sexta-feira, 12 de junho de 2009
O preso que aprendeu informática na prisão
I
Ele nasceu bem ferrado
O seu pai lá na cadeia
Ele no bucho da mãe
Na miséria muito feia
Ele desde pequenino
Azarado no destino
Desde então se aperreia
II
A vida dele foi peia
Foi menino na pobreza
Favelado como tantos
E com pouco pão na mesa
Foi crescendo na miséria
Virou alma deletéria
Revoltado com brabeza
III
Levado na correnteza
Virou pequeno ladrão
Dando bote em coletivo
Bem chapado bem doidão
Avião de traficante
Aprendiz de meliante
Armado de três oitão
IV
De menor já bandidão
Foi bater num juizado
Internado pela lei
Onde teve o aprendizado
Aprendeu ser perigoso
E solto foi criminoso
Muito safo e escolado
V
Era preso e libertado
Um iô iô na fundação
Sempre foi reincidente
Meliante e folgazão
Chegou a maioridade
Acabou-se a impunidade
Foi parar na detenção
VI
Pintou na televisão
Broncas de policial
De um tal de Cardinot*
Que mostrou o marginal
Estava com um trabuco
Parecia estar maluco
Etc. coisa e tal
VII
A pergunta natural
O que estava a fazer
Com aquele pau de fogo
Ele se pôs a dizer:
- Meu irmão vê se se toca
Comprei na “feira do troca”
Mas foi pra me defender
VIII
O repórter quis saber
Por que estava o folgado
Com grana e os celulares
E um monte de baseado
Ele disse:- eu queimo fumo
Isso é para meu consumo
Pois eu sou “aviciado”
IX
Disse:- doido tá ligado?
Eu vou para uma prisão
Mas depois quando sair
Viro o cavalo do cão
Vou descolar um “revolve”
Vou detonar os X-9 **
Tá ligado meu irmão?
X
Na cadeia o garotão
Aprendeu com assaltantes
No crime bem instruído
Por ladrões por traficantes
Cumprindo terço da pena
E de novo volta à cena
Para andar com meliantes
XI
Mas afoito do que antes
Juntou-se para assaltar
Foi virar ladrão de banco
Pra mais alto faturar
Não roubar mais mixaria
Resolveu naquele dia
Um grande banco roubar
XII
E depois de planejar
Com bando de grande porte
Resolver dar a botada
Na hora do carro forte
Dominaram vigilantes
Com berros ameaçantes
Mas ele não levou sorte
XIII
Fugiu num carro esporte
Com má sorte desgraçada
A polícia apareceu
Teve a sentença julgada
Foi cumprir sua sentença
Pois o crime não compensa
Dançou esse camarada
IV
Na cadeia enfadada
E sem nada pra fazer
Teve a oportunidade
Onde aprendeu a ler
Estudando e aprendendo
Mais sabido sempre lendo
Formou-se por merecer
XV
Informática foi ter
Num curso bem avançado
Por isso se interessou
Ficou especializado
O diretor do presídio
Um tal de Doutor Ovídio
Ficou entusiasmado
XVI
Ver um preso condenado
Aprender tal profissão
Um craque em computador
Com especialização
Escreveu para o juiz
Apressar a diretriz
Fazer sua progressão
XVII
E assim Mané João
A condicional ganhou
Foi comprar equipamentos
Com a grana que juntou
Ele preso e trabalhando
Uma grana foi juntando
Com isso se organizou
XVIII
Pra favela não voltou
Alugou um apartamento
Comprou logo um “lepitopi”
Que virou seu instrumento
Foi juntando um patrimônio
Fez até seu matrimônio
Na capela de um convento
IX
Virou pai de um rebento
Um menino bem formoso
Hoje é bem conhecido
Na TV ficou famoso
Ganhou fama mundial
Até Jornal Nacional
Está no noticioso
XX
Se não é mais perigoso
Sem pau de fogo na mão
Já não bate mais carteira
Nem em banco faz ação
Virou “hacker” essa mundiça
Manda grana pra Suíça
O mouse é seu três oitão
GLOSSÁRIO:
* Cardinot= Josley Cardinot, repórter policial do Recife.
** X-9= delator na linguagem usual dos bandidos.
Esse singelo cordel eu tive a ideia de fazer durante uma reunião da ONG ANDARARTE depois de uma sugestão de ação social proposta pela poetisa Cida Pedrosa em 12/06/09.
ALLAN SALES
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