segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Espírito de grupo.



No Colégio da Polícia Militar de Pernambuco uma coisa que era forte demais entre os alunos era o espírito de grupo, como toda escola militar atividades grupais eram por demais presentes. Primeiro por sermos educados no protocolo militar, ordem unida era uma coisa que fazíamos com freqüência, de modo que alguém defasado da performance da tropa era algo que não era interessante pra ninguém. Além disso, a prática intensa de atividades esportivas, o que era pra gente um elemento deveras agregador. Havia, é bem verdade gente que não se batia muito bem com outro ali dentro, muitas vezes as vias de fato aconteciam, eu me lembro de brigas horríveis, quando uma vez dois desafetos se pegaram na porrada em plena formatura, um deles saiu com olho fechado e roxo do tremendo soco que levou.

Mas quando a coisa era externa, algum dos nossos era vítima de qualquer agressão, quem estivesse por perto entrava com tudo e não pensava muito nas conseqüências. Havia uma rixa histórica com o Colégio Militar do Recife (CMR) que era do Exército Brasileiro. O pau sempre cantava em competições esportivas, muitas vezes o Parque 13 de maio foi palco de cenas de pugilato entre os nossos, apelidados por eles de carteiros( nossa farda na época parecia com a farda dos correios), e os galos de campina, como nós os chamávamos por causa da boina vermelha deles.

A maior das nossas brigas que eu soube foi em 1974, em plenos jogos estudantis, o colégio jogava uma partida classificatória de handebol contra o Colégio São José. Isso acontecia de tarde depois das 15h, nosso comandante resolveu liberar os alunos do turno da tarde das aulas para que pudessem ir até o ginásio do SESC, ali bem perto em Santo Amaro, torcer pelos colegas. Os jogos, famosos JEP’s, tinham uma cultura de arbitragens favorecem os colégios mais ricos da cidade, no caso, os colégios mantidos por religiosos católicos, essas escolas, para atrair parcelas de jovens de classe média abastada, investiam demais em esportes como uma janela marqueteira.

Antes da nossa turma chegar para torcer, eram mais de cem, o jogo já rolava, a porrada comendo solta, contra nós é claro. Os juízes fazendo vista grossa, os nossos atletas reclamando em vão da miopia dos caras, a roubalheira acontecendo. Claro que pavio curto era nossa característica mais marcante, quando dos nossos mais esquentados do juízo revidou uma pancada que levou. A briga começou na quadra, os alunos do colégio adversário que assistiam ao jogo,entraram na quadra para trucidar nossa equipe. Justamente nessa hora chegou nossa tropa de choque, fechou o tempo, os caras tiraram os cintos da farda que tinha uma fivela metálica, e improvisaram uma soqueira com a qual passaram a espancar jogadores, técnicos, torcida adversária e quem mais aparecesse pela frente.

Chamaram a PM para acalmar a situação fora de controle que virou o Ginásio do SESC. Naqueles nos 70, quem era ao mesmo tempo tropa de choque, CIOE, ROCAM era o Batalhão de Rádio Patrulha. Os praças da RP chegaram e desceram o pau também pra apartar a briga, menos nos nossos porque éramos da mesma corporação, ali no meio tinha filho de oficiais da PM,de colegas dos caras, e eles não queriam ariscar dar porrada em menor de idade fardado de milico.

Foi a maior merda, o coronel comandante soube, mas não puniu ninguém, quem nos puniu foi o órgão estadual que organizava os jogos estudantis, suspendendo nosso handebol por dois anos das competições oficiais. Dias depois, havia um jogo de futebol de salão na quadra Colégio São José, com o time da casa jogando contra nossos rivais do Colégio Militar do Recife, os galos de campina. Na arquibancada muitos colegas nossos assistindo à partida, quando o pau começou a cantar na quadra, como os nossos congêneres tomando uma sova homérica por estarem em menor número. Nossos colegas se apiedaram dos galos de campina entraram na quadra pra defender os brios militares ali cobertos de porradas. Isso é que espírito de grupo, dessa vez não chamaram a RP pra acalmar.

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