Vai ficar só com seus manos
Separei trigo de joio
Em você aqui de ôio
Vendo coisas que acontecem
Seus poderes que perecem
As verdades se devassam
Os poderes vem e passam
Os artistas permanecem

Não nasci pra ser escada
De traíra e demagogo
E no fim desse tal jogo
O povão dará sacada
Detonar toda cambada
O tão pouco que oferecem
O desprezo que merecem
As justiças que se façam
Os poderes vem e passam
Os artistas permanecem

Nem um jingle baratinho
Ou de graça na campanha
Sem conversa sem barganha
Sem cordel toques no pinho
Vou ali noutro caminho
Outras coisas que florescem
E vocês só aparecem
Quando a crises lhes transpassam
Os poderes vem e passam
Os artistas permanecem

Esse filme já vi antes
E bem sei como ele acaba
Onde o teto seu desaba
Onde findam seus rompantes
Aderentes bem falantes
Achará, pois acontecem
Mas depois desaparecem
Se vitórias já não grassam
Os poderes vem e passam
Os artistas permanecem

Direitosos esquerdistas
Salvadores da nação
Seu palanque onde estão
Teses tão salvacionistas
Demagogos e fascistas
As campanhas se aquecem
Cargos sim lhes apetecem
E por eles tudo traçam
Os poderes vem e passam
Cidadãos não, permanecem

Os canalhas: transitórios
O povão é permanente
Esse tem cara de gente
E vocês só falatórios
A fundar seus diretórios
Sem findar não arrefecem
Com poder se embevecem
E por ele sempre caçam
Os poderes vem e passam
Cidadãos não, permanecem

Vermelhinhos ou tucanos
Democrata que é patrão
Outro é social cristão
Outros são republicanos
Evanjegues mais insanos
Pedem votos e esquecem
Em Brasília acontecem
E a nossa batata assam
Os poderes vem e passam
Cidadãos não, permanecem

Arrochados moralistas
Ruralistas mais ferozes
Muitos lobos e algozes
Muitos são oportunistas
No poder sempre surfistas
Os que sobem os que descem
Mas nunca desaparecem
Seu bastão sempre repassam
Os poderes vem e passam
Cidadãos não, permanecem

Temos sim democracia
Bem melhor que ditadura
A miséria que perdura
Nossa santa hipocrisia
Passa bem a burguesia
Acham que tudo merecem
Pobretões se embrutecem
Os poderes lhes amassam
Os poderes vem e passam
Cidadãos não, permanecem

Eita que país escroto
Esse nosso em que vivemos
As elites que nós temos
Tem na mente um grande esgoto
Seu poder sempre maroto
Suas mídias que entorpecem
Esperanças não falecem
Detonar tudo que façam
Os poderes vem e passam
Cidadãos não, permanecem

Essa classe dirigente
Tão assim degenerada
De ganância desbragada
Meliante e renitente
Vou peitar ela de frente
Detonar ervas que crescem
Seus valores que apodrecem
Que as virtudes se refaçam
Os poderes vem e passam
Cidadãos não, permanecem

Dar um voto consciente
É melhor que branco ou nulo
E não ser qual mula e mulo
Dando uma de demente
Cidadão independente
Nada bom eles fornecem
E assim reaparecem
Como cobras que enlaçam
Os poderes vem e passam
Cidadãos não, permanecem

quinta-feira, 5 de abril de 2012

SEM PROJETOS DE PAÍS/ SÓ PROJETOS PESSOAIS



O Brasil capitania
Um Brasil de escravidão
Do açúcar produção
Cativeiro a tirania
O atraso e a porfia
Os castigos bestiais
Negros como animais
Repressões fortes viris
Sem projetos pro país
Só projetos pessoais

O Brasil ouro das minas
Prosseguiu na exploração
A manter vil condição
Das ganâncias mais ferinas
As senzalas tão suínas
Lucro de barões feudais
Tradições porcas demais
Que aplaudem pedem bis
Sem projetos pro país
Só projetos pessoais

O Brasil Pedro Primeiro
De império tresloucado
Negro ainda escravizado
No penar de um cativeiro
Todo traficar negreiro
As rotas comerciais
Os quilombos fraternais
Onde todos são zumbis
Sem projetos pro país
Só projetos pessoais

Outro Pedro imperador
Um Brasil em mesma via
Cativeiro e vilania
Sangue com suor e dor
O Brasil trabalhador
A chegar preso no cais
Para sendas laborais
Esta foi nossa matriz
Sem projetos pro país
Só projetos pessoais

O Brasil republicano
Sob a bota militar
Nada vem aqui mudar
De poder sempre tirano
Todo quadro desumano
Do poder dos marechais
Repressões que são gerais
Baionetas com fuzis
Sem projetos pro país
Só projetos pessoais

Trinta com revolução
Com Getúlio no poder
Velha fome a acontecer
Toda forma de opressão
Um Brasil de repressão
Dos poderes estatais
Caças de policiais
Sindicais estudantis
Sem projetos pro país
Só projetos pessoais

O Brasil João Goulart
Descambando em ditadura
Repressão cruel tão dura
Do regime militar
Perseguir e torturar
Comunistas como tais
Com as armas mais letais
Do poder força motriz
Sem projetos pro país
Só projetos pessoais

O Brasil da liberdade
Vai milico pro quartel
E Tancredo foi pro céu
Zé Sarney a autoridade
Collor foi temeridade
Itamar Fernando a mais
Lula com seus sindicais
E prosseguem mil ardis
Sem projetos pro país
Só projetos pessoais

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Meu amigo Ivinho.



Uma das figuras mais interessantes do meio musical que conheço é Ivinho,Ivison Wanderley Pessoa, musicista antológico que nos anos 70 no Recife causou enorme sensação como guitarrista do extinto grupo Ave Sangria, pioneiro da cena vanguardista no Recife, ecos do movimento tropicalista em nossa terra. Mas o episódio mais marcante de sua vida e carreira artística foi justamente sua memorável performance com um violão de 12 cordas no Festival de Montreux, pela é conhecido e consagrado em face às inusitadas frases que ele conseguiu arrancar do violão de 12 cordas, que ainda por cima estava avariado com um enorme buraco na caixa, mesmo assim ele encarou o palco e marcou de forma indelével sua presença no cenário internacional da música.

Ivinho é um querido amigo.Não conseguiu estabelecer-se como merecia seu grande talento nas cenas musicais nas quais despontou.Hoje é um pálida sombra daquele cometa que irradiou sua luz em Montreux, a doença mental que o acomete, a dispersão que ele mesmo se causa com os excessos de álcool, fazem dele uma espécie de paródia de si mesmo.

Já tive o privilégio de inúmeras vezes topar com ele no centro, nos arredores do Pátio de Santa Cruz e ele me desafiar pra pelejas com cordas dedilhadas. Sempre com frases desconexas ele aparece e fala, muitas vezes some sem dar a mínima, outras vezes me pega pelo braço e toca pra mim as coisas que ele vem sempre elaborando.

Uma das mais emocionantes, foi uma que ele fez após uma noite tórrida de sexo com uma desvairada que morava no centro e um dia levou ele para o apartamento dela e transou com de forma avassaladora.Ele parecia um menino que ganhara um presente novo,me abordou , perguntou se eu conhecia a fulana(eu conhecia) ,contou sem pudores como transou a noite toda com ela, depois cantou uma balada apaixonada,coisa fina demais, que infelizmente o mundo em que ele hoje se vê refém não permite que ele possa compartilhar isso com mais pessoas.

A mais recente tertúlia nossa foi num sábado desses no Whiskitório(Mercado da Boa Vista).Eu cheguei, ele estava em companhia de Ivan Morais e Tito Lívio. Ivinho pediu que eu emprestasse o meu violão para o o Ivan tocar em dueto com ele.Tocaram coisas dos Beatles, Bob Dylan, em seguida Tito Lívio me mostrou uma música recente que ele fez em memória do seu pai.Depois eu tive a felicidade de pegar a bela peça de Tito Lívio e colocar um arranjo de violão com acordes mais elaborados.

Ivinho lá do canto dele falava alucinado, dando seu aval pra minha elaboração harmônica, é uma pessoa fascinante que é preciso entender a fragilidade que a esquizofrenia e o passado de experiências lisérgicas provocaram no psiquismo dele, e deixar ele fluir suas coisas, pena que nosso mundo excludente não tenha canais para dar vazão às pessoas que são verdadeiras forças da natureza como ele.

AO JUDAS

O padrinho do passado
No presente agora enjeita
Rejeitado pelo povo
Que conversa não aceita
Não votei por vassalagem
Nem farei só por chantagem
De uma volta da direita

domingo, 1 de abril de 2012

CASA DIVIDIDA.



O PT de Recife vive uma outra crise. O que acontecerá se Maurício Rands for o indicado?
Vai dizer o que ao povo? Que é aliado do prefeito com o qual disputou as prévias, que foram acionadas em face ao baixo nível de aprovação do João da Costa, que insiste no discurso de que fez grandes realizações no Recife, o que em parte é verdade levando em conta o montante de obras que a administração fez e vem fazendo, mas a coisa não se resume a isso,grandes realizações até Paulo Maluf fez.

Ou seja, com a prévia fica claro que parte do partido não confia na capacidade do atual prefeito em renovar o mandato e tocar, segundo eles, o “projeto do partido para o Recife”.

A questão aqui não é projeto do partido, é de projetos pessoais mesmo, de grupos que sempre se digladiaram que usam o fato do prefeito ter uma avaliação deficitária junto ao eleitorado para lançar um antigo postulante ao cargo desde os tempos de João Paulo. Rejeição popular é coisa que campanha nenhuma pode reverter, pois isso é fato notório e consumado.

Com João da Costa vai ser difícil convencer o povo a votar no PT, mesmo com Lula e Dilma vindo pra carregar o andor.

Com Maurício, gente do partido que perder a prévia vai fazer corpo mole e até mesmo boicotar a campanha, e o grande problema, o que ele vai dizer? Vim aqui consertar as cagadas que meu companheiro fez, prometo ser tão bonzinho como João Paulo foi.

Afogar mágoas??

Tentei mágoas afogar
Com cachaça vinho e tais
E assim enchendo a cara
Embebi doses a mais
Hoje sóbrio bebo águas
Não se pode afogar mágoas
Elas nadam bem demais

Allan Sales, 21/11/11