quarta-feira, 4 de abril de 2012

Meu amigo Ivinho.



Uma das figuras mais interessantes do meio musical que conheço é Ivinho,Ivison Wanderley Pessoa, musicista antológico que nos anos 70 no Recife causou enorme sensação como guitarrista do extinto grupo Ave Sangria, pioneiro da cena vanguardista no Recife, ecos do movimento tropicalista em nossa terra. Mas o episódio mais marcante de sua vida e carreira artística foi justamente sua memorável performance com um violão de 12 cordas no Festival de Montreux, pela é conhecido e consagrado em face às inusitadas frases que ele conseguiu arrancar do violão de 12 cordas, que ainda por cima estava avariado com um enorme buraco na caixa, mesmo assim ele encarou o palco e marcou de forma indelével sua presença no cenário internacional da música.

Ivinho é um querido amigo.Não conseguiu estabelecer-se como merecia seu grande talento nas cenas musicais nas quais despontou.Hoje é um pálida sombra daquele cometa que irradiou sua luz em Montreux, a doença mental que o acomete, a dispersão que ele mesmo se causa com os excessos de álcool, fazem dele uma espécie de paródia de si mesmo.

Já tive o privilégio de inúmeras vezes topar com ele no centro, nos arredores do Pátio de Santa Cruz e ele me desafiar pra pelejas com cordas dedilhadas. Sempre com frases desconexas ele aparece e fala, muitas vezes some sem dar a mínima, outras vezes me pega pelo braço e toca pra mim as coisas que ele vem sempre elaborando.

Uma das mais emocionantes, foi uma que ele fez após uma noite tórrida de sexo com uma desvairada que morava no centro e um dia levou ele para o apartamento dela e transou com de forma avassaladora.Ele parecia um menino que ganhara um presente novo,me abordou , perguntou se eu conhecia a fulana(eu conhecia) ,contou sem pudores como transou a noite toda com ela, depois cantou uma balada apaixonada,coisa fina demais, que infelizmente o mundo em que ele hoje se vê refém não permite que ele possa compartilhar isso com mais pessoas.

A mais recente tertúlia nossa foi num sábado desses no Whiskitório(Mercado da Boa Vista).Eu cheguei, ele estava em companhia de Ivan Morais e Tito Lívio. Ivinho pediu que eu emprestasse o meu violão para o o Ivan tocar em dueto com ele.Tocaram coisas dos Beatles, Bob Dylan, em seguida Tito Lívio me mostrou uma música recente que ele fez em memória do seu pai.Depois eu tive a felicidade de pegar a bela peça de Tito Lívio e colocar um arranjo de violão com acordes mais elaborados.

Ivinho lá do canto dele falava alucinado, dando seu aval pra minha elaboração harmônica, é uma pessoa fascinante que é preciso entender a fragilidade que a esquizofrenia e o passado de experiências lisérgicas provocaram no psiquismo dele, e deixar ele fluir suas coisas, pena que nosso mundo excludente não tenha canais para dar vazão às pessoas que são verdadeiras forças da natureza como ele.

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