segunda-feira, 7 de março de 2011

Sina de Trovador




Existem coisas na vida
Que causam pavor na gente
Tem um ofício penoso
Maltrata muito vivente
É trabalhar de pernoite
Ser um tocador da noite
Como é duro esse batente

Nego tomando aguardente
A dor de corno é danada
Fica chapado demais
Papudinho é cara inchada
Seu pedido é um transtorno
Roedeira e dor de corno
Cuidado com a chifrada

Outro leva a namorada
Feito pombinho o casal
Querem ouvir Roberto Carlos
Etc. coisa e tal
O outro vem lhe sacode
Que ouvir som de pagode
De pedido um festival

Pedem som regional
Pra tocar “um forrozinho”
A canção que está na moda
Nunca Zeca Pagodinho
Aí onde o bicho pega
Nego que gosta de brega
Causa o maior burburinho

Tem um tipo já bebinho
Chegando fala ao ouvido
Fala com bafo de onça
Deixa você aturdido
A língua dele enrolada
Você não entende nada
Que o traste tenha pedido

O outro é oferecido
Vem pedindo pra cantar
E você na saia justa
E doido para aloprar
Esse “artista” frustrado
Deixa seu saco lotado
Pedindo pra canja dar

O dono do bar vem chegar
De olho grande no dinheiro
E quando o lance é “couvert”
Embolsa o seu bem matreiro
Paga cachê de merreca
É uma grande meleca
Trabalhar com esse fuleiro

Conversam feito vespeiro
É fumaça da cozinha
Um cara lhe olhando feio
Com ciúme da boyzinha
Quando ela lhe paquera
O babaca vira fera
Por causa dessa galinha

Tocar a noite todinha
Dia Branco e Canteiros
Chão de Giz e pedem bis
Esse bando de fuleiros
Andanças até cansar
Pedem Táxi Lunar
É um saco companheiros

Os clientes cachaceiros
Ficando inconvenientes
“Toca um sambinha” agora
Falam os impertinentes
O dono do bar lhe diz:
Toque essa porra infeliz
Para agradar meus clientes

As horas tão indolentes
Demorando pra passar
O equipamento de som
Bem ruim é de lascar
As bebidas reguladas
Só duas louras geladas
Liberam pra biritar

Se bebe a mais vai pagar
Detonar o seu cachê
É curto seu intervalo
E querem ferrar você
Depois disso tem jantar
É com os restos do bar
O que lhe dão pra comer

Como encontrar prazer?
Nesta tarefa ingrata
Pior do que rapariga
Bem fuleira bem barata
É duro ser tocador
Cansa demais sim senhor
Não é lorota ou bravata

Sabendo do que se trata
Seja verão ou inverno
Seja presente ou passado
Seja retrô ou moderno
Um chato sempre incomoda
Tocar na noite é foda
Opinião que eu externo

E quem parar no inferno
Pra encarar a lei do Cão
Lá Satanás curte brega
Vai lhe botar na função
Numa eternidade insone
Com você ao microfone
Com um banquinho e violão

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