domingo, 23 de dezembro de 2012

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

DEMANDA REPRIMIDA



Respondendo pra uma amiga que algum sacana deixou molhadinha e não terminou o serviço que começou.

De deixar alguém na mão
Coisa que sempre apavora
Acender assim vontade
Que de nós se faz senhora
E de nós assim abusa
Vem agita, vai, não usa
Põe tesão e pula fora

ENGULHOS

POR MARCELO MÁRIO DE MELO

Me engulha ver no Nordeste cordelistas passadistas da metrópole
insistirem na temática da roça e cordelistas da roça chamarem beija
flor de colibri. Me engulha a caricaturização do matuto nordestino. Me
engulham peças publicitárias e eventos no centro da cidade em que se
fala em “arraiá” e “capitá” e se chama mulher de “mulé”. Me engulha a
heroicização de Lampião e dos cangaceiros. Me engulha a santificação
do padre Cícero e de Frei Damião. Me engulha o discurso do “cabra da
peste”. Me engulha o frevo lamuriento e saudosista com binóculos de
anteontem. Me engulha reduzir a cultura nordestina à cultura do
açúcar. Me engulha a seita gilbertofreyriana. Me engulha o
regionalismo sem antenas. Me engulham as igrejinhas culturais e
vitalícias bafejadas por jetons. Me engulham as subigrejas
alternativas pejadas de gurus e séquitos.

Me engulha a terminologia conservadora em que os patriarcas
empoderados são “probos” e as rebeliões do passado são epigrafadas
como “irredentismo”. Me engulha a copidescagem do passado para retocar
biografias. Me engulha a arrogância do “cientista político” emitindo
opinião comum com aura de verdade absoluta. Me engulham o racismo
disfarçado o elitismo disfarçado o autoritarismo disfarçado. Me
engulha a arrogância de gerações de netos e avós. Me engulham o culto
e o desencanto ante o passado. Me engulham o falso moralismo político
por parte dos corruptos e a transigência com a corrupção apoiada na
denúncia do falso moralismo político.

Me engulha o charlatanismo intelectual de mudar a terminologia e
continuar em óticas e práticas nos velhos moldes. Me engulha o culto
do meio termo com ar de maturidade e equilíbrio. Me engulha a
fraseologia edulcorada e sem quinas. Me engulha o uso elástico e
difuso dos termos “povo” “cidadania” e “elite”. Me engulha o
esquecimento da identidade de classe quando se trata de cidadania. Me
engulha a deformação do sentido da palavra radical e a renúncia à
radicalidade no verbo e na vida. Me engulha a retirada de cena da
palavra revolução.

Me engulham as bandeiras de orgulho ante-sala da arrogância. Me
engulham utopias dogmas e mitos políticos. Me engulha uma sociedade
modelo pedras de dominó enfileiradas guardadas em caixinhas iguais
trens seguindo nos mesmos trilhos espaços fechados sem jardins
plurais.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Dois pesos duas medidas

Falam mal do candomblé
Os fascistas fariseus
Criticando os rituais
Desses entes mais plebeus
Preconceito um estrupício
Não detonam sacrifício
Que também fazem os judeus

Os rastafaris da Jamaica tem na maconha seu elo de ligação com Jah, seu deus. Os católicos celebram sua santa missa com vinho.

Falar mal de qualquer crença
É a coisa mais bisonha
O tal etnocentrismo
Como coisa tão tristonha
Cada um com seu caminho
Os católicos com vinho
Rastafaris com maconha

Existe quem tem a fé
E em algo acredita
O ateu desacredita
Cada um faz o que quer
Mas a razão é mister
A toda hora convém
Existe o mal e o bem
Do destino as artimanhas
A FÉ REMOVE MONTANHAS
TERRAPLENAGEM TAMBÉM

Tem cristão tem muçulmano
Tem judeu e tem budista
Tem hindu e umbandista
Tem fanático e insano
Cada um tem o seu plano
É um grande vai e vem
O radical tem desdém
E fala coisas estranhas
A FÉ REMOVE MONTANHAS
TERRAPLENAGEM TAMBÉM

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012



Identidade nordestina quilombola.

Essa parte do cangaço estou fora, porque no sangue eu trago mesmo é o Quilombo dos Palmares, que de longe supera essa desgraça de banditismo que muitos tomam pra si como paradigma de revolta social.O movimento de Canudos , foi muito mais visceral em termos de proposta social do que a vida bandida que esses bandos de gente sanguinária e degenerada que andaram espalhando o crime e o terror pelo sertão. Minha identidade nordestina, é de guerreiro quilombola lutando por liberdade e dignidade de cidadão,nunca de cangaceiro ladrão, assassino e estuprador.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Mote de Raimundo Nonato

Glosas sobre o mote do Poeta Raimundo Nonato.

Uma obra escrota e atrasada
Que parou de fazer a diferença
Pois transpor Velho Chico nos compensa
Vamos nós exigir essa parada
Nosso rio pro povo camarada
Matar sede de si, da criação
E seguir do Nordeste a redenção
Pro povão não ter mais viver no risco
Um por cento do rio São Francisco
É igual cem por cento no sertão

Um canal que precisa terminar
E levar água boa ao sertanejo
O sertão bem ferrado hoje vejo
Numa seca demais pra nos lascar
Nosso rio de vida vai salvar
Matar sede do povo de montão
Redimir nosso povo com razão
Do destino malvado tão arisco
Um por cento do rio São Francisco
É igual cem por cento no sertão

Quando a seca castiga nossa gente
Não tem como barrar tal sofrimento
O sertão fica só no desalento
É assim triste quadro deprimente
O poder quer manter por dependente
Sertanejo escravo nesse chão
O canal se não vem com solução
No futuro da gente faz confisco
Um por cento do rio São Francisco
É igual cem por cento no sertão

Ao transpor Velho Chico com canais
E levar redenção aos camponeses
Pra criar no sertão as suas reses
Redimir dos abismos colossais
Os poderes daqui são tão venais
Que só buscam o voto em eleição
E depois esquecer tal cidadão
E correr dele feito um corisco
Um por cento do rio São Francisco
É igual cem por cento no sertão

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Pequena peleja de duas estrofes:


Mariana Véras:

Meu coração não tem vaga
Não tem tabela de preço
não cobro pela chegada
Se for embora, esqueço
Um dia já machucou
Mas hoje eu te agradeço

Allan Sales

Se ingratidão não mereço
Sofrer da gente acontece
Nas armadilhas do tempo
Ao vento tudo fenece
Se o coração foi sofrido
Acorda novo e remido
Com novo amor se esquece

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Obrigado Dona Zeza, a cantora de Mimoso.

Estava em plena atividade de oficina de literatura de cordel no Distrito de Mimoso, Pesqueira-PE com um grupo de 25 adolescentes do local. No caso uma das atividades da Jornada Literária do Portal do Sertão, evento produzido pelo SESC-PE.

A garotada bem tímida no começo, um ou outro mais saliente participando efetivamente da atividade que eu nessa hora desenvolvia de construir sextilhas a partir de versos sugeridos por eles mesmos. De repente, entra na sala uma anciã bem agitada, falando que gostava de poesia e que desejava mostrar ali uns versos. Uma das meninas, demonstrando constrangimento diz pra mim se tratar de sua avó, e diz discretamente: é minha avó, ela e amostrada demais e é doida. Mostrando-se envergonhada com a presença da senhora, eu questionei o porquê desse sentimento, ela não respondeu.

Em seguida, os demais jovens entram numa algazarra muito estridente, corroborando a mal estar da menina que não se sentia bem com presença da senhora invadindo nossa cena. Vaiando a velha, e dando a entender que ela deveria retirar-se. Eu esbravejei sem titubear e disse:- olha essa falta de respeito com a idosa, onde vocês aprenderam isso? Um dos jovens responde:- que nada , essa véia é uma doida. Eu retruquei e perguntei se a loucura dela dava razão para aquela falta de respeito. Eles se calaram, eu disse pra ela me mostrar o seu poema.

No começo da oficina eu falara para eles sobre a transmissão da cultura oral, típica de grupos humanos analfabetos ou com pouco acesso à cultura letrada. Ali eu tinha uma anciã que nos brindaria com algo da cultura popular que lhe fora legado por sua avó, que segundo ela nos falara era analfabeta. Ela declamou essa quadra:

“Menino dos olhos pretos / Sobrancelhas de veludo/ O teu pai não tem dinheiro/ Mas teus olhos valem tudo” .

Eu ali na hora escrevi na cartolina esse poema, e mostrei pra eles que se tratava de versos de sete sílabas métricas, iguais aos que estávamos estudando e produzindo ali. E disse que muitos cordéis também foram escritos em quadras como aquelas que a Dona Zeza nos mostrara ali com tanta eloqüência.

Completei dizendo pra eles:- fosse eu entrar na de vocês, a gente não teria oportunidade de aprender um verso antigo desses que a bisavó dessa menina passou pra Zeza. Pedi palmas pra Zeza, eles aplaudiram a velha senhora, dessa vez, com entusiasmo e o respeito que ela merecia.

Contei o fato para minha irmãzinha Susana Morais que estava dando oficina para uma turma de crianças ali mesmo em Mimoso. Dia seguinte, Susana me contou que durante a apresentação de um trio de poetas declamando uma homenagem a Luiz Gonzaga, Dona Zeza apareceu solicitando uma pauta no palco, subiu, se mostrou como de costume, dessa vez apupada entusiasticamente pelos jovens de minha oficina e demais moradores que entraram no mesmo clima. Ganhei o meu dia.


sábado, 13 de outubro de 2012

Acerca do Kama Sutra.



Engraçado, os africanos não tem essa sofisticação toda pra fuder.

Kama Sutra lá da Índia
Não é lá algo obsceno
Mas quem tem a rola grande
Sabe bem qual seu veneno
Meta ela sem ter rolo
Kama Sutra é o consolo
Pra quem tem pau pequeno

Africano bem dotado
É um cabra bem sortudo
Tem a jeba de jumento
Algo grande e bem rombudo
Pega a nêga nem alisa
Kama Sutra nem precisa
Com o pau resolve tudo

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

A história de Décio Dimas e Dolly Dance




I
A história que lhes conto
Vem da verve de esteta
De poeta cordelista
Que na invenção enceta
Pra montar rima com rima
Metrifica e determina
Pois cordel é sua meta
II
Décio Dimas um poeta
Oriundo do sertão
Que no rap e no cordel
Era mesmo um cobrão
Veio morar no Recife
Aumentar o seu cacife
E vencer na profissão
III
E sair nesta missão
De deixar o interior
Indo para a capital
Pra mostrar o seu valor
E assim poder mostrar
Com faz o versejar
De um vate trovador
IV
Era fã de cantador
Repentista com viola
Desde os tempos de menino
Essa foi a grande escola
De ouvir o repentista
E o poeta cordelista
Que seu verso desenrola

V
Com um sonho na cachola
Pouco em seu matulão
Correu pra rodoviária
Embarcando num busão
Seu destino ali traçado
Foi ao sonho embalado
Com vontade e decisão
VI
Com pandeiro era um fodão
Declamava a poesia
De Dedé e Amazan
Como ele bem fazia
E assim nessa batalha
No Recife assim se espalha
Dia e noite, noite e dia
VII
E assim ele seguia
A morar numa pensão
Com um monte de maloca
Era briga de montão
Teve um que arretou-se
E pra ele assim armou-se
Com uma lapa de facão
VIII
E assim na confusão
Ele nunca fraquejava
Encarava com coragem
Tudo que a vida dava
O cachê malamanhado
Que chegava atrasado
Quando a fundação pagava

IX
Mas um dia encontrava
Uma doida poetisa
Dolly Dance era seu nome
Sempre a viver de brisa
Recitais sempre faziam
Mas no fundo percebiam
Isso não dava camisa
X
Ele liso e ela lisa
Sem motel poder pagar
No seu quarto apertadinho
Que eles dois iam trepar
E assim seu Décio Dimas
Entre pandeirada e rimas
Resolveu tudo mudar
XI
Um cachê que foi ganhar
Num projeto em Petrolina
Quando voltou pra Recife
Sua mente assim atina
Vou comprar é um teclado
Aprender esse danado
Pois teclado é coisa fina
XII
E chamou sua menina
Pra com ele ensaiar
Quando não tinha projetos
Ele e ela a malhar
Entre recitais refregas
Eles ensaiando bregas
Pra sua vida então mudar

XIII
E assim muito ralar
Nos botecos da cidade
Uma grana muito curta
Vida com simplicidade
Mas os dois nesse batente
Como teclado ali de frente
Brega chique é bem verdade
XIV
E fazer publicidade
Com um site na internet
Apelaram para tudo
Que a ousadia assim compete
Essa dupla conhecida
Batalhando nesta vida
Pra arrumar algum tiete
XV
Com uma fome de pivete
Muitas contas pra pagar
Vez em quando um recital
Dava para descolar
Fundação que faz cultura
Sacaneia é uma tronchura
Bota mesmo é pra lascar
XVI
Foi dureza pra danar
Até que num belo dia
Eles dois foram chamados
Pra tocar para uma tia
Uma velha muito rica
Caretona e pudica
Foi numa churrascaria

XVII
Dolly ali se vestiria
Qual Joelma de Chimbinha
Décio Dimas de Elvis Presley
Eita dupla arretadinha
Foi uma noite de sucesso
Tanto que teve regresso
Nesta casa bacaninha
XVIII
Muita gente ali vinha
Pra ouvir bregueteria
Décio Dimas que compunha
Toda letra e melodia
Até que num belo dia
Produtor ali surgia
E escutou com euforia
XIX
Ele então convidaria
O casal para gravar
E assim em poucos meses
Seu CD a estourar
Seus amigos cordelistas
Invejosos vigaristas
Muito mal foram falar
XX
Foram com ele ralhar
E falar de forma dura
Como pode grande Décio
Fazer essa ruptura
De largar verso brejeiro
Pra virar um bregueteiro
De trair velha cultura

XXI
E foi mesmo uma loucura
Pois até Zezé Loureiro
Que foi o seu professor
Deu-lhe um sermão inteiro
E até Tico Verdosa
Velho vate bom de prosa
Chamou ele de fuleiro
XXII
Mas o Décio com dinheiro
Foi morar numa mansão
Tinha oito seguranças
Governanta e um carrão
Aconteça o que aconteça
Foi cagando na cabeça
Foi a sua opção
XXIII
No Gugu e no Faustão
Ele foi aparecer
E um tema de novela
Também foi acontecer
E assim famoso e rico
No fubá qual tico-tico
E botando pra fuder
XXIV
Foi o mundo conhecer
Alemanha e o Japão
Fez turnê de norte a sul
Até no Afeganistão
Sua agenda sempre cheia
Esse bom cabra de peia
A ganhar um dinheirão

XXV
Com Teló fez gravação
De programas de TV
Foi até lá em Barretos
Num rodeio aparecer
Os seus shows que eram tantos
Com Gaby a Amarantos
Fez até novo CD
XXVI
Dollyane que foi ter
O seu filho no estrangeiro
Quando estavam em Miami
De turnê em um cruzeiro
E assim Décio crescia
Dolly sua companhia
Na bagaça e no salseiro
XXVII
Esse artista brasileiro
Com tantos por aí
Conheceu grande sucesso
Nesse nosso patropi
Mas sucesso vem e vai
E um dia a casa cai
Foi aquele ti-ti-ti
XXVIII
Foi num show no Piauí
Ele teve uma recaída
E vestiu-se de vaqueiro
Sua Dolly ali vestida
Com vestes de cangaceira
Cantaram uma bagaceira
Forrozada foi ouvida

XXIX
A platéia aturdida
Por ali sem entender
Como seu grande cantor
Um forró pôde fazer
Essa gente alienada
Que não entendeu foi nada
E vaiou pra derreter
XXX
Isso foi acontecer
Pois o Décio assim sonhava
Que se um dia fosse rico
À raiz real voltava
E assim cumpriu promessa
Ao forró voltou com pressa
E um ciclo se encerrava
XXXI
Produtor se arretava
Demitiu ele na hora
Mas a grana que ele tinha
E também sua senhora
Dava pra eles viverem
Seus projetos conceberem
E fizeram ali na tora
XXXI
Eu sou sei que ele agora
É um craque na sanfona
Já não quer tocar teclado
E o forró não abandona
Fez as pazes com os poetas
Tem agendas bem repletas
E faz show até na zona.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Glosas em mote de Marcelo Mário de Melo.



Moralista puritano
Desses que nos arrelia
Que só quer na poesia
Ficar no etéreo plano
Qual cruzado mais insano
Com a fala mais irada
Pois a quer imaculada
Delirando na vertigem
Poesia não é virgem
É mulher descabaçada

Foi Marcelo que propôs
Mote de difícil rima
Virgem que sempre sublima
Pouca gente assim compôs
Louca rima se supôs
Encarar dura parada
De ver virgem bem rimada
Virginal verso na origem
Poesia não é virgem
É mulher descabaçada

Procurei rima pra ela
Só achei bem parecida
E assim nessa investida
Versejei querendo ela
Uma virgem muito bela
De uma forma inusitada
De ver bem inaugurada
De sua gruta não me alijem
Poesia não é virgem
É mulher descabaçada

Virginal moral no tema
Pra que tanta santidade
Onde há tal virgindade
Se o desejo dá poema
Eu não vou ver um problema
Deixar gente magoada
Se dou uma extrapolada
Os babacas se afligem
Poesia não é virgem
É mulher descabaçada

Virgindade é um modelo
Dessa tal moral cristã
E judaica em mesmo afã
Muitos tem real desvelo
Quero virgem nua em pelo
Quero sim bem penetrada
Pelos fluidos irrigada
Onde os tesões se erigem
Poesia não é virgem
É mulher descabaçada

Pra falar sim de buceta
De xoxota e de priquito
E sem dar um faniquito
Como dá todo careta
Moralismo é uma punheta
Mal batida e mal gozada
Reprimida e abortada
Que os tolos sempre exigem
Poesia não é virgem
É mulher descabaçada

Vão pra puta que os pariu
Moralistas de plantão
Eu aqui tenho tesão
Num peitinho e num xibiu
Onde o meu pau subiu
Com vontade de trepada
Quero dar uma gozada
E vocês não me corrigem
Poesia não é virgem
É mulher descabaçada

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Em respeito a Ogum Guerreiro.



O que mais me impressiona nas interpretações religiosas do mundo é quando a coisa descamba pro campo da intolerância, da negação da fé ou da não fé de alguém. Recentemente eu conversava com uma moça numa sala de papo de rede social. Ela me falava da sua intenção de fazer um convite de casamento utilizando a poesia de formas fixas do cordel como expressão, contando pras pessoas acerca do perfil dela e do noivo, assim como o casal se conheceu, se apaixonou e resolveu partir para o enlace.

Casal afro-descendente, ambos simpatizantes das religiões afro-brasileiras, razão pela qual ela, no nosso papo, deu referências acerca dos orixás que regiam ela e seu futuro marido. Eu comecei a escrever um singelo texto baseado nas histórias que ela me contava. Tenho especial carinho pelas religiões de matriz africana das quais tive grande aprendizado de vida, já que, embora tenha sido criado na religião espírita kardecista, eu conheci de perto os cultos de umbanda e candomblé.

Após ela ficar entusiasmada com as referências ao seu orixá e o orixá do seu noivo, de repente, ela me pede para deletar do texto essas referências. A razão era essa: não queria “chocar”, palavras dela, os parentes evangélicos do seu noivo. Eu fiquei pasmo, imagine se ela fosse judia, muçulmana ou budista? Haveria esse pudor todo? Eu disse a ela: - minha amiga os evangélicos no Brasil vivem chocando todo mundo com a intolerância de muitos deles com relação a um monte de coisas, mas não podem ser chocados.

Mesmo assim, a moça não quis assumir o seu lado místico de matriz afro no seu convite, uma pena, pois as referências que fiz a Iansã e Ogum no meu texto ficaram lindas demais, com toda beleza da mitologia do candomblé, uma crença milenar mais antiga que o cristianismo.



Eu sou travado demais com essa timidez e esse medo que umbandistas e gente do candomblé que aceitam passivamente os arroubos dos pretensos donos da verdade que lêem a bíblia da forma excludente, maniqueísta e intolerante, em especial muitos protestantes. Já tive muitos embates com esses fanáticos em muitos momentos em minha vida. Hoje não transijo com esse tipo de censura à expressão de culto que essa gente sectária e fanática faz com a maior naturalidade, muitos deles acalentam até idéia de criminalizar esses cultos.

Em respeito ao Pai Ogum Guerreiro e à Mãe Iansã, me demiti da tarefa de fazer o cordel convite dessa irmã de fé que não tem coragem de assumi-la diante desse tipo de gente estúpida e intolerante.



Ogum yê.



(1)
Muita gente que tem hipocrisia
Escondendo não deixa de fazer
O vizinho fofocas pra dizer
Faz intriga regada de ironia
Cada qual tem a sua fantasia
Escondida no fundo do roupeiro
No final se revela por inteiro
E pra que esconder religião
No Brasil tão católico e cristão
Muita gente tem fé em macumbeiro
(2)
Perseguiu tal fascismo getulista
Pais de santo e também os patuás
Sem poder cultuar os orixás
E seu culto tirar de ver à vista
Mas findou tal poder que foi fascista
Hoje em dia tem toque no terreiro
Tem ebó nas “encruza” o tempo inteiro
Iemanjá por aí faz um festão
No Brasil tão católico e cristão
Muita gente tem fé em macumbeiro
(3)
O sujeito na igreja vai rezar
E depois consultar a mãe de santo
O pastor muito irado causa espanto
Mas exu ele teima em expulsar
Na sua igreja o exu irá baixar
Para encher “sacolinha” deste obreiro
Pois o deus deste puto é o dinheiro
Pois é sócio de Jesus também do Cão
No Brasil tão católico e cristão
Muita gente tem fé em macumbeiro
(4)
Tem também a “sessão de descarrego”
É igreja ou terreiro de umbanda?
Pois exu baixa sempre nesta banda
E o pastor no seu bolso sem sossego
Dez por cento aleluia no seu rego
O pastor mas parece um feiticeiro
Na igreja abre louco seu berreiro
Pra Macedo ganhar mais de um milhão
No Brasil tão católico e cristão
Muita gente tem fé em macumbeiro

ALLAN KARDEC DO NASCIMENTO SALES

terça-feira, 5 de junho de 2012

Como é que Freud explica?


I
Sigmund era um judeu
Que causou foi rebuliço
Todo mundo sabe disso
Como isso aconteceu
Karl Jung o sucedeu
Teve até disparidade
No reinar da vaidade
A verdade morre e fica
Como é que Freud explica
Essa tosca Humanidade
II
E edipianamente
Falou Freud dando estalo
Da inveja de ter falo
Disse ele simplesmente
Nos recônditos da mente
Desde nossa tenra idade
A libido nos invade
Qual mosquito que nos pica
Como é que Freud explica
Essa tosca Humanidade
III
Ele assim analisou
Nossos traumas de infância
Escreveu com relevância
E a igreja se arretou
Como Darwin ele ficou
Santa Sé temeridade
Pois cristão quer santidade
Freud não se santifica
Como é que Freud explica
Essa tosca Humanidade
IV
Como pode seu doutor
Explicar nossa loucura
Ser humano que procura
Ter carinho afeto amor
Nossa alma tanta dor
Nossa triste realidade
Dr. Freud diz verdade
Muito bem se comunica
Como é que Freud explica
Essa tosca Humanidade
V
Vou sentar neste divã
E vou ser analisado
Pelo Freud destrinchado
Nesta vida louca e vã
Sigmund com afã
Foi pra universidade
Em Viena tal cidade
Repressora e muito rica
Como é que Freud explica
Essa tosca Humanidade
VI
Sigmund pesquisou
Hoje bem compreendido
Freudiano e entendido
Escreveu nos clareou
Tudo que nos explicou
Com total diversidade
Dr. Freud meu “cumpade”
Tudo nos desmistifica
Como é que Freud explica
Essa tosca Humanidade
VII
Freudianamente vamos
Festejar seu Sigmund
Que botou no mapa-mundi
Tudo isso que estudamos
Dr. Freud festejamos
Sua genialidade
Versejando com vontade
E sem castração pudica
Como é que Freud explica
Essa tosca Humanidade
VIII
Pois falou da fase anal
Nosso desenvolvimento
E depois de um tal momento
De uma tal de fase oral
Do prazer sexual
Repressão e identidade
A neurose e a insanidade
Muita gente fez futrica
Como é que Freud explica
Essa tosca Humanidade
IX
Meu doutor tão europeu
No passado fez história
No presente tendo glória
No passado concebeu
O futuro conheceu
Pode ver com claridade
Nossa personalidade
Como ela modifica
Como é que Freud explica
Essa tosca Humanidade
X
E assim falicamente
Detonando as repressões
Ver na mente as razões
Que perturbam tanta gente
Dr. Freud viu na frente
E com grande intensidade
Nos mostrou a claridade
Seu valor se justifica
Como é que Freud explica
Essa tosca Humanidade

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Sales compositor..



Um doidim compositor
Formação tem: musical
Mas o Sales não copia
Sales é original
Libertário: não fascista
E nem gigolô copista
Da cultura ancestral

ARIANO E O NOBEL

"Eu aceito, mas não disputo. Como não disputei a vaga das academias para as quais fui eleito", comentou Ariano Suassuna, referindo-se à ABL, Academia Pernambucana de Letras e Academia Paraibana de Letras.

Ele me lembra muito o personagem Dom Quixote, no qual Cervantes descrevia uma Europa feudal em franca decadência e seu remanescente da nobreza falida delirando diante da realidade daquele mudo em mutação. Ao contrário de Cervantes, que apenas narrou através de Dom Quixote o declínio do mundo feudal ante as transformações que vieram com as mudanças econômicas e políticas, nosso professor paraibano se comporta como o personagem da literatura espanhola.

Só que Dom Quixote inventava inimigos imaginários nos seus delírios, assim como Ariano de certa forma exagera e fantasia coisas em relação às coisas exógenas à cultura brasileira. Recusou-se a receber um prêmio SHARP, por achar o nome feio. Nacionalismo é algo louvável, mas dizer uma palavra é feia por não ser em nossa língua é demais da conta. Postura que em sociologia costuma ser chamada de etnocentrismo, quando um povo toma sua cultura como paradigma de excelência e de superioridade em relação a outros povos e culturas. Como podemos combater a intolerância cultural neo-colonialista dos povos mais ricos com a mesma postura de negação do outro? As culturas dos povos, segundo preconiza a antropologia e todo conjunto das ciências sociais, não são nem inferiores nem superiores apenas diferentes.

Tem outra situação em que ele desdenha da língua inglesa quando diz que feia a palavra “book”, por ser escrita de um jeito e pronunciada de outro. Quer dizer, não sabe separar o que venha ser repulsa ao imperialismo do mundo anglo-americano, do que vem a ser repulsa a um idioma, que é simplesmente a expressão cultural de povos que como quaisquer outros povos têm sua contribuição na construção da civilização humana.
Podemos combater quem nos vê com olhos fascistas sendo tão obscurantistas e fascistas como eles?

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Saravá Millôr Fernandes



Já dizia o Millor grande sujeito
Que na vida mostrou tanta cultura
Que seu livre pensar é só pensar
Pois Millor pensador na forma pura
E assim que deitou filosofia
Quando mando em alguém: democracia
Quando mandam em mim é ditadura

Ao dizer o que disse um cabra certo
O Millôr foi além do que ele viu
Escreveu muito bem depois partiu
Nunca mais vamos ter Milôr por perto
O Brasil que mostrou num rumo incerto
No Pasquim escreveu em noite escura
Num Brasil de opressão e de tortura
Pra dizer seu Millôr com picardia
Quando mando em alguém: democracia
Quando mandam em mim é ditadura

O pensar relativo dos humanos
Reclamando na vida seus direitos
Somos nós uns primatas com defeitos
Somos nós uns macacos desumanos
Todos nós temos genes de tiranos
E em nós há uma coisa obscura
Que na hora da crise ela procura
Vem sair e na lata se anuncia
Quando mando em alguém: democracia
Quando mandam em mim é ditadura

Somos nós de nascença bons mandões
Uns primatas escrotos egoístas
Muitos são bem carolas e fascistas
Outros são mentirosos e poltrões
Todos nós somos como gaviões
A caçar os irmãos e com loucura
Seduzir e oprimir mas com candura
Exercer seu poder com hipocrisia
Quando mando em alguém: democracia
Quando mandam em mim é ditadura

Mas mandar todos gostam de exercer
Um poder de dizer como se faz
Isso pode no fim findar com a paz
Só no jogo bem podre do poder
Que assim a coisa faz ferver
Pois poder é uma forma de usura
Mais escrota nojenta e obscura
Que se tem por aqui em toda via
Quando mando em alguém: democracia
Quando mandam em mim é ditadura

segunda-feira, 21 de maio de 2012

SOBRE O CORDEL




Eu só conheço dois tipos de cordel que não classifico como novo ou velho. Cordel pra mim tem de dois tipos: ruim e bom. É claro que em tempos ancestrais, publicar era algo bem mais difícil, o nível de acesso à informação era bem menor, de forma que pouca gente se atrevia a publicar algo que se desse o nome de cordel, havia mais qualidade pelas obras ancestrais que tive oportunidade de ler. Hoje, com o advento do acesso às tecnologias digitais, qualquer um pode fazer do seu PC uma editora, como eu mesmo faço.

Conheço muito cordel e cordelistas contemporâneos de qualidade, embora reconheça que andei lendo muita bobagem, coisas sem o menor apuro técnico, assim como coisa com apuro técnico isenta de poeticidade, poesia é algo muito além de métrica e rima. O cordel, como tudo neste mundo é contextualizado.

E os tempos não voltam mais, como diz o mote, o que interessa é que as pessoas que realmente levam o cordel a sério, sem corromper a tradição e a técnica, assim como sem negar a contemporaneidade de novas temáticas e abordagens tenham o devido espaço e crédito, já que o que é isento de valor estético por si mesmo não se sustenta como obra de arte. Meu cordel não tece loas ao cangaço de Virgulino e sim aos quilombolas de Zumbi, assim como não entra no séquito dos que canonizam o padreco polêmico e mundano de Juazeiro do Norte, também não culpa a seca como vilã única das mazelas sociais, a cerca do latifúndio é o foco dessa crítica, os puristas, passadistas e similares não apreciam, mas, mesmo assim continuo escrevendo um cordel de um nordeste além deste estabelecido por uma tradição escolástica, metafísica determinista, não científica e dialética.

Vermelhos da vergonha




O vermelho de Karl Marx
Que ensinou a mais valia
O vermelho das bandeiras
Que se empunhou um dia
Vão pintar com cor tristonha
Não vermelho de vergonha
De ver tanta baixaria

AMIGOS

Os amigos de verdade poucos são
A contar bem na ponta dos seus dedos
Os demais o vão ser de ocasião
Como os quais no geral tantos degredos

Um amigo de verdade nosso irmão
Para ele revelamos os segredos
Sem vacilo estende-nos a mão
E divide conosco até seus medos

Mas o mundo da gente é assim mesmo
Competir,disputar, moral a esmo
Foi assim que fez a humanidade

Mesmo assim há quem foge e transcende
Não apaga a luz do bem que acende
Pois bem sabe o valor de uma amizade

EXTREMOS

Uns exaltam o Recife ufanistas
Outros falam mal de tudo que revela
Os extremos pra tais maniqueístas
Que reduzem conceitos por tabela

Um Recife d’ouro para os saudosistas
Para outros todo poço de mazela
Uns se ufanam com arroubos nativistas
Outros dizem ser Recife qual cadela

Entre tantos há quem viva simplesmente
E desfrute do que é pois realmente
Não lhe vai falar mal ou ser Bandeira

Pois o mundo da gente é misturado
Bem e mal vivem juntos lado a lado
Como em nossa Veneza Brasileira

ALLAN SALES

sábado, 19 de maio de 2012

Mágoas

Tentei mágoas afogar
Com cachaça vinho e tais
E assim enchendo a cara
Embebi doses a mais
Hoje sóbrio bebo águas
Não se pode afogar mágoas
Elas nadam bem demais

AS MALOCA DE CASA AMARELA

(se Zé da Luz morasse no Recife contemporâneo)

Três muié ou três trepeça
Três maloca da favela
Que vi num ponto de ônibus
No Vasco em Casa Amarela
A mais veia a mais escrota
Tinha uma lapa de rabão
Torcia pelo leão
Vi na camisa marota

A segunda, a mais franzina
Me filmava de montão
Ligada no violão
Com um cara bem ladina
Os oi dela parecia
Uns dois farol acendendo
E vermelho os dois ardendo
Na lombra que ela trazia
A terceira essa se invoca
Me espiava de um jeito
E piscava pra um sujeito
Montado numa motoca

O maloca bem arisco
Ficou oiando pra eu
Minha perna se tremeu
E o meu cu foi dando um pisco

Eu até me assustava
Olhando as três maloca
E o cabra da motoca
Qual quem mais me tirava
E assim de supetão
Liguei pro cento e noventa
E vi a corja nojenta
Embarcar num camburão.

Meu amigo Aderaldo Luciano



Tive o prazer de conhecer na bienal do livro meu confrade Aderaldo Luciano, PHD em letras pela UEFRJ, cordelista de boa cepa, um guerreiro que luta ferozmente pelo reconhecimento dos meios acadêmicos e órgãos oficiais de cultura da historicidade e excelência estética da literatura de cordel, muitas vezes excluída, outras tantas tratada como uma arte menor, circunscrita no universo do pitoresco e do “folclórico” na pior acepção que esta palavra pode ter.
Num país de tradição bacharelesca, a academia é quem põe o selo de qualidade dos que

devem ou não ser aceitos pela corte dos que ditam os paradigmas estéticos da sociedade de classes, onde tudo que vem da alma do povo é antes tem que ser analisado, dissecado, submetido ao julgo dos doutos, e, se possível domesticado para não contrariar os ditames de quem domina política e economicamente o restante de todo corpo social. Hoje a luta dele com gestores da Biblioteca Nacional, que pra não fugir da regra geral, anda dando o mesmo tratamento se sub dimensionar a importância de nossa literatura de cordel como produto cultural refinado e dos mais autênticos que criou e ainda cria o bravo povo do meu querido Brasil.
Seu doutor literato bem postado

Quem possui tanto dom por ler ciência
Não demonstra aqui a sapiência
Ao mostrar seu pensar colonizado
Pois a arte do povo meu prezado
Vem de longe pois rompe segue via
Pra ficar pro futuro em alforria
Com você sem você e não importa
O cordel deste mundo abre a porta
Sem ligar pro que diz a academia

Tu que vês sem ser Cego Aderaldo
És um vate de luta com sucesso
Do cordel vai nas vias do progresso
Quem exclui em você não dá um caldo
Vai ficar com bolores como saldo
Nem botando pra fazer a terapia
E Darcy o Ribeiro nos dizia
Pra cultura popular não tem comporta
O cordel deste mundo abre a porta
Sem ligar pro que diz a academia

No geral é seguir poetizando
E fazer como fez grande Leandro
O cordel segue a fazer meandro
Pelo mundo da gente se firmando
E se eles não vão ver estão errando
Vamos nós promover mais cantoria
Declamar publicar com galhardia
Esquecer de quem tem a vista torta
O cordel deste mundo abre a porta
Sem ligar pro que diz a academia

Salve Clarice Lispector!

A Clarice nos falou
De uma forma genuína
Que o belo tem encanto
Mas assim não determina
A verdade disse tanta
Que o bonito lhe encanta
E o sincero lhe fascina

O bonito atraindo
O sincero cativando
O bonito encantando
O sincero tão bem vindo
O bonito sendo lindo
O sincero é coisa fina
O bonito não domina
O sincero nunca espanta
O bonito que encanta
E o sincero que fascina

O bonito é só imagem
O sincero é conteúdo
O bonito não é tudo
O sincero tem mensagem
O bonito com visagem
O sincero é uma mina
O bonito é lamparina
O sincero sol que canta
O bonito que encanta
E o sincero que fascina

No bonito a visão
No sincero sentimento
No bonito no momento
No sincero em profusão
No bonito tem tesão
No sincero toda sina
No bonito pouco atina
No sincero não quebranta
O bonito que encanta
E o sincero que fascina

Pois Clarice tão sincera
Mas também toda beleza
Sua verve a sutileza
Seu olhar duma pantera
A Lispector que era
Toda força feminina
Ela que desde menina
Tanta verve assim levanta
O bonito que encanta
E o sincero que fascina

Zé Limeira nesta hora
Invadiu o meu poema
Tava lá na Borborema
Junto com sua senhora
Pôs anel numa penhora
Pra um judeu lá em Campina
E depois em Teresina
Resolveu criar uma anta
O bonito que encanta
E o sincero que fascina

Glosas sobre mote garimpado na comunidade Oficina do Cordel (Facebook)

A saudade chegou bem de repente
E calou minha voz dentro do peito
Pra deixar sem calor lençol no leito
E fazer o meu canto assim dolente
A saudade marcou assim de frente
E deixou o meu peito aqui na hora
E depois de ficar tudo piora
Os meus prantos por ti num mar imersos
A Saudade ditou-me estes dez versos…
Quem me dera te ter comigo agora

A saudade cruel por companhia
De um pinho calado sem canção
Uma voz embargada um coração
Que ficou a sentir sem serventia
A saudade brotou na poesia
E se fez do meu canto vil senhora
O poeta se lembra canta e chora
Ao lembrar os momentos são perversos
A Saudade ditou-me estes dez versos…
Quem me dera te ter comigo agora

Fui viver por aí triste e sozinho
Mas viver pra lembrar dela é tormento
Meu amor que se foi assim no vento
Vou lembrar e dizer na voz dum pinho
A saudade do gesto e do carinho
Que ela deu para mim mas foi embora
Eu fiquei meu penar muito demora
Pois não tem como tal modos reversos
A Saudade ditou-me estes dez versos…
Quem me dera te ter comigo agora

Meu lembrar de querer sua presença
Mas se foi e deixou só a saudade
Pra deixar só aqui uma metade
De alguém que em ti somente pensa
O amor ser ter perto dá descrença
O pensar todo tempo que assessora
A distância cruel tudo piora
Os tormentos que traz são bem diversos
A Saudade ditou-me estes dez versos…
Quem me dera te ter comigo agora

Com mulher feia...........

Todo cabra cachaceiro é corajoso
Toma porre depois fica bem afoito
Azarando um dragão e faz o coito
E nem nota quanto foi defeituoso
Noutro dia ele acorda preguiçoso
De ressaca reza pra Ave Maria
Não bebesse essa merda não faria
Em mocreia por aí meter a peia
Eu de porre não deitei com mulher feia
Eu apenas acordei no outro dia

Vai surtar quando acorda vê do lado
Deus do céu o que fiz com minha rola
Ela acorda satisfeita e quase tola
Com olhar bem meloso apaixonado
Você olha pro dragão bem assustado
Mas mandou bem demais na putaria
Ela pensa que não fica pra titia
Por você os pneus que tem arreia
Eu de porre não deitei com mulher feia
Eu apenas acordei no outro dia

Na refrega no escuro e na manguaça
Muito nego fudeu com cada troço
Requenguela demais eu que não posso
Me lembrar quando eu bebi cachaça
Mulé feia cabra macho chega e traça
Bonitinha até fresco comeria
Goza nela e até faz sodomia
Se ela tem um corpinho de sereia
Eu de porre não deitei com mulher feia
Eu apenas acordei no outro dia

Salve Paulo Freire!



Paulo Freire certamente
Acertou ali na veia
Educar nos incendeia
E clareia nossa mente
Educar o povo urgente
No sentido mais profundo
Com o Freire não confundo
Seu pensar grande ressoa
Educar muda a pessoa
E a pessoa muda o mundo

Com um povo educado
Que faz prosperar nação
Não só PIB com razão
Pro país ser avançado
Sendo um país letrado
O seu povo vai mais fundo
É primeiro sem segundo
Onde o bom saber ecoa
Educar muda a pessoa
E a pessoa muda o mundo

Paulo que sabiamente
Descreveu todo processo
Um arauto do progresso
De um modo inteligente
Educar a nossa gente
Neste mote eu aprofundo
O presente aqui refundo
Pra falar de coisa boa
Educar muda a pessoa
E a pessoa muda o mundo

O progresso social
Tem por base a educação
Os destinos da nação
É de cunho crucial
Um projeto nacional
Neste tem eu me afundo
Sem votar num vagabundo
Que da educação destoa
Educar muda a pessoa
E a pessoa muda o mundo

O saber é a redenção
Das mazelas da miséria
Conhecer toda matéria
Do saber toda função
Com escola em profusão
O atraso é moribundo
Com saber grande e fecundo
Entoar a nova loa
Educar muda a pessoa
E a pessoa muda o mundo

CRUZADA INTERNÉTICA PRÓ JEGUE.

Recentemente vi uma postagem conclamando as pessoas a salvarem os jegues de virarem item na pauta de exportações para a República Popular da China, nossa maior parceira comercial na atualidade. Um dos que apóiam essa cruzada pró jegue chegou a dar o seguinte depoimento:
“ Isso só está acontecendo por culpa de pessoas que não acreditam mais em Jesus por aqui,fui em um interior aqui perto e descobri tristemente que os jegues estão sendo vendidos por vinte,trinta reais,o Homem do interior prefere agora” motos chinesas”!!! Por que não mandam baratas,mosquitos,e outros bichos que infestam nossas casas,sem querer ofender os hábitos culinários chineses,mas o jegue não,ele é nosso irmão. “

(autor aqui omitido por não ter dele permissão de colocar seu nome):
O jegue virou uma verdadeira praga no sertão,o povo não emprega mais sua força de tração. Morreriam à míngua de todo jeito, pelo menos dessa foram servirão para alguma coisa. Eu conheci um bispo de origem italiana de uma diocese no sertão que aprecia carne de jegue e até me ofereceu para provar. Se for pra salvar jegues, deixemos também de hipocrisia e paremos de matar pra comer vacas, bodes,galinhas e etc. Viva o jegueburger chinês.

Não existe povo mais devoto que o povo do sertão, não é por falta de crença no filho da virgem que é não foi filho biológico do carpinteiro José que o povo sertanejo quer mandar os jegues pra China.É a lógica da sobrevivência mesmo, querem dar ao jegue uma função útil além da função que eles tem hoje de ser uma praga sem nenhuma utilidade prática na vida desse povo pobre e sofrido das plagas sertanejas.

Venha grana vão-se os jegues
E os chinas vão então
Fabricar coisas com eles
Esse bicho tão cristão
Afinal se virou praga
Vem a China compra e paga
Viva o PIB e a exportação

sexta-feira, 18 de maio de 2012

VATICANO É RACISTA?

Vaticano é racista?
Eu pergunto pra vocês
Santo preto o Benedito
Foi nas cotas que se fez
Outro preto desconheço
Bispos pretos só conheço
Do meu jogo de xadrez

Um Jesus caucasiano
Apesar dele judeu
Quem pintou e concebeu
Resolveu ter esse plano
E assim o Vaticano
Na maior desfaçatez
Mas se negro não tem vez
Isso vem desde o começo
Bispos pretos só conheço
Do meu jogo de xadrez

No Brasil a padroeira
Tem imagem enegrecida
E na fé do povo ungida
Como fé bem verdadeira
Mas tragédia foi negreira
Com maldade e sordidez
Com água benta que se fez
Essa bênção por bom preço
Bispos pretos só conheço
Do meu jogo de xadrez

Mas já vi bispos pretinhos
Na TV um certo dia
Sei que tem com garantia
Mas na certa são pouquinhos
Pois no mundo os escurinhos
Sua vida se desfez
Com negreiros todo mês
A mudar seu endereço
Bispos pretos só conheço
Do meu jogo de xadrez

PROJETO DE PAÍS...

Projeto de casa grande nós temos ,está aí desde 1500, intocável,o que se faz no Brasil hoje é uma manipulação populista pra acalmar a revolta social,esse modelo tem prazo de validade,as demandas sociais crescem em ordem exponencial e eles dão esmolas em escala linear, as curvas divergem muito.
O modelo de tampão populista, é saída contra uma ruptura do status quo,o bom e velho pacto de elites, que o grande Nelson Werneck Sodré tão bem descreveu:façamos a revolução antes que o povo a faça.

Fizemos nossa independência pondo no poder o filho do nosso opressor português,sem ruptura.

Fizemos a república, mantendo os vícios do império, sem mexer no modelo econômico,a revolução de 30, manteve a exploração das massas, fez somente a mudança do eixo de dominação internacional, mudando para mãos americanas nossa dependência.
A redemocratização depois do estado novo se fez seguindo ditames da guerra fria, com o sistema de espoliação das massas intocado.

Quando o povo finalmente se organiza e questiona o modelo e Goulart sinaliza com mudanças tímidas da matriz social e produtiva , uma ditadura vem e acaba com tudo.

E aqui estamos nós , sem reforma agrária, sexta economia do mundo com o 56º índice de IDH do mundo, isso é insustentável a longo prazo para criar um país de ponta. Até quando o tampão de medidas populistas paliativas vai permanecer?

SHOW MUSICAL OU KARAOKÊ?

Tocar em bares é muitas vezes uma tarefa que nos exige ter atitude. Nosso compromisso como nosso público, manter o nível de nosso trabalho, acredito deva ser nossa meta, assim como deve ser de todo profissional de qualquer ramo de atividade.
É por demais comum aparecerem colegas nossos e outras pessoas que são músicos nos ambientes nos quais nos apresentamos, muitas vezes outros músicos nos pedem uma chance de usar nosso palco para divulgar sua arte. Eu sempre abri e abro espaço pra esses amigos e colegas de profissão, afinal é sempre de bom tom uma quebra de estilo e sonoridades, quebrando a feição monocórdia que é um só artista por um tempo longo em mesmo palco.

O problema é quando aparecem pessoas que não possuem a mesma performance, dessas que os amigos elegem como artista da turma, que em eventos privados dão seu show pra seu público doméstico e que julgam que em espaço público terão a mesma acolhida. Tempos atrás conheci uma aspirante à cantora. Foi num evento num espaço onde a acompanhei cantando pra pessoas conhecidas, ela agrada mais pela simpatia, é uma mulher bonita, mas do ponto de vista musical é deficitária, desafina um pouco e tem dificuldades de ritmo, atravessando em relação ao acompanhamento musical.

Mercado da Boa Vista,lugar onde toco desde março de 2008. Hoje temos um grupo bem entrosado tocando lá: eu de voz e violão, Paulinho Cantor nosso vocalista e Gel de São José, nosso talentoso percussionista. Conseguimos montar um repertório bastante dinâmico e que tem agradado em cheio ao variado público que lá freqüenta. Nossa política de abrir espaço para outras pessoas ocuparem nosso palco leva sempre em conta o fator de essa intervenção não quebre a dinâmica, já que nosso público é bastante exigente e não recebe muito bem quem não segura a onda direito.

Essa moça que gosta de cantar apareceu lá querendo se apresentar. Eu expliquei pra ela que ali é um espaço público, com grupo ensaiado, no qual não há condição de colocar pessoas que não tenham a mesma qualidade musical do grupo e dos outros músicos que nós eventualmente convidamos pra dar uma canja em nosso palco. Foi complicado, ela alterou-se, disse que sempre é ovacionada por onde se apresenta, que as pessoas perguntam onde ela costuma se apresentar,etc., etc.

Eu me limitei a ouvir e disse na lata: – tudo bem, mas você atravessa e desafina demais, e eu não vou colocar no meu palco quem não tem afinação e ritmo, isso é meu espaço de trabalho, construí isso aqui com quatro anos de muito esforço junto com meus parceiros de palco. Nós aqui fazemos um show, não fazemos karaokê. Mas como Narciso acha feio o que não é espelho, ouvi seus impropérios irados e me retirei pra voltar ao palco e encerrar mais um domingo como faço desde 2008. Como diria Brecht: – nós que pregamos o bem, nem sempre podemos ser bons. Fazer o que?

AS VERBAS DA CULTURA

“Um quadriênio tenebroso para quem realmente faz cultura” . (depoimento de um produtor, diretor de teatro e ator Samuel Santos numa postagem de rede social recentemente)

Cultura, segundo a carta magna é direito do cidadão e dever do estado. Em sociedades em que a cidadania e seus direitos são respeitados, o fomento aos bens imateriais é quase que uma norma natural.
Fácil para povos com situação econômica estável e sociedade realmente democrática. No nosso caso, vivemos ainda uma caricatura de república onde funciona o estado de direito, porém, viciada pela apropriação desse mesmo estado pelos interesses corporativos que estão invariavelmente por trás de todo arcabouço de estruturação orçamentária.
Nisso aí, resta pra cultura uma cifra magérrima dos orçamentos federais, estaduais e municipais, cabendo aos gestores administrar a escassez de recursos. Os mecanismos de renúncia fiscal de fomento às artes demonstraram até agora serem paliativo ante a inapetência dos gestores públicos em dar ao mundo da cultura e das artes a verdadeira valoração que estas deveriam ter no processo de construção social e histórica.
Mas também ao estado não cabe tudo, o restante da sociedade deveria tomar pra si essa tarefa levando em conta o paradigma de responsabilidade social. Por que é tenebroso? A classe artística deixou-se ficar refém das iniciativas públicas de fomento. Nos anos 80 não havia editais,os mecanismos viciados que hoje tem dos funcultura da vida, mesmo assim não deixava de existir produção cultural no Recife. Onde estão os empreendedores? Tenebroso também é a falta de inciativa de romper com essa dependência que muitos voluntariamente criaram em torno dos poderes públicos.

RESPOSTA

Respondendo à indagação de um amigo da classe artística.

Queria só fazer uma pergunta aos candidatos: qual é o projeto para a cultura? ( Samuel Santos)
Minha resposta:

Usar artistas idiotas pra formar opinião daqueles mais idiotas que esses bostas pra votar neles. Depois de chegar lá, empregar tecnocratas burros e insensíveis nos órgãos de cultura para serem bajulados pelos artistas oportunistas, venais e sem moral, tratar artista como lixo, dar chá de cadeira, e só contratar os mais medíocres que beijam suas mãos porcas. Fazer dos projetos de fomento ferramenta de acumulação de poder e humilhar a classe artística com essas migalhas que pertencem a toda sociedade e que eles tratam como se fosse deles. Para esses filhos da puta, cultura se resume a mega eventos no marco zero e as festas do calendário: natal, carnaval, são joão, etc..

Estrofes de Internet



É uma coletânea de textos soltos, geralmente postados no facebook.

A estética e a poética
Quem assim as bem criou?
Sentimento de ver belo
Que nas artes se firmou
A estética foi Apolo
Dionísio com seu solo
A poética inspirou

Tu não tiras minha paz
Se estás perto nesse instante
Se bem perto estivesse
Bem seria interessante
Uma coisa sei ao certo
Minha paz não tiras perto
Tiras se estás distante

Meu afeto é perene
Isso sei que é verdade
Sentimento permanece
E não morre com a idade
E assim não é meu caso
Sentimento não tem prazo
Pra perder a validade

Conversando com alguém na internet
Ela disse eu me vou depois procuro
Eu aqui matutando e teclando
Aceitei seu adeus assim seguro
Pois depois descobri qual o seu crivo
Do adeus ligeirinho seu motivo
O marido chegou de pau bem duro

Alma gêmea não procuro
Que besteira arretada
Pois as almas não se entendem
Só os corpos na trepada
E assim procuro a fêmea
Pois em vez de alma gêmea
Só achei alma penada

Lá na ilha do Retiro
Santa Cruz mostrou seu porte
A empáfia leonina
Decretando triste sorte
De jogar leão na vala
Nem preciso foi ter Bala
Pra ferrar time do Sport

É um porco um felizardo
De tal forma definida
Com a morte se transforma
Noutra coisa bem querida
Felizardo quando ocorre
Pois o porco quando morre
Fica de bacon a vida

Vida virtual imagem
Para o mal e para o bem
Como espelho é a vida
Ida a e volta que ela tem
Tudo que em vida inflete
Como espelho ela reflete
Traz de volta e não retém

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Uva e vinho.

O que fazes comigo é teu problema
Plantarás colherás em tal futuro
A colheita virá eu te asseguro
É assim que se segue nosso tema
Se te falo aqui neste poema
É pra tu se ligar neste porvir
O que faz no futuro vai surgir
E assim terás como me pagar
Sendo uva tu podes me pisar
Mas se vinho terás que me engolir

AMIGOS?



Quer saber quanto eles são?
Os amigos?Dá uma festa
Muitos chegarão correndo
Pra beber e ouvir seresta
Pra sacar quem é decente
Basta então ficar doente
Pra saber quem deles presta

Os amigos variáveis
Quando tudo está de cima
Quando a grana nos arrima
Eles são bem adoráveis
Mas também são descartáveis
E jogados pela fresta
Quando a crise vem de testa
Eles fogem sem aviso
Basta então só ficar liso
Pra saber quem deles presta

São amigos na fartura
E estranhos na escassez
Que se mostram duma vez
Como são real figura
Gente assim é pra fritura
Pois canalha se atesta
Pois o são d’alma funesta
De moral tão curta e lerda
Basta só ficar na merda
Pra saber quem deles presta

É amigo da festança
E no resto indiferente
É amigo tão somente
Nos momentos de gastança
Nos momentos sem bonança
Nada dele nos empresta
Pula fora e vai nesta
Deixa tu só de fudido
Basta só ficar falido
Pra saber quem deles presta

Os amigos só de farra
Dos momentos de folia
De cachaça e putaria
Fogem quando é uma barra
E aí tudo se amarra
O cabrão se manifesta
Lamentar o que nos resta
Ver ruir nossa marquise
Basta só ficar na crise
Pra saber quem deles presta

Quando tem um interesse
Que você pode ajeitar
Chega ali pra cortejar
Com sorriso grande desse
Mas se nada acontecesse
Seu caráter nos molesta
Como coisa indigesta
Vai deixar você de lado
Basta só ficar ferrado
Pra saber quem deles presta

Como Augusto versejou
Que a mão que nos afaga
Apedreja como praga
E a boca que beijou
Em escarro se tornou
Gente fera da floresta
O viver simples contesta
Pois só vale o teu cobre
Fica tu lascado e pobre
Pra saber quem deles presta

São amigos falseados
Bons amigos de uma onça
Sem calibre na responsa
Bando de cabras safados
Ficam juntos saciados
Quando a crise se encabresta
Tanta alma desonesta
Por ali se escafedendo
Basta então ficar devendo
Pra saber quem deles presta

sábado, 5 de maio de 2012

Décima em maio.

Eu já vi noutro tempo diferente
Hoje vejo, você nada mudou
Permanece do jeito que ficou
Na essência, pois tem a mesma mente
Mas a vida caminha só pra frente
E a gente percebe e muito bem
Transformar, transmudar e ir além
Pra quem tem mesmo afeto mesma essência
Quem não tem, vade retro, paciência
Só se perde aquilo que se tem

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Prioridade e opção

Aprendi coisas na vida
E a muitas dou razão
Que amor, se verdadeiro
Não maltrata o coração
E assim vejo a verdade
De não dar prioridade
Que nos vê como opção

É um dar sem receber
Como troca vil injusta
Sentimento que nos custa
Toda forma de sofrer
Sentimento o padecer
Causa até consumição
Descambando em depressão
Isto sim temeridade
Não vou dar prioridade
Que me vê como opção

Mas vivi coisas assim
Que hoje vivem no passado
Onde eu fui rejeitado
Vade retro ô coisa ruim
Quero amor, mas bom pra mim
Doutra forma quero não
Pois amor só com tesão
E com reciprocidade
Não vou dar prioridade
Que me vê como opção

terça-feira, 17 de abril de 2012

Abaixo as torcidas organizadas



Cidadão se estarrecendo
Vendo tanta excrescência
Gente tosca pelas ruas
Espalhando tal demência
O que antes foi torcida
Transformada enfurecida
Organiza a violência

Todo caos pela cidade
Depredando coletivos
A polícia em corretivos
Não detém a insanidade
Toda incivilidade
De moral tanta carência
Brucutus sem consciência
Multidão ensandecida
Transformada enfurecida
Organiza a violência

São assaltos arrastões
Coletivos depredados
Os do bem sempre assustados
Maloqueiras multidões
Entre eles tem ladrões
Combater e com urgência
Acabou-se a paciência
Clama a paz pra nossa vida
Transformada enfurecida
Organiza a violência

São um bando de animais
Fracassados perdedores
E suínos seus pendores
Os seus modos bestiais
Os apelos sociais
Pra barrar tal indecência
Sem moleza e leniência
Com tal gente poluída
Transformada enfurecida
Organiza a violência

São bandidos desgraçados
A posar de torcedores
Este circo de horrores
Em que somos arrastados
Os lazeres maculados
Com tamanha incongruência
Um modelo vê falência
Desta turba enlouquecida
Transformada enfurecida
Organiza a violência

São um bando de frustrados
Como um lixo social
Com o seu pendor fecal
Onde tem os celerados
Porcos tão deseducados
Turba lhes dá anuência
Se tem pouca inteligência
Tal gentalha embrutecida
Transformada enfurecida
Organiza a violência

Vamos dar um basta agora
Nesta coisa absurda
A justiça não é surda
Sabe que chegou a hora
Combater e sem demora
Deve ter tal incumbência
O seu cheiro tem essência
De privada entupida
Transformada enfurecida
Organiza a violência

Rubros negros tricolores
Alvirrubros e toda cor
Cidadão e torcedor
Vê tal crise de valores
Governantes meus senhores
Combater com competência
Sufocar tal decadência
Dos costumes espargida
Transformada enfurecida
Organiza a violência

Vou contar outra vitória
E gritar cazá cazá
Ver timbu dizer de cá
Dar um basta nesta escória
Superar triste memória
Acalmar tal turbulência
Restauremos a decência
Que agora está perdida
Organize-se a torcida
Nunca mais a violência

domingo, 15 de abril de 2012

Meu amigo Coronel PM Adalberto Lins Sales.

Dos meus doze aos meus dezoito anos eu fui aluno do CPM, Colégio da Polícia Militar de Pernambuco. Este foi fundado em 1967 com o intuito de ser preparatório e encaminhar jovens para o oficialato da nossa PM. Tinha a mesma formatação do Colégio Militar do Recife, do Exército Brasileiro e demais congêneres espalhado Brasil afora.

Por pressão de minha mãe, que me queria milico de todo jeito, a matriarca, quando eu tinha onze anos de idade perguntou se eu queria estudar em qual dos dois colégios militares que existiam no Recife, sem opção de estudar como todo jovem normal em algo menos neurótico do que as duas únicas opções que ela me colocou. Terminei prestando exame no CPM, onde eu estudara a quinta série de admissão ao ginasial, justamente num curso preparatório mantido por um major aposentado da PM e que funcionava dentro das instalações do colégio.

Até o terceiro ginasial eu fui de comportamento exemplar, sempre tive boas notas, estando sempre entre os primeiros de minha turma. A partir da quarta série, eu comecei a aprontar demais disciplinarmente e assim forçar minha expulsão já que perdera completamente a vontade de um dia ser militar. Novamente, a matriarca pegou pesado, tive que encarar o restante dos sete anos de colégio de milico. Foi nessa fase conturbada em que o jovem Tenente Sales, chegou para trabalhar no colégio, justamente na sessão de instrução, responsável pelas punições disciplinares dos alunos perturbadores da ordem.

Eu apesar das notas altas, das minhas promoções a aluno tenente e a aluno capitão, passara a esculhambar demais no colégio. Ridicularizar professores, sair na porrada com vários colegas, desacatar sargentos monitores sem falar no meu vocabulário de rapazola desbocado, inclusive em sala de aula quando alguém me torrava o saco. Foi uma punição atrás da outra, meu conceito disciplinar baixando, levei umas broncas feias em casa por causa do excesso de molecagem. Foi aí que o Sales entrou em cena.

O então capitão Sales me chamou pra conversar, com minha ficha na frente, segundo da minha turma, só passava por média. Ele me perguntou uma coisa bem simples:- fora perturbar o juízo dos outros, o que você mais gosta e sabe fazer? Eu respondi:- jogar xadrez. Ele prontamente me encaminhou para a incipiente equipe de xadrez do colégio, onde dois irmãos cearenses e mais um outro rapaz do Recife dominavam a cena. Fui colocado para treinar com eles, quando um dos titulares da equipe foi expulso do colégio por ter chamado um sargento de filho da puta e saído na porrada com ele, eu me candidatei a ocupar sua vaga.

Ganhei o torneio de acesso à vaga deixada pelo colega aloprado dei uma parada com as molecagens por uns tempos. Em 1976, quando jogávamos o campeonato estudantil do estado, eu levei uma punição de três dias de suspensão. Uma semana antes dos jogos estudantis, durante a formatura antes das aulas, eu levara um radinho de pilha pro colégio. Durante a formatura eu liguei o rádio, que tocava um forró bem animado, e eu meu colega de equipe de xadrez Aércio dançamos um xaxado. Flagrados pelo nosso monitor, levamos uma parte, e numa segunda feira, soubemos que fomos suspensos das aulas em plenos jogos estudantis.

Minha mãe ficou louca quando soube, eu chegara no limite atingir o comportamento mau, e daí para ser expulso, bastava só uma simples repreensão. Ela foi ao colégio reclamar com Sales, como é que um menino defendendo o nome do colégio em competição era punido daquele jeito? Ela disse que por ela, eu não jogaria mais pelo colégio. Sales, que é psicólogo também, abriu calmamente sua gaveta, e mostrou pra minha mãe pelo menos 10 partes dos sargentos com meu nome. E disse pra ela: - olhe, essa do xaxado é alteração mais leve que ele deu esse mês. Os sargentos vivem aqui reclamado porque ele não é punido. Justamente pelo fato da equipe de xadrez estar indo bem, eu encaminhei essa, mas o coronel mandou punir com três dias seu filho.

E foi assim que ao final de mais duas semanas, ao ganhar o vice-campeonato de xadrez e no ano seguinte o campeonato estudantil, primeira conquista de ouro do CPM, que meu grande amigo Sales me livrou de ser expulso por indisciplina do colégio.

Minha promoção a major aluno foi vetada pelo subcomandante nesse mesmo ano, pois um dia, depois de perder uma partida de tênis de mesa, eu dei um berro pavoroso no pátio colégio,um sonoro puta que pariu, em seguida dei pique e dei um chute numa parede azulejos do recinto de jogos, quebrei pelo menos uma três azulejos com essa pesada. O major, mandou-me conversar com o novo chefe da disciplina que era linha dura e me detestava. Mais uns três dias em casa pra acalmar meu juízo. Dessa vez não fui expulso porque meus feitos na equipe de xadrez me renderam uma série de elogios no boletim disciplinar, coisa que anulava as punições disciplinares que acumulara naqueles tempos.

Os dois últimos anos eu parei com essa coisa toda, tinha que estudar pro vestibular e isso me tirava energia demais pra perder meu tempo com essa rebeldia sem futuro.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Mote de Raphael Moura

Quem trai é gente sem alma
Que faz sofrer outro alguém
Quem trai não é ser do bem
Quem trai faz sim perder calma
Quem trai traz risco na palma
Quem trai é ser enrustido
Quem trai e deixa dorido
Pratica a leviandade
QUEM TRAI NAO SENTE A METADE
DA DOR DE QUEM FOI TRAÍDO

Quem trai não tem sentimento
Nem pensa em ter futuro
Quem trai é um ser tão duro
Que do sofrer faz fomento
Quem trai é ser lazarento
Que vive nesse moído
Quem trai faz sem alarido
Pois trai assim a verdade
QUEM TRAI NAO SENTE A METADE
DA DOR DE QUEM FOI TRAÍDO

Dalila traiu Sansão
E Judas traiu Jesus
JC morreu na cruz
E Eva garfou adão
Salomé traiu João
Tiradentes conduzido
No cadafalso seguido
Por sonhar com liberdade
QUEM TRAI NAO SENTE A METADE
DA DOR DE QUEM FOI TRAÍDO


Os políticos também
Praticando a traição
Bandear de posição
Muita gente se dá bem
Vai trair ganhar vintém
O povão votou iludido
A história do partido
Troca por comodidade
QUEM TRAI NAO SENTE A METADE
DA DOR DE QUEM FOI TRAÍDO


Gente que traiu Arraes
Gente que traiu Brizola
Gente que ficou na cola
Dos babões dos generais
Gente que por vis metais
Foi dar uma de sabido
Hoje em dia esquecido
Perante a sociedade
QUEM TRAI NAO SENTE A METADE
DA DOR DE QUEM FOI TRAÍDO

Um João ficou de costa
Pro João da peãozada
Hoje dança parada
Vai na mídia e faz proposta
No poder fazendo bosta
Rejeitado e cuspido
Se na urna está fudido
Pede a Dilma caridade
QUEM TRAI NAO SENTE A METADE
DA DOR DE QUEM FOI TRAÍDO

Levar gaia ou ser garfado
Neste rol das traições
Traem todos rufiões
Trai quem é cabra safado
Trai prefeito e deputado
Trai juiz de toga ungido
Trai mulher e com gemido
Ricardão fode à vontade
QUEM TRAI NAO SENTE A METADE
DA DOR DE QUEM FOI TRAÍDO

Até nossa rola trai
Quando nós envelhecemos
Mole não mais fuderemos
Com Viagra até que vai
Pois rola quando cai
Vira é pau amolecido
Com Viagra é renascido
Como que na mocidade
QUEM TRAI NAO SENTE A METADE
DA DOR DE QUEM FOI TRAÍDO

ROTINA DE TOCADOR DE BOTECO.



Tocar na noite é como ser um garçom que serve música. As pessoas vão na expectativa de ouvir aquilo com o que se identificam, isso varia com idade, origem social , grau de instrução , etc. É muito difícil agradar e /ou atender a todos os pedidos musicais que as pessoas geralmente fazem, muitas vezes sem perceber qual o perfil de quem está se apresentando. É como se pedissem pra comer um sushi estando em cantina italiana.

Felizmente, nos locais nos quais eu me apresento hoje, no Bar do Dedé (sábados,18h, na Vila do IPSEP desde janeiro de 2012) e Mercado da Boa Vista(11:30h,nos domingos desde 2008), os dois públicos são muito educados e compreendem sem grandes polêmicas quando não é possível atender a um desses pedidos. Mas, tem vezes que acontece algo fora desse padrão, tem pessoas que fazem abordagens agressivas e deseducadas quando não compreendem nossa impossibilidade de atender suas demandas , a gente tenta ser diplomata, mas tem hora que tampa da panela de pressão entra em colapso e gente é obrigado a dar uma regulada nesse tipo de gente sem noção.

Pois é, uma vez eu tocava num boteco na Imbiribeira , fazia um repertório de MPB, coisas de nosso Gonzaga ,Alceu Valença, Fagner, Geraldo Azevedo, Chico Buarque, Tom Jobim, Noel Rosa , Pixinguinha etc. Uma dupla de rapazes jovens e bem musculosos, esse tipo que anda em academia malhando, andam com camisetas cavadas,exibindo a marra pro povo. Chegaram pra beber lá e um deles da mesa me pedia para eu cantar uma música de Fábio Junior.Como esse compositor não está listado em meu repertório, eu, educadamente, disse ao jovem que não conhecia peças musicais do mesmo.

Antes de ir embora, um deles veio até meu palco, com toda grosseria peculiar de gente imbecil me disse: - esse seu repertório é uma merda, por que você não aprende as músicas de Fábio Junior? Eu calmamente respondi:- meu amigo, a música que esse cabra faz é pra agradar menininhas retardadas e baitolas. Fechou o tempo, ele só não brigou porque o bar ficava cerca de 150 metros de uma base comunitária da PM.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

mote achado no facebook

Quem tira nossa energia
Quem enche bem nosso saco
Quem derruba nosso taco
Quem nunca tem serventia
Quem vive na vilania
Quem nos rouba nossa paz
Quem nosso céu o desfaz
Quem nossa vida atenta
Quem nada nos acrescenta
Nenhuma falta nos faz

Gente assim é uma desgraça
Veio ao mundo a perturbar
Nada faz para mudar
Adora ser da trapaça
Gente ruim vem e passa
Hiena ruim contumaz
Nossa derrota o compraz
Lorota besta que inventa
Quem nada nos acrescenta
Nenhuma falta nos faz

Quem nada novo propõe
Quem sempre dá mau pitaco
Quem possui juízo fraco
Quem lado negro supõe
Quem tira e não repõe
Quem é fujão contumaz
Quem faz o mal e refaz
Quem tem a alma nojenta
Quem nada nos acrescenta
Nenhuma falta nos faz

Só chega é na vantagem
Querendo aba de tudo
Carecedor de estudo
Um comedor de lavagem
Este ás da rapinagem
Um lobo sutil voraz
É raposa ladravaz
Duma ganância opulenta
Quem nada nos acrescenta
Nenhuma falta nos faz

Nenhuma falta fazendo
Nenhuma coisa nos dá
Nenhuma coisa fará
Nenhuma coisa acrescendo
Nenhuma coisa nascendo
Nenhuma coisa vivaz
Nenhuma coisa assaz
Nenhuma coisa que inventa
Quem nada nos acrescenta
Nenhuma falta nos faz

Vampirescos mortos vivos
A sugar os que produzem
Ao erro que nos induzem
Como seus falares furtivos
Pra isso são criativos
De menino até rapaz
Pra ferrar tem muito gás
Vem sutil lhe apoquenta
Quem nada nos acrescenta
Nenhuma falta nos faz

Vampirescos mortos vivos
A sugar os que produzem
Ao erro que nos induzem
Como seus falares furtivos
Pra isso são criativos
De menino até rapaz
Pra ferrar tem muito gás
Vem sutil lhe apoquenta
Quem nada nos acrescenta
Nenhuma falta nos faz

Gente escrota oportunista
Que fala mas sem ação
Que confunde a intenção
Nas taras de um vigarista
As artes de ilusionista
No ofício do incapaz
Que nada bom e veraz
Pra gente nos apresenta
Quem nada nos acrescenta
Nenhuma falta nos faz

Quem nunca traz solução
Quem nunca nos elogia
Quem nunca nos contagia
Quem nunca nos dá a mão
Quem nunca bota um tostão
Quem nunca que é capaz
Quem nunca moça ou rapaz
Quem nunca nada sustenta
Quem nada nos acrescenta
Nenhuma falta nos faz

Quem sempre maledicente
Quem sempre longe da vista
Quem sempre roda na pista
Quem sempre o indolente
Quem sempre inventa e mente
Quem sempre fala mordaz
Quem sempre é leva e traz
Quem sempre a lenha senta
Quem nada nos acrescenta
Nenhuma falta nos faz

sábado, 7 de abril de 2012

EU E A ESQUERDA.

Fui educado em escola militar (Colégio da Polícia Militar) nos anos 70 dos meus 12 aos 18 anos, sujeito ao caldo de cultura típico de orientação de direita ultra reacionária, com uma intensa propaganda anticomunista por parte da maior parte dos professores militares. Entre os professores civis, tinha um que era político de Olinda, membro do partido aliado da ditadura a ARENA. Na eleição de 1978, eu e alguns colegas já éramos eleitores, Jarbas Vasconcelos naqueles tempos fazia parte do campo da esquerda enfrentava dois candidatos do outro lado, eu e alguns colegas éramos seus eleitores, não me perguntem por que isso, que eu mesmo não sabia porque votava nele. Entre as pessoas que eu mais prezava, alguns eram irmãos mais velhos do meu melhor amigo, junto deles andavam pessoas que eram opositoras do regime militar, gente do movimento estudantil, um deles ultra esquerdista que até atentado sofrera dentro das instalações da UNICAP. Panfletários e arrochados demais viviam nos doutrinando acerca dos malefícios do regime dos generais, ouvi tanta ladainha dessa gente que terminei sendo catequizado, mas sem me envolver com militância.

Era proibido no colégio fazer proselitismo político por orientação do nosso comandante, um coronel PM liberal, que não via com bons olhos esse tipo de coisa. No colégio, lembro de um dia em que esse professorzinho de História do Brasil, um fascista, veio nos orientar a votar na ARENA pois o MDB era um partido de bandidos e cabras safados. Um colega nosso da cidade de Bezerros, cujo pai era político, justamente do PMDB, levantou aloprado dizendo: cabra safado e bandido é você, meu pai é um homem de bem seu filho da puta. Dizendo isso e partindo pra cima do cabra que cagou fino, chegou o direitista até chamar o sargento monitor para a sala, sendo o colega levado para justificar sua indisciplina diante do oficial que cuidava dessa parte. Em condições normais, o colega pegaria uma punição disciplinar, mas, em vista de que o professor também cometera um erro ainda mais grave, ficou o dito pelo não dito.

Minha admiração pela União Soviética vinha do fato de ser eu jogador de xadrez, os campeões mundiais da era áurea do xadrez eram soviéticos, era que se consolidou em 1948 com a vitória do meu ídolo Mikhail Botvinik, seguido de Vassily Smislov, Tigran Petrossian, Mikhail Thal, Boris Spasky. Meus livros de xadrez, a maior parte em espanhol, tinham muitas citações às virtudes do regime de “socialismo real” vivenciado pela “pátria do socialismo”. Por influência dos meus amigos vermelhos lá da Vila do IPSEP, comecei a ler O Pasquim, assim como os jornais clandestinos da imprensa nanica da esquerda.

Em 1979, fui convocado para servir o Exército Brasileiro, justamente no CPOR do Recife, muito a contragosto, mas, já que estava lá, dei um jeito de cumprir as obrigações de cidadão sem grandes turbulências, tanto que conclui meu serviço militar sem nenhuma punição disciplinar e classificado com segundo lugar da minha turma de aspirantes a oficial R2 da Arma de Engenharia. Foi um suplício, além da total falta de vocação para a vida da caserna, ter que agüentar por um ano e mais quarenta e cinco dias de estágio num batalhão em Natal a cantilena fascista dos meus instrutores e comandantes. Uns mais, outros menos, mas era um choque cultural enorme, ter tido dos meus 17 aos 19 anos uma vivência livresca que me fez pensar à esquerda e ser um opositor da ditadura militar, ter ouvir aquela doutrinação toda e ver colegas entrarem na onda dos milicos era cruel demais.

Em 1980, na UFPE cursando Matemática, caí intensamente nas leituras de Eduardo Galeano(As veias abertas da América Latina), Leo Hubberman (A história da riqueza do homem), O PASQUIM, os jornais dos partidos de esquerda (Tribuna Operária do PC do B) e uma publicação socialista Cadernos do Terceiro Mundo. Li também A Ilha (de Fernando Morais) assim como o Manifesto do Partido Comunista (Karl Marx). Lia isso às escondidas em casa, já que meu avô com quem eu morava, era um milico linha dura que serviu às ditaduras de Vargas e à ditadura de 64, pelo menos como seu entusiasta e simpatizante.

Em 1982, fui trabalhar como músico e diretor musical com um dramaturgo chamado Joacir de Castro, velho militante do Partido Comunista Brasileiro. Fora ele um dos militantes do extinto MCP (Movimento de Cultura Popular) que fora perseguido de desmontado pela ditadura militar. Era comunista aguerrido e sua dramaturgia era engajada, muitas vezes chegando a ser panfletária. Pelas suas mãos e dos professores do Centro de Educação da UFPE completei com as leituras da obra de Paulo Freire e Darcy Ribeiro minha adesão ao campo ideológico da esquerda.

Em 1985, morando fora de casa e trabalhando com um povo ligado ao PCB num grupo de teatro na Vila o IPSEP terminei virando militante do “partidão” durante cerca de um ano e meio, chegando a ser eleito secretário político da base da Vila do IPSEP. Amigos meus ligados os PC do B que viviam me chamando pro lado deles reagiram indignados com minha adesão a um partido revisionista de quem se declaravam inimigos, aliás como artista era cortejado e paparicado naqueles tempos pelas forças de esquerda. Esse ano de 1985 era ano de eleição e eu mergulhei fundo na campanha para prefeito de Roberto Freire que teve uma pífia votação de 3% dos votos, militei durante uma campanha eleitoral, não tive acesso ao processo de formação ideológica de quadros, na base do oba-oba da campanha.

Terminei dando razão aos colegas do PC do B, abandonando a militância no PCB, mas não aderi mais a nenhum partido de esquerda organizada. Não me adaptei às formas de relacionamento baseadas no “centralismo democrático”, a hierarquia partidária, o dízimo e a mesmice do pensar e do palavrório dos camaradas. Ser militante não era mesmo do meu feitio de ser e estar no mundo, mesmo assim permaneci fiel aos postulados de esquerda, passei a votar nos candidatos do PC do B a partir desses anos que se seguiram a 1986. Admirava sua coragem na luta armada na Guerrilha do Araguaia, além do fato do partido ser uma força monolítica, ao contrário do PT que desde a origem sempre foi uma miríade de tendências ideológicas, muitas vezes conflitantes e rivais entre si.

Vivi sete anos com uma militante da tendência stalinista que lutou no Araguaia, isso me fez conhecer de perto a militância e a cúpula comunista no Recife e Olinda, participar como voluntário em atos do partido, animando comitês eleitorais e festas para arrecadar fundos pras campanhas a deputado e vereador que se seguiram ao ano de 1990. Até 2000, permaneci simpatizante dos comunistas, testemunhei o desencanto com fim do sonho comunista com a queda do Muro de Berlim, assim como a verdadeira feição do último bastião comunista que lhes servia de paradigma: a Albânia, uma fraude social como tudo que ocorria no leste europeu, coisa que eles sempre negavam.

Em 2002 companheiros do PT ligados aos órgãos de cultura no Recife passaram a me convocar para trabalhos culturais. Fui num crescente sendo prestigiado para inúmeros projetos em música e cordel e nunca fui cooptado nem cobrado por eles para tomar parte em atividades eleitorais do partido. Os comunistas em 2004, somente na época de eleição, se lembraram da minha existência mandando suas correspondências convidando para inaugurar comitês, etc. Na lógica deles, a solidariedade deles é apenas com sua militância, as demais pessoas só existem nessas ocasiões, pelo menos em relação ao meu caso é assim, não falo pelas demais pessoas. Teve um deles que chegou a me perguntar desde quando eu me tornara “traidor do povo”, ao ver minha pessoa com um adesivo eleitoral do deputado Fernando Ferro. Eu disse : - desde quando Fernando Ferro que é aliado do seu partido em Brasília é uma traidor do povo? Um deputado dos mais combativos, inclusive na CPI do Narcotráfico? Nada me respondeu.

Em outra ocasião, em 2004, uma militante, candidata comunista a vereadora em Olinda me chamou pra tocar de graça no comitê dela. Eu disse que no mesmo dia e hora, uma sexta-feira,eu tocava num boteco e que se ela bancasse o cachê do bar eu animaria o comitê dela. Ela me perguntou desde quando eu me tornara mercenário. Eu estava em Olinda indo buscar meus filhos que moram com a mãe, que nesta hora se aproximavam de mim trazidos pela genitora deles. Eu apontei pros três que subiam a ladeira e disse: - Virei mercenário desde quando trepei duas vezes sem camisinha com aquela mulher ali e nasceram aqueles dois meninos.Esta moça ficou dialeticamente calada. Um terceiro deles me ameaçou recentemente com um paredão quando ri dos lamentos dele como o ocaso de Fidel Castro e que Cuba era o último sonho da Humanidade, eu ri mais ainda, pois o coitado é um alcoólatra decadente e não agüenta nem segurar um fuzil pra tomar o poder na luta armada e depois fuzilar a quem chamam de inimigos do povo no meio dos quais eu estou incluído agora. De pé ó vítimas da fome........ Trabalhar para a direita nunca fiz e nem pretendo fazer na vida, porém, trabalhar de graça para a esquerda como no tempo das vacas magras (deles é claro) nem pensar.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

CRISE IBÉRICA.



Estrofe do meu filho Eduardo Sales

E a Grécia gloriosa
Mãe de muitos pensadores
Se afunda na pobreza
Faz de idosos devedores
Renegando seu passado
Atira pra qualquer lado
Um real circo de horrores

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Feita a partir desta minha:

Portugal que foi potência
Caravela com canhão
Saqueou coisas no mundo
Promoveu a escravidão
O poder que fez com arma
Hoje vem pagar seu carma
Pobre com pires na mão

Alemanha muito rica
Reticente em ajudar
Teus escudos já não valem
Só reais de além mar
Índia livre com Mahatma
Tu só tens virgem de Fátima
Só Jesus pra te salvar

Espanhóis por outro lado
Não nos tratam muito bem
Achacando brasileiros
Que ali vão sem vintém
Como os lusos na proposta
Vão nadar na mesma bosta
Vão no cu tomar também Allan Sales
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OS PODERES E OS ARTISTAS

Se agora pede apoio
Quem fugiu por quatro anos
Vai ficar só com seus manos
Separei trigo de joio
Em você aqui de ôio
Vendo coisas que acontecem
Seus poderes que perecem
As verdades se devassam
Os poderes vem e passam
Os artistas permanecem

Não nasci pra ser escada
De traíra e demagogo
E no fim desse tal jogo
O povão dará sacada
Detonar toda cambada
O tão pouco que oferecem
O desprezo que merecem
As justiças que se façam
Os poderes vem e passam
Os artistas permanecem

Nem um jingle baratinho
Ou de graça na campanha
Sem conversa sem barganha
Sem cordel toques no pinho
Vou ali noutro caminho
Outras coisas que florescem
E vocês só aparecem
Quando a crises lhes transpassam
Os poderes vem e passam
Os artistas permanecem

Esse filme já vi antes
E bem sei como ele acaba
Onde o teto seu desaba
Onde findam seus rompantes
Aderentes bem falantes
Achará, pois acontecem
Mas depois desaparecem
Se vitórias já não grassam
Os poderes vem e passam
Os artistas permanecem

Direitosos esquerdistas
Salvadores da nação
Seu palanque onde estão
Teses tão salvacionistas
Demagogos e fascistas
As campanhas se aquecem
Cargos sim lhes apetecem
E por eles tudo traçam
Os poderes vem e passam
Cidadãos não, permanecem

Os canalhas: transitórios
O povão é permanente
Esse tem cara de gente
E vocês só falatórios
A fundar seus diretórios
Sem findar não arrefecem
Com poder se embevecem
E por ele sempre caçam
Os poderes vem e passam
Cidadãos não, permanecem

Vermelhinhos ou tucanos
Democrata que é patrão
Outro é social cristão
Outros são republicanos
Evanjegues mais insanos
Pedem votos e esquecem
Em Brasília acontecem
E a nossa batata assam
Os poderes vem e passam
Cidadãos não, permanecem

Arrochados moralistas
Ruralistas mais ferozes
Muitos lobos e algozes
Muitos são oportunistas
No poder sempre surfistas
Os que sobem os que descem
Mas nunca desaparecem
Seu bastão sempre repassam
Os poderes vem e passam
Cidadãos não, permanecem

Temos sim democracia
Bem melhor que ditadura
A miséria que perdura
Nossa santa hipocrisia
Passa bem a burguesia
Acham que tudo merecem
Pobretões se embrutecem
Os poderes lhes amassam
Os poderes vem e passam
Cidadãos não, permanecem

Eita que país escroto
Esse nosso em que vivemos
As elites que nós temos
Tem na mente um grande esgoto
Seu poder sempre maroto
Suas mídias que entorpecem
Esperanças não falecem
Detonar tudo que façam
Os poderes vem e passam
Cidadãos não, permanecem

Essa classe dirigente
Tão assim degenerada
De ganância desbragada
Meliante e renitente
Vou peitar ela de frente
Detonar ervas que crescem
Seus valores que apodrecem
Que as virtudes se refaçam
Os poderes vem e passam
Cidadãos não, permanecem

Dar um voto consciente
É melhor que branco ou nulo
E não ser qual mula e mulo
Dando uma de demente
Cidadão independente
Nada bom eles fornecem
E assim reaparecem
Como cobras que enlaçam
Os poderes vem e passam
Cidadãos não, permanecem

quinta-feira, 5 de abril de 2012

SEM PROJETOS DE PAÍS/ SÓ PROJETOS PESSOAIS



O Brasil capitania
Um Brasil de escravidão
Do açúcar produção
Cativeiro a tirania
O atraso e a porfia
Os castigos bestiais
Negros como animais
Repressões fortes viris
Sem projetos pro país
Só projetos pessoais

O Brasil ouro das minas
Prosseguiu na exploração
A manter vil condição
Das ganâncias mais ferinas
As senzalas tão suínas
Lucro de barões feudais
Tradições porcas demais
Que aplaudem pedem bis
Sem projetos pro país
Só projetos pessoais

O Brasil Pedro Primeiro
De império tresloucado
Negro ainda escravizado
No penar de um cativeiro
Todo traficar negreiro
As rotas comerciais
Os quilombos fraternais
Onde todos são zumbis
Sem projetos pro país
Só projetos pessoais

Outro Pedro imperador
Um Brasil em mesma via
Cativeiro e vilania
Sangue com suor e dor
O Brasil trabalhador
A chegar preso no cais
Para sendas laborais
Esta foi nossa matriz
Sem projetos pro país
Só projetos pessoais

O Brasil republicano
Sob a bota militar
Nada vem aqui mudar
De poder sempre tirano
Todo quadro desumano
Do poder dos marechais
Repressões que são gerais
Baionetas com fuzis
Sem projetos pro país
Só projetos pessoais

Trinta com revolução
Com Getúlio no poder
Velha fome a acontecer
Toda forma de opressão
Um Brasil de repressão
Dos poderes estatais
Caças de policiais
Sindicais estudantis
Sem projetos pro país
Só projetos pessoais

O Brasil João Goulart
Descambando em ditadura
Repressão cruel tão dura
Do regime militar
Perseguir e torturar
Comunistas como tais
Com as armas mais letais
Do poder força motriz
Sem projetos pro país
Só projetos pessoais

O Brasil da liberdade
Vai milico pro quartel
E Tancredo foi pro céu
Zé Sarney a autoridade
Collor foi temeridade
Itamar Fernando a mais
Lula com seus sindicais
E prosseguem mil ardis
Sem projetos pro país
Só projetos pessoais