Dos meus doze aos meus dezoito anos eu fui aluno do CPM, Colégio da Polícia Militar de Pernambuco. Este foi fundado em 1967 com o intuito de ser preparatório e encaminhar jovens para o oficialato da nossa PM. Tinha a mesma formatação do Colégio Militar do Recife, do Exército Brasileiro e demais congêneres espalhado Brasil afora.
Por pressão de minha mãe, que me queria milico de todo jeito, a matriarca, quando eu tinha onze anos de idade perguntou se eu queria estudar em qual dos dois colégios militares que existiam no Recife, sem opção de estudar como todo jovem normal em algo menos neurótico do que as duas únicas opções que ela me colocou. Terminei prestando exame no CPM, onde eu estudara a quinta série de admissão ao ginasial, justamente num curso preparatório mantido por um major aposentado da PM e que funcionava dentro das instalações do colégio.
Até o terceiro ginasial eu fui de comportamento exemplar, sempre tive boas notas, estando sempre entre os primeiros de minha turma. A partir da quarta série, eu comecei a aprontar demais disciplinarmente e assim forçar minha expulsão já que perdera completamente a vontade de um dia ser militar. Novamente, a matriarca pegou pesado, tive que encarar o restante dos sete anos de colégio de milico. Foi nessa fase conturbada em que o jovem Tenente Sales, chegou para trabalhar no colégio, justamente na sessão de instrução, responsável pelas punições disciplinares dos alunos perturbadores da ordem.
Eu apesar das notas altas, das minhas promoções a aluno tenente e a aluno capitão, passara a esculhambar demais no colégio. Ridicularizar professores, sair na porrada com vários colegas, desacatar sargentos monitores sem falar no meu vocabulário de rapazola desbocado, inclusive em sala de aula quando alguém me torrava o saco. Foi uma punição atrás da outra, meu conceito disciplinar baixando, levei umas broncas feias em casa por causa do excesso de molecagem. Foi aí que o Sales entrou em cena.
O então capitão Sales me chamou pra conversar, com minha ficha na frente, segundo da minha turma, só passava por média. Ele me perguntou uma coisa bem simples:- fora perturbar o juízo dos outros, o que você mais gosta e sabe fazer? Eu respondi:- jogar xadrez. Ele prontamente me encaminhou para a incipiente equipe de xadrez do colégio, onde dois irmãos cearenses e mais um outro rapaz do Recife dominavam a cena. Fui colocado para treinar com eles, quando um dos titulares da equipe foi expulso do colégio por ter chamado um sargento de filho da puta e saído na porrada com ele, eu me candidatei a ocupar sua vaga.
Ganhei o torneio de acesso à vaga deixada pelo colega aloprado dei uma parada com as molecagens por uns tempos. Em 1976, quando jogávamos o campeonato estudantil do estado, eu levei uma punição de três dias de suspensão. Uma semana antes dos jogos estudantis, durante a formatura antes das aulas, eu levara um radinho de pilha pro colégio. Durante a formatura eu liguei o rádio, que tocava um forró bem animado, e eu meu colega de equipe de xadrez Aércio dançamos um xaxado. Flagrados pelo nosso monitor, levamos uma parte, e numa segunda feira, soubemos que fomos suspensos das aulas em plenos jogos estudantis.
Minha mãe ficou louca quando soube, eu chegara no limite atingir o comportamento mau, e daí para ser expulso, bastava só uma simples repreensão. Ela foi ao colégio reclamar com Sales, como é que um menino defendendo o nome do colégio em competição era punido daquele jeito? Ela disse que por ela, eu não jogaria mais pelo colégio. Sales, que é psicólogo também, abriu calmamente sua gaveta, e mostrou pra minha mãe pelo menos 10 partes dos sargentos com meu nome. E disse pra ela: - olhe, essa do xaxado é alteração mais leve que ele deu esse mês. Os sargentos vivem aqui reclamado porque ele não é punido. Justamente pelo fato da equipe de xadrez estar indo bem, eu encaminhei essa, mas o coronel mandou punir com três dias seu filho.
E foi assim que ao final de mais duas semanas, ao ganhar o vice-campeonato de xadrez e no ano seguinte o campeonato estudantil, primeira conquista de ouro do CPM, que meu grande amigo Sales me livrou de ser expulso por indisciplina do colégio.
Minha promoção a major aluno foi vetada pelo subcomandante nesse mesmo ano, pois um dia, depois de perder uma partida de tênis de mesa, eu dei um berro pavoroso no pátio colégio,um sonoro puta que pariu, em seguida dei pique e dei um chute numa parede azulejos do recinto de jogos, quebrei pelo menos uma três azulejos com essa pesada. O major, mandou-me conversar com o novo chefe da disciplina que era linha dura e me detestava. Mais uns três dias em casa pra acalmar meu juízo. Dessa vez não fui expulso porque meus feitos na equipe de xadrez me renderam uma série de elogios no boletim disciplinar, coisa que anulava as punições disciplinares que acumulara naqueles tempos.
Os dois últimos anos eu parei com essa coisa toda, tinha que estudar pro vestibular e isso me tirava energia demais pra perder meu tempo com essa rebeldia sem futuro.
Um comentário:
oi allan, sou cunhado do adalberto sales. este é o facebook dele: https://www.facebook.com/adalbertolinssales.sales?fref=ts
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