Tocar em bares é muitas vezes uma tarefa que nos exige ter atitude. Nosso compromisso como nosso público, manter o nível de nosso trabalho, acredito deva ser nossa meta, assim como deve ser de todo profissional de qualquer ramo de atividade.
É por demais comum aparecerem colegas nossos e outras pessoas que são músicos nos ambientes nos quais nos apresentamos, muitas vezes outros músicos nos pedem uma chance de usar nosso palco para divulgar sua arte. Eu sempre abri e abro espaço pra esses amigos e colegas de profissão, afinal é sempre de bom tom uma quebra de estilo e sonoridades, quebrando a feição monocórdia que é um só artista por um tempo longo em mesmo palco.
O problema é quando aparecem pessoas que não possuem a mesma performance, dessas que os amigos elegem como artista da turma, que em eventos privados dão seu show pra seu público doméstico e que julgam que em espaço público terão a mesma acolhida. Tempos atrás conheci uma aspirante à cantora. Foi num evento num espaço onde a acompanhei cantando pra pessoas conhecidas, ela agrada mais pela simpatia, é uma mulher bonita, mas do ponto de vista musical é deficitária, desafina um pouco e tem dificuldades de ritmo, atravessando em relação ao acompanhamento musical.
Mercado da Boa Vista,lugar onde toco desde março de 2008. Hoje temos um grupo bem entrosado tocando lá: eu de voz e violão, Paulinho Cantor nosso vocalista e Gel de São José, nosso talentoso percussionista. Conseguimos montar um repertório bastante dinâmico e que tem agradado em cheio ao variado público que lá freqüenta. Nossa política de abrir espaço para outras pessoas ocuparem nosso palco leva sempre em conta o fator de essa intervenção não quebre a dinâmica, já que nosso público é bastante exigente e não recebe muito bem quem não segura a onda direito.
Essa moça que gosta de cantar apareceu lá querendo se apresentar. Eu expliquei pra ela que ali é um espaço público, com grupo ensaiado, no qual não há condição de colocar pessoas que não tenham a mesma qualidade musical do grupo e dos outros músicos que nós eventualmente convidamos pra dar uma canja em nosso palco. Foi complicado, ela alterou-se, disse que sempre é ovacionada por onde se apresenta, que as pessoas perguntam onde ela costuma se apresentar,etc., etc.
Eu me limitei a ouvir e disse na lata: – tudo bem, mas você atravessa e desafina demais, e eu não vou colocar no meu palco quem não tem afinação e ritmo, isso é meu espaço de trabalho, construí isso aqui com quatro anos de muito esforço junto com meus parceiros de palco. Nós aqui fazemos um show, não fazemos karaokê. Mas como Narciso acha feio o que não é espelho, ouvi seus impropérios irados e me retirei pra voltar ao palco e encerrar mais um domingo como faço desde 2008. Como diria Brecht: – nós que pregamos o bem, nem sempre podemos ser bons. Fazer o que?
Nenhum comentário:
Postar um comentário