.
.
Nos anos 70 era a Vila do IPSEP o local para onde eu me dirigia para meus lazeres e vida social que tive dos meus 14 anos até por volta dos 25 anos quando arribei de casa pro mundo. Lá eu tinha meus colegas de peladas de futebol, os parceiros das memoráveis pelejas de xadrez, porém, com o advento de minhas inserções no mundo do violão, por volta de 1978, é que ampliei bastante meus contatos com gente engraçada e divertida deste ambiente. Dos parceiros de xadrez, havia o Ronaldo, um cara muito estudioso, fez escola técnica e passou num dos vestibulares mais concorridos da época: o de engenharia elétrica da UFPE. Tinha mais dois irmãos Romero e Ricardo, ambos também afeitos ao gosto pelos os estudos, Ricardo, o mais velho, estudou química na UFPE, foi morar em Petrolina para trabalhar e por lá mesmo noivou e encomendou seu casamento, para desgosto da sua mãe que não gostava da futura nora. Mas isso não vem ao caso.
Havia um cara engraçadíssimo que morava na Vila Mauriceia: o Gilson, um mulato magro e enorme, escrotíssimo, tomador de cachaça e também tocador razoável de violão, gostava das músicas da dupla Toquinho e Vinícius, coisa que foi o nosso ponto de intersecção, sendo mote da nossa empatia e amizade. Gilson era comerciário, estudara em escola pública deficitária e tentara sem sucesso vestibular para medicina várias vezes. Ele era trabalhador e gostava demais da farra, passamos muitas noites em claro pelos botecos do bairro tocando e cantando, assim como promovendo toda sorte de molecagens e até algumas arruaças.
Uma vez ele me chamou pra me mostrar uma música sua que compusera em parceria com mais dois colegas, um brega engraçadíssimo chamado CHIFRADA EM TRAVESSEIRO, um troço escroto demais e com uma veia de humor escatológico impagável. Eu de pronto incorporei ao meu repertório, doravante, nas centenas de serenatas que fiz pra meus amigos inúteis de classe média babaca e consumista eu cantava essa pérola. Virou um “hit” já que muitos amigos que tocavam violão também a incorporaram, sendo até gravada e feito parte de shows de algumas bandas de garagem de mauricinhos que existiam como verdadeira epidemia no Recife dos anos 80.
Tanto Gilson, como Ronaldo e Ricardo eram conhecidos entre si e eventualmente se encontravam para fazer farra. Tínhamos muitos amigos em comum na vila, todo mundo se conhecia, jogava bola junto e enchia a cara quando aparecia oportunidade, sempre ao som dos nossos violões que eram presença obrigatória nestas ocasiões. Numa segunda-feira, eu acordara por volta das 11h da manhã e começava a me preparar pra ir para a universidade, minha avó tinha o hábito de ouvir rádio na maior altura, passava naquela hora as broncas policiais da cidade.
Ouvi no rádio uma notícia que um veículo Opala laranja, evitando colisão com uma moto batera com outro, perdera o controle e caíra no canal do mangue na Antônio Falcão, vindo a falecer todos os quatro ocupantes do veículo. Ao dizer os nomes dos falecidos, eu me liguei num nome bem familiar: Gilson José da Silva, que era o nome do nosso pândego amigo, não consegui ouvir os demais nomes. Um sobrenome tão comum, assim como o nome do colega, julguei ser um homônimo, coisa perfeitamente possível, mas bateu aquele sexto sentido em mim. Resolvi dar uma passada na vila para saber se era ele, antes de chegar em sua rua, passa por mim o seu irmão mais velho com os olhos vermelhos de tanto chorar, era ele mesmo. O irmão disse-me assim: - vai ser no Parque das Flores às 15h o enterro dos meninos. Eu perguntei quem eram os outros, ele me disse: Ronaldo e Ricardo e Luizinho o primo deles, que eu não conhecia. Eu gelei na hora, acabara de perder de uma só vez três chapas meus, pessoas finíssimas e pra cima , na flor da juventude, Ronaldo já formado e indo trabalhar numa grande empresa, Ricardo prestes a se casar, viera ao Recife tratar dos detalhes da cerimônia de casamento.
Foi triste demais ver aquele funeral coletivo, Gilson completamente deformado, segundo testemunhas, ainda tentara sair do Opala, mas ficou preso debatendo suas pernas pra fora da janela, o carro ficar virado de rodas pra cima e os amigos não tiveram a menor chance. Eles fizeram uma farra praieira e voltavam pra casa para que o Ricardo levasse sua mãe no seu carro para festa de fim de ano da escola de sua irmãzinha caçula. Uma linda colega nossa, que morava na mesma rua dos dois irmãos, estava no funeral e disse que escapou de morrer naquele dia porque recusou a carona pra casa por querer pegar mais um pouco de sol. Tempos depois, fiquei amigo do Romero, irmão mais novo do Ronaldo e Ricardo, que era menino demais nesses tempos para andar conosco, aprendera a tocar violão e baixo e tornou-se uma das melhores companhias que tive durante os dois anos em que saí de casa e morei na Vila da SUDENE.
ALLAN SALES
3 comentários:
Rapaz, passei bons momentos no bairro do IPsep. Nós éramos uma familia de gauchos que chegou em 1980, e fomos morar no chico citi. E meu irmão mais velho fez varias amizades na época. Ricardo leite, desenhista de primeira e irmãi de sergio leite. Um homossexual muito famoso na época já falecido chamado Raquel. E muitos outros. Tenho muitas saudades dessa época. Abraços
O que eu tenho mais saudades do Ipsep era as feirinhas típicas no campo do sargento. E por incrível que pareça, saudades de ir pegar Bettas (peixe de briga) atrás do geraldão num lugar chamado mata sete(infelizmente hoje não existe mais nada. Maldito progresso). Bem, eu tinha muitos amigos. Juliano, adelson, anselmo, nenca, airon, siandi, Falcon. Havia uma banca de Revista muito famosa onde era o nosso Point de amigos. Ficava na rua Machado de Assis. Ao lado do chico citi. É isso. Bons tempos.
Rapaz, passei bons momentos no bairro do IPsep. Nós éramos uma familia de gauchos que chegou em 1980, e fomos morar no chico citi. E meu irmão mais velho fez varias amizades na época. Ricardo leite, desenhista de primeira e irmãi de sergio leite. Um outro era um homossexual muito famoso na época já falecido chamado Raquel. E muitos outros. Tenho muitas saudades dessa época. Abraços
Postar um comentário