quinta-feira, 7 de maio de 2009
MALAQUIAS E A BONITONA
I
A sorte da formosura
Anda em tortas rodovias
Um cabra se nasce feio
Nem fazendo cirurgias
Feiúra de corpo e cara
Pouca gente se compara
A um tal Zé Malaquias
II
Filho de seu Zacarias
E Nena do Limoeiro
Desde os tempos de menino
Traquinando no terreiro
Tinha dois “oi” de coruja
Uma boca troncha e suja
Era vesgo por inteiro
III
O tempo passou ligeiro
E o Zé virou rapaz
Magro cheio de espinhas
Feio feito um satanás
Gago e malamanhado
E com todo predicado
Que a feiúra é capaz
IV
Mais de vinte ele faz
Sem arrumar namorada
Com dezoito foi na zona
Pra dar uma furunfada
O pai dele que pagou
Uma quenga que topou
Com ele dar uma bimbada
V
Mas essa quenga assustada
Encarou Zé Malaquias
Que fungava feito porco
Por cima dessas estrias
E deixou de ser donzelo
O mocorongo amarelo
Fartou-se nas putarias
VI
Nas festanças nas folias
Pra dançar ninguém topava
Ele jururu num canto
A festa toda ficava
O jeito era beber cana
Tomar uma carraspana
Já que com ninguém dançava
VII
Só quenga que encarava
Cabra feio e esquisito
Para arrumar trabalho
Ele também foi aflito
Trabalhou como carteiro
Pra no fim virar coveiro
Parecia estar escrito
VIII
Usava um terno bonito
Pra passear na cidade
Mas a roupa não faz monge
Essa é a dura verdade
Cabra de feições sombrias
Pra namorar as gurias
Só fosse uma caridade
IX
Pra Zé infelicidade
Ser portador da feiúra
Foi morar no cemitério
Mas não foi em sepultura
Ali mesmo seu trabalho
Foi morar quebrando galho
Que coisa mais obscura
X
E numa noite escura
Foi no bar do Simeão
Jogou lá muita sinuca
Tomou várias com limão
Depois apostou porrinha
Bebeu mais caipirinha
E conhaque de alcatrão
XI
Voltou pra casa então
Na morada de pé junto
Pra junto da vizinhança
De um monte de presunto
Lá ninguém se importaria
Da estampa que trazia
Só mesmo sendo defunto
XII
Continuando o assunto
Uma mulher avistou
Bem perto de sua casa
E perto dela passou
E para sua surpresa
A rainha da beleza
Com esse cabra falou
XIII
Ele não acreditou
Naquilo que acontecia
Foi puxando mais conversa
Um clima entre dois surgia
E nessa noite de lua
Ela parada na sua
O cabra se derretia
XIV
Conversa solta corrida
O clima foi esquentando
E num beijo bem colado
Esses dois se atracando
O caso ficando sério
Lá mesmo no cemitério
Que acabaram trepando
XV
Nem os mortos respeitando
Numa catacumba deram
A primeira e a segunda
Na terceira refizeram
E no fim os dois cansados
Os seus corpos bem suados
Nem ligaram o que fizeram
XVI
Palavras doces disseram
Mas o Zé bem curioso
Como uma mulher tão linda
Deu pra ele tão feioso
Mas isso não importava
Ele se refestelava
Trepou ali bem gostoso
XVII
E assim Zé assombroso
Perguntou para a parceira
Se ela não tinha medo
De cemitério a faceira
Afinal ela encarou
Na catacumba transou
Toda lépida e fagueira
XVIII
Ela disse:- que besteira
Foi coisa tão criativa
Nós trepamos sem temor
Esse lugar me cativa
O ambiente é funéreo
Mas medo de cemitério
Eu tinha quando era viva
XIX
Uma coruja na oitiva
Um vôo rasante deu
Cem morcegos revoaram
Um vento uivante correu
Relampeou trovoada
A mulher mal assombrada
Sumiu desapareceu
XX
Quando o dia amanheceu
Zé ali meditabundo
Mas nunca falou pra alguém
Seu segredo mais profundo
Pois quando tem lua cheia
Zé feliz esfola a peia
Com a mulher de outro mundo.
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