terça-feira, 27 de maio de 2008
CANTORIA DECLAMATÓRIA EM BELMONTE E SERRA TALHADA EM MAIO DE 2008.
Nas batalhas que venho tendo desde 1985, quando resolvi entrar nas estradas dos palcos da vida, consigo dividir as pessoas em três grupos distintos: as pessoas predadoras, as pessoas indiferentes e as pessoas que fazem a diferença. Cícero Moraes da cidade de São José do Belmonte é uma dessas criaturas que fazem a diferença. Filho de um sargento reformado de nossa PM e de uma professora, estudou no Recife sendo formado em farmácia pela UFPE, voltou ao torrão natal sertanejo onde trabalha na prefeitura de sua cidade e numa farmácia de manipulação em Serra Talhada. Nosso amigo é um entusiasta da cultura nordestina de raízes, circula no meio do forró de pé de serra, da cantoria de repentistas, das vaquejadas, sendo ele mesmo um poeta fazedor de versos e muitas glosas com muita desenvoltura.
Aqui no Recife nos conhecemos nas pelejas poéticas e musicais do Mercado da Madalena, assim como nas apresentações da UNICORDEL em que ele sempre aparecia para prestigiar e subir no palco para declamar com grande desenvoltura a peças de poesia dos nossos vates sertanejos. Um dia desses de 2007, pelo MSN, ele me fala da sua vontade de promover em sua cidade e em Serra Talhada algo similar às coisas que eu vinha fazendo no Recife. No caso tratava-se de CANTORIA DECLAMATÓRIA, um recital poético musical com repente, literatura de cordel e poesia matuta que eu Adiel Luna, Chico Pedrosa e mais outros poetas e músicos havíamos empreendido por duas vezes na Casa da Cultura, órgão da FUNDARPE. Ele me falava de sua preocupação com o avanço avassalador das coisas da mídia massificadora em sua região, além disso, muita indiferença, principalmente por parte das pessoas mais jovens, com relação às expressões de raízes de nossa cultura.
Cícero me falava de sua pouca familiaridade em produzir eventos desta natureza, eu o encorajei a buscar as pessoas da cidade que eram entusiastas de nossas expressões culturais e levasse até elas nosso projeto que formatei junto com ele, levando em conta a realidade local. Mandei pra ele o projeto com tudo que faz parte de documento desta natureza, com ele adicionando as particularidades da realidade do sertão. Ele procurou políticos, empresários, artistas em Belmonte e Serra Talhada e mostrou a todos sua proposta. As coisas foram tomando corpo de modo que durante os festejos da Cavalgada da Pedra do Reino ele conseguiu finalmente encaixar nosso recital na programação dos festejos, assim como agendou em Serra Talhada uma apresentação num teatro pertencente à Casa da Cultura desta cidade. Deu uma trabalheira enorme com avanços e recuos, tirando leite das pedras para ele engendrar os meios necessários para levar a mim, Adiel Luna e Chico Pedrosa. Palco, um repentista para cantar em dupla com Adiel, passagens, hotel, alimentação e cachês. Muitos foram generosos e puseram recursos de boa monta, outros nem tanto, mas, no somatório, batemos o martelo e agendamos duas apresentações: uma em 23 e maio às 20 horas no palco da festa da cavalgada, outra no teatro em Serra Talhada no dia 24.
Viajamos eu Adiel um dia antes, chegando na quinta dia 22 para realizar nosso roteiro de comum acordo, assim como entrosar Adiel com o repentista José Oliveira, um excelente poeta repentista da cidade que entrou em enorme sintonia conosco e agregou um enorme valor à nossa proposta. Idéia bem simples, três blocos em que repente, poesia matuta, música e cordel se revezavam nessa ordem, isso em três rodadas, numa apresentação de duas horas no palco que ficou na principal praça da cidade.
Fomos recebidos em Belmonte e Serra com muita hospitalidade com as pessoas de ambas cidades sempre gentis e atenciosas. Os meios necessários para uma boa realização estiveram à disposição da gente, assim como nos foi possível convidar vários talentos locais para pisar no palco conosco. O jovem sanfoneiro Jackson que tocou comigo peças do cancioneiro nordestino, o poeta cordelista Kerlle de Magalhães em Belmonte. Em Serra Valter Marcolino , o locutor Márcio, o poeta Renan Menezes de São José do Egito, o declamador Jadson e Kerlle que chegou no palco, além do próprio Cícero Moraes que declamou em Belmonte.
Foram três dias de vivências sertanejas nas quais plantamos sementes de parcerias e cumplicidades com os amigos que fizemos nas duas cidades para as quais retornamos em breve já que fomos convidados para ser atração numa festa cultural em Serra Talhada em julho. Salve Cícero Moraes que se revelou um eficiente empreendedor cultural.
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